D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva |
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A DESINSTITUCIONALIZAÇÃO DO PORTADOR DE TRANSTORNO MENTAL: impactos sobre a família |
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Lannuzya Veríssimo e Oliveira 1 Lívia Sales Cirilo 1
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1. Universidade Estadual da Paraíba
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INTRODUÇÃO: |
A loucura freqüentemente tem sido associada ao anormal, contudo, a forma como esta é percebida sofreu modificações através dos tempos. No período em que as internações psiquiátricas eram consideradas um tratamento obsoleto na Europa, os doentes mentais brasileiros permaneciam trancafiados em manicômios. Com a Reforma Psiquiátrica, que começou a reivindicar a substituição do modelo manicomial por uma rede de serviços territoriais de atenção psicossocial a família, antes excluída do cuidado de seu familiar, torna-se ativa nesse processo. Atualmente, preconiza-se a diminuição da oferta de leitos hospitalares e a criação de serviços substitutivos de atenção à saúde mental deslocando os tratamentos para o interstício das dinâmicas familiares. Sabe-se que o cuidar de um portador de transtorno mental não se constitui em tarefa fácil, por tal motivo, surge a necessidade de investigar os impactos gerados nas famílias dos portadores de transtorno metal, após a desinstitucionalização. Os objetivos desse trabalho foram compreender o significado do cuidar do portador de transtorno mental para familiares e identificar junto aos participantes da pesquisa quais as dificuldades/facilidades encontradas durante a sua relação com o seu familiar após a reinserção deste no âmbito família |
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METODOLOGIA: |
O presente estudo é do tipo explorativo-descritivo com abordagem qualitativa. A pesquisa foi realizada na Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) de Caboclos, localizada na zona rural do município de Barra de Santana, Paraíba, entre os meses de dezembro de 2010 a fevereiro de 2011. Para coleta de dados foram utilizados: um questionário sócio-demográfico, composto por questões referentes a idade, sexo, grau de escolaridade, renda familiar, religião e estado civil e um roteiro de entrevista semi-estruturada. A amostra contou com doze familiares de portadores de transtornos mentais com histórico de internação psiquiátrica que residem na área de abrangência da UBSF. As entrevistas foram realizadas em domicilio e gravadas na íntegra, os participantes foram convidados a participar do estudo após uma explicação sobre o objetivo da pesquisa. Foi assegurado que suas identidades seriam mantidas em sigilo. O Projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba e os termos de consentimento livre e esclarecido foram assinados, assim todos os critérios da resolução 196 foram obedecidos. A análise dos dados se procedeu de acordo com análise de conteúdo de Bardin( 1977). |
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RESULTADOS: |
Constatamos que os familiares responsáveis pelo cuidado eram predominantemente do sexo feminino ( 92%) com idade entre 60 e 69 anos ( 45%), casados (47%), com o ensino fundamental incompleto (74%), católicos (81%) e aposentados(58%), sendo (45%) mães e (30%) irmãs. Quatro categorias temáticas foram caracterizadas como dificuldades no lidar com os pacientes outrora institucionalizados: (i)Angústia pela Impossibilidade da Cura: A expectativa frustrada de cura é referenciada em 53% das falas, sendo implícita a esperança que os pacientes regressariam sãos; (ii) A triste sorte de cuidar sozinho: Em 37% das entrevistas foi citada a sobrecarga de trabalho exigido ao cuidador que impossibilita a execução das demais atividades cotidianas, destes 23% relatam que começaram a usar ansiolíticos devido ao stress que envolve sua nova função ; (iii)Onde como um Não come dois: 30% das entrevistas denunciam as carências materiais como fator negativo nesse processo ; (iv) A não aceitação da doença: 15% dos familiares não compreender os sintomas de seus familiares. Há ainda uma última categoria em que foram comportados os discursos favoráveis a desinstitucionalização (v) Felicidade pelo regresso!: Em 50% das entrevistas familiares relatam a alegria de ter seus filhos/irmãos/conjugues de volta. |
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CONCLUSÃO: |
O presente estudo demonstrou que várias são as dificuldades percebidas pelos familiares dos pacientes com transtorno mental quanto ao cuidado que lhes é incumbido. Sejam questões oriundas da própria patologia como a instabilidade no humor e a cronicidade da doença, como também por dificuldades sociais vivenciadas pelas famílias dado que a amostra está inserida em um contexto social desfavorável, elenca-se também, como fator de insatisfação a sobrecarga de responsabilidade, que em sua maioria recai sobre um único membro da família. Há, porém, familiares que dão a desinstitucionalização de seus parentes um significado positivo, compreendendo esse processo como uma conquista de cidadania. Entretanto, se não é mais aceitável estigmatizar, excluir e recluir os portadores de transtorno mental também não se pode reduzir a reforma psiquiátrica à devolução destes às famílias, como se estas fossem, indistintamente, capazes de resolver a problemática da vida cotidiana acrescida das dificuldades geradas pela convivência, pela manutenção e pelo cuidado com o portador de transtorno mental. Portanto, evidencia-se a necessidade de estudos mais aprofundados acerca deste tema, bem como discussão, desenvolvimento e implementação de políticas de cuidado destinada aos cuidadores. |
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Palavras-chave: Reforma Psiquiátrica, Transtorno Mental, Família. |