63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 10. Educação Rural
ALGUNS ESPAÇOS DE FORMAÇÃO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA NO MT: FEIRA DE ECONOMIA SOLIDÁRIA - EXPERIÊNCIA DE COLÍDER - MT
Luciane Rocha Ferreira 1
Luiz Augusto Passos 2
1. UFMT
2. Prof. Dr./ Orientador- Depto Teorias e Fundamentos da Educação - UFMT
INTRODUÇÃO:
Esta discussão faz parte de estudos, leituras e reflexões realizadas durante uma pesquisa de Mestrado que coloca algumas experiências da Economia Solidária no Estado em evidência. É importante que se destaque que este Movimento Social ganha força no Estado de Mato Grosso a partir de 2003. Sua definição acompanha a dinâmica de seu desenvolvimento, está em oscilação sendo constantemente resignificada pelos atores que coletivamente a estão construindo. Em termos de conceitualização pode-se dizer que esta forma de organização é entendida como uma estratégia de enfrentamento aos processos de exclusão social e da precarização do trabalho que acompanham o desenvolvimento do capitalismo nos últimos dois séculos e conseqüentemente o empobrecimento gradativo dos setores empobrecidos. À luz da teoria popular de Paulo Freire, com postura dialético-fenomenológica, buscou-se em algumas experiências populares verificar os conteúdos, a organização e as vivências na perspectiva do percebido durante os espaços de Formação que acontecem nas Feiras de Economia Solidária. Neste trabalho compartilho a Feira de Economia Solidária de Colíder. Durante a Comercialização e as trocas de saberes essa formação acontece. Qual a dimensão social e econômico-política que estas ações podem produzir na realidade dos e das envolvidos/as?
METODOLOGIA:
A pesquisa é qualitativa fenomenológica, em diálogo constante com Paulo Freire e outros teóricos mais ligados aos estudos e práticas da Economia Social e Solidária no Brasil, como SINGER, BRANDÃO, e no Estado de Mato Grosso: ZART, CULTI, PASSOS, entre outros. A pesquisa tomou corpo à medida que a pesquisadora, sendo militante, se distanciou da dinâmica do dia-a-dia do movimento e pôde colocar à luz da teoria as vivências, as experiências e parte das sistematizações das Formações que eram praticadas em vários momentos pelos e entre os/as participantes, sendo as Feiras de Economia Solidária um destes espaços privilegiados. Foi possível se ter um considerável material que, de certa forma, conta uma parte da história deste movimento e da luta destes atores na experiência da dita Baixada Cuiabana e de algumas outras regiões do Estado que caminharam lado a lado durante este processo. Assim, a postura fenomenológica pode legitimar todo um olhar de dentro das complexas teias de significações que coexistem neste espaço subjetivo de construção, nos quais os aspectos objetivamente concretos do fazer e do acontecer, por vezes, ignoram.
RESULTADOS:
A Feira Cultural da Agricultura Familiar e Economia Solidária da Região Extremo Norte de Mato Grosso Território da Cidadania Portal da Amazônia-MT, aconteceu nos dias 17 e 18/12/2010, em Colíder, reuniu diversas associações e cooperativas de vários municípios com o objetivo de socializar a produção, trocar experiências e criar uma teia de relações entre os produtores de modo que um contribua com o desenvolvimento do outro por meio da ajuda mútua. As relações estabelecidas durante as oficinas de autogestão, marketing, composição de custos, empreendimentos culturais, comercialização e trocas solidárias evidenciaram que já existe uma estreita combinação entre os membros das associações, sindicatos e pastorais em virtude dos encontros anteriores e das oportunidades de vivências que foram viabilizadas pelo movimento em parceria com algumas prefeituras interessadas em promover a produção, distribuição e comercialização de produtos de boa qualidade por preços acessíveis, cujo retorno é creditado para o produtor. As pessoas envolvidas no evento acreditam que é possível uma nova economia, que a produção associada pode propiciar mais qualidade tanto nos produtos quanto nas relações e na vida das pessoas para a preservação ambiental e para a melhoria da qualidade de vida.
CONCLUSÃO:
No diálogo tecido desde a organização da Feira, que, na medida do possível, foi coletiva, é possível perceber que a linguagem utilizada pelos envolvidos se identifica com a proposta da economia solidária, já há uma cultura sendo delineada dentro de uma dinâmica maior que vem de encontro, mas que existe e resiste devido ao intenso desejo de “ser mais” dos militantes da economia solidária. Todas as oficinas, apesar dos temas distintos, convergiam para a necessidade de se resgatar o humano que existe em toda relação que envolve o homem com o homem e este com a natureza que o cerca. A expropriação da possibilidade do homem de usufruir os resultados do seu próprio trabalho, a perda da identidade e subjetividade que caracteriza a sua produção e a incorporação de uma atitude de individualismo e competitivismo que pode prejudicar a vivência em comunidade e a posição de parceiro e cooperador na busca de resultados comuns e solidários foram sendo colocadas na medida em que as reflexões iam sendo tecidas. A resignificação das práticas em virtude do que estava posto, considerando as reflexões, foi fundamental para que as vivências pudessem delinear um espaço, paulatinamente, mas gradativamente mais fraterno e solidário, sendo a organização vista como a chave para alcance das metas traçadas.
Palavras-chave: Economia Solidária, Formação, Organização.