63ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 4. Turismo e Hotelaria - 1. Fundamentos Teóricos
TURISMO, CULTURA E COMPLEXIDADE NA LAGOA DO ABAETÉ (SALVADOR/BA)
Orlando José Ribeiro de Oliveira 1,2,6
Marília Flores Seixas de Oliveira 3, 6
Clara Flores Seixas de Oliveira 4, 6
Gabriel Souto Pinheiro 5, 6
1. Prof. de Antropologia Cultural/ Depto. de Filosofia e Ciências Humanas - DFCH - UESB
2. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais - PPGCS/ UFBA
3. Profa. Dra./ Depto. de Filosofia e Ciências Humanas - DFCH - UESB
4. Graduação em Direito / Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB
5. Graduação em Engenharia Florestal/ Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB
6. Grupo de Pesquisa ‘Cultura, Ambiente e Sociedade: Linguagem e Design Social’ / CASLIDS (CNPQ / UESB)
INTRODUÇÃO:
O turismo, complexa atividade humana que coloca em confronto os desejos e as representações de mundo dos sujeitos envolvidos, evidencia-se como um fenômeno econômico, político, social e cultural significativo das sociedades capitalistas. Mobilizando mundialmente grandes fluxos de pessoas e de capital, o turismo tem marcado fisicamente os territórios de forma contundente ao criar e recriar espaços cada vez mais diversificados, produzindo impactos nos contextos socioambientais das localidades onde se estabelece. As formas de apropriação do lugar pelo modelo globalizado da economia do turismo têm produzido despersonalização cultural e não-lugares. Este trabalho aborda alguns aspectos críticos das interações e tensões entre Turismo, Território e Cultura, neste contexto, para explorar as condições e possibilidades de estabelecimento de um encontro genuíno e de diálogos transculturais entre as territorialidades dos sujeitos constitutivos do turismo, enquanto prática social coletiva. A discussão está ancorada nos aspectos empíricos da pesquisa sobre os impactos socioambientais e culturais do turismo na paisagem do Parque das Lagoas e Dunas do Abaeté, em Salvador (BA).
METODOLOGIA:
Como pensar a emergência de diálogos transculturais nas circunstâncias do turismo globalizado? A percepção da paisagem, que está no centro da atividade turística, constitui uma experiência subjetiva, conseqüência de uma interpretação singular do ambiente. Turistas e nativos, no confronto de territorialidades (e contextos culturais) distintas (nômades e sedentárias) enfocam aspectos diferentes do mesmo ambiente: enquanto o turista vivencia uma experiência fundamentalmente estética, o nativo aprecia seu próprio modo de vida. As etapas desta pesquisa envolveram análise e discussão de conceitos e fundamentos teóricos sobre o turismo e pesquisa de campo, com visitas ao Parque das Lagoas e Dunas do Abaeté, em Salvador, fundamental para a análise in loco dos resultados que o modelo de turistificação gerou na paisagem do Abaeté, considerando-se que a implementação deste processo datou de quarenta anos em 2010: no início da década de 70, a cidade da Bahia (Salvador), fazendo interagir processos locais e nacionais com o contexto internacional, se inseriu no circuito do turismo nacional como uma destinação cuja natureza turística do lugar assumiu uma configuração singular, em que se associam o mito de um mundo afrobarroco (a baianidade) e uma paisagem, a Bahia de Todos os Santos.
RESULTADOS:
A atividade turística implica um deslocamento no espaço (do trabalho para o do ócio) sendo uma das práticas sociais mais territoriais. Como transição, a viagem é o deslocamento fundamental do sujeito-turístico que o permite mudar de ‘mundos’: o percurso espaço-temporal da viagem dilui progressivamente as práticas de trabalho e evidencia as do ócio. Os territórios turísticos explicitam o confronto entre territorialidades diferentes, com implicações óbvias não só no contexto econômico, mas sobretudo na dinâmica sociocultural das interações que se estabelecem entre turistas e nativos, ameaçando a própria autenticidade e identidade do lugar, que está na origem da turistificação dos lugares e é o recurso turístico mais valioso. Discutindo o turismo frente ao pensamento da complexidade (com epistemologias de cunho multiforme, plural) e novos esquemas de pensamento (complexo/interdisciplinar/transdisciplinar), propõe-se postura transdisciplinar capaz de transpor limites disciplinares dos saberes e de superar limites dos paradigmas científicos particulares e da razão instrumental, buscando um conhecimento que possibilite novas abordagens fundadas em princípios éticos e na diversidade cultural, que não estará sistematizado em uma disciplina integradora de síntese, mas em eixos temáticos.
CONCLUSÃO:
Apesar dos estudos do turismo reunirem um conjunto sistematizado de conhecimentos em vários campos (Geografia, Economia, Sociologia, Antropologia, Comunicação, Psicologia etc.), dificilmente são percebidos e adotados de maneira entrelaçada ou relacional, que seja capaz de construir uma quadro amplo e total do fenômeno, discutido no geral a partir de conhecimentos compartimentados pelas disciplinas particulares. Nesta conjuntura, que revela a crise de paradigmas científicos, emergem anseios por reflexões capazes de reconstruir o todo fraturado pela racionalidade científica da modernidade capitalista (em que conhecer é quantificar, dividir, classificar, descobrir causas e efeitos, formular leis, propor modelos). Um dos problemas da prática interdisciplinar é a dificuldade de romper os domínios específicos de cada campo de conhecimento, impedindo o alcance de percepções mais complexas, não-reducionistas. Caso se consiga ultrapassar o esforço reparador da separação artificial das disciplinas, a interdisciplinaridade se configura, então, como uma possibilidade fecunda ao estudo do turismo, buscando-se um saber que possa superar as fronteiras disciplinares e construir compreensões transculturais.
Palavras-chave: Turismo, Cultura, Complexidade.