63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia |
A MATERNIDADE NO CONTEXTO DO HIV |
Vivian dos Santos Alves Matosinho 1 Regina Maria Barbosa 2 |
1. Bolsista de Iniciação Científica - Núcleo de Estudos de População - UNICAMP 2. Profa. Dra. /Orientadora - Núcleo de Estudos de População – UNICAMP |
INTRODUÇÃO: |
A maternidade é um fenômeno que ultrapassa a dimensão biológica, sendo histórica, cultural, social, estando sujeita ainda às influências de ordem política e econômica. É sob essa perspectiva e à luz das discussões sobre Direitos Reprodutivos no contexto da epidemia de Aids que o presente estudo busca entender o desejo e o processo de decisão de ter filhos por mulheres vivendo com HIV. A pesquisa tem como objetivos compreender a relação entre a condição sorológica para o HIV e o desejo de ter filhos e apreender os fatores que influenciam o processo de realização desse desejo. Neste trabalho serão apresentadas apenas algumas questões referentes a esse complexo universo. |
METODOLOGIA: |
Trata-se de um estudo qualitativo que se apóia na análise de conteúdo de entrevistas em profundidade realizadas com 19 mulheres, usuárias de serviços de saúde especializados em DST/HIV no município de São Paulo. A população do estudo foi composta por mulheres de estratos populares e médios, em sua maioria na faixa etária entre 25 e 49 anos, se auto-declaram brancas e pardas, não concluíram o ensino médio. Apenas quatro atingiram o nível superior, mas somente duas o completaram. A grande maioria tinha parceiro fixo e apenas duas moravam com esses parceiros. Com relação ao número de filhos, pouco mais da metade das mulheres tinha entre 1 e 2 filhos, 6 mulheres haviam tido 4 ou mais filhos e apenas 3 não tinham tido filhos até a entrevista. O tempo de diagnóstico se situou entre 5 e 19 anos, ou seja não foram entrevistadas mulheres com diagnóstico recente. O estudo tem como principais referenciais teóricos o conceito de direitos reprodutivos e de gênero. Tendo em vista esses referenciais a analise do material foi organizada em torno de um marcador importante na vida dessas mulheres: o diagnóstico da infecção pelo HIV. |
RESULTADOS: |
A partir da análise do material foram construídas categorias articuladas: uma relacionada ao significado da maternidade que se desdobrou nas categorias “maternidade como decisão” e “maternidade como destino” e a outra referente ao desejo de ter filhos. As categorias construídas nos conduziram a olhar a trajetória reprodutiva dessas mulheres como um todo e com isso foi possível constatar que a gravidez, em quase todos os momentos, inclusive no contexto do HIV, não foi desejada, nem planejada, mas nem por isso foi evitada. No processo de tomada de decisão frente à gravidez não planejada vários fatores se mostraram importantes. O HIV mostrou-se impactante, mas não decisivo e sim o contexto de vida, como também tem sido ressaltado na literatura sobre o tema. Dentre as principais razões que se destacaram no processo de decisão de levar ou não a gestação a termo foram: presença de parceiro adequado, questão de ordem religiosa e espiritual, existência e acesso às terapias antirretrovirais, a qualidade do atendimento nas instituições de saúde e o acesso a informação sobre a transmissão vertical ao lado de outros fatores relacionados à saúde. |
CONCLUSÃO: |
As contradições nos relatos e a complexidade das situações narradas nos revelaram que há muita mais uma continuidade em termos de padrões de comportamentos do que uma ruptura no que se refere à dimensão sexual e reprodutiva no contexto do HIV e esse apesar de trazer questões específicas mostrou-se muito mais um “potencializador” de conflitos e dilemas já existentes no fenômeno da maternidade. Este trabalho, pautado no conceito de direitos reprodutivos, aponta para a necessidade de serem melhor trabalhadas no âmbito das instituições de saúde e das políticas públicas as questões referentes ao desejo e à decisão reprodutiva, principalmente em relação às mulheres HIV+ para que elas possam exercer os seus direitos com autonomia e segurança, na medida em que se constatou que a maioria delas não desejaram, planejaram e nem evitaram suas gravidezes. |
Palavras-chave: Maternidade, HIV, Direitos Reprodutivos. |