63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 7. Etnologia Indígena |
AKWẼ HOMWASKUZE: HISTÓRIA E HISTÓRIAS PARA O POVO XERENTE |
JOSÉ SOUSA SILVA 1 ODAIR GIRALDIN 2 |
1. Universidade Federal do Tocantins 2. Universidade Federal do Tocantins |
INTRODUÇÃO: |
A história do povo indígena Xerente é contada pela sociedade não-indígena apenas a partir do século XVIII, através dos registros escritos dos bandeirantes, mineradores e evangelizadores. Assim, na História do Brasil, a história indígena passa a ser contada depois do contato com os “brancos”, portanto apenas a partir do ponto de vista dos conquistadores. Porém, é importante ressaltar que os Xerente contam sua experiência histórica em sua ótica, narrando de forma particular fatos, elementos e significados desde tempos remotos. Cada povo tem suas histórias, suas historicidades e suas formas particulares de transmiti-las. Para Leach (1982) “todas as sociedades humanas, grandes ou pequenas, elaboradas ou simples, têm suas histórias tradicionais”. Assim, tanto a sociedade não-indígena quanto a indígena tem suas histórias e suas formas de contá-las. Porém as sociedades consideradas mais “elaboradas” (dominantes) se autorizam a contar as histórias das demais, contando-as a partir de sua concepção de história e de seus valores. Assim, o propósito do presente trabalho é analisar a versão histórica tanto na ótica da sociedade não-indígena quanto na da sociedade Xerente sobre as experiências históricas destes, apresentando a sua versão como uma das versões válidas. |
METODOLOGIA: |
A base metodológica deste trabalho se constitui na compreensão da versão que a “sociedade brasileira”, não-indígena tem sobre a história do povo Xerente, através da leitura de obras produzidas sobre o referido povo como as dos seguintes autores: Farias (1990), Silva (2006), Paula (2000), Giraldin (2002) e Oliveira-Reis (2001). Bem como a leitura de obras de fundamentação teórica de autores como Sahlins (2003) e Oliveira (2000). As obras foram lidas, fichadas, compreendidas e interpretadas. Busca-se também compreender a versão que os Xerente têm de sua própria história. Isso foi possível através de trabalho de campo, no qual se estabeleceu diálogos, principalmente, com os anciãos das aldeias, sobre as histórias Xerente, na sua própria ótica. |
RESULTADOS: |
A história do povo Xerente, presente em Farias (1990), Silva (2006), Paula (2000), Giraldin (2002) e Oliveira-Reis (2001), baseia-se em fontes históricas “tradicionais”: documentos arquivísticos, jornais, revistas. Nela não se tem as versões elaboradas pelos Xerente sobre sua história. Para este trabalho foram ouvidos três anciãos sobre três histórias Xerente: a história sobre o contato com os não-índios, sobre as relações com outros povos indígenas e sobre o surgimento dos clãs. Na primeira os Xerente relatam que as relações sociais entre eles não eram amistosas e que os conflitos aconteciam porque os “brancos” estavam invadindo e explorando as suas terras. Na segunda, falam mais sobre os Xavante. Relatam que antigamente aconteciam conflitos entre eles, embora se considerassem “parentes”. Na terceira, os estudos de Nimuendajú em 1937 indicam que originalmente na sociedade Xerente existiam seis clãs. Krêmprehí, Ĩsauré e Ĩsrurié (metade Sdakrã, hoje Doi) e Kuzé, Ĩxbdú e Kbazipré (metade Siptató, hoje Wahirê). A estes se adicionaram os clãs Krozaké (na metade Sdakrã) e Prasé/Krito (na metade Siptató). Concordando em partes com Nimuendajú, os Xerente atuais não reconhecem, entretanto, os nomes dos clãs: Ĩxbdú, Ĩsauré e Ĩsrurié. |
CONCLUSÃO: |
O Brasil é um país rico em diferenças culturais. Porém, essa riqueza não é valorizada. Neste país existem as culturas do povo português, italiano, japonês, norte-americano, angolano, e, sobretudo, dos vários povos indígenas brasileiros (inclusive o Xerente); povos que descendem dos primeiros habitantes do Brasil. Apesar disso, as culturas indígenas são pouco lembradas pela sociedade não-indígena. Muitas vezes procura-se esquecer que se tem no sangue e na cultura características intrínsecas provenientes dos índios. Isso pode ser verificado através do pouco conhecimento que, por exemplo, os “cidadãos” tocantinenses em geral têm sobre os povos indígenas do estado, inclusive sobre o povo Xerente. Os trabalhos acadêmicos produzidos sobre este povo são poucos e aqueles existentes mostram a versão dos “brancos” em detrimento da dos índios. Os povos indígenas também são sujeitos históricos, embora não sejam reconhecidos como tal pela sociedade não-indígena. Eles não merecem ser esquecidos. Ao contrário, eles merecem ser ouvidos e respeitados por ter uma experiência milenar de convívio na parte territorial que é hoje o Brasil. Este trabalho procurou mostrar que os Xerente têm uma versão de sua história e também que a versão histórica ocidental não é a única verdadeira ou válida. |
Palavras-chave: História, Xerente, Cultura. |