63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE SOCIAL MATO-GROSSENSE NO CONTEXTO DOS LIVROS ESCOLARES DE MATO GROSSO (1900-1930)
Aparecido Borges da Silva 1
Vivian Cristina da Silva Bispo 1
Nicanor Palhares Sá 2
1. Instituto de Educação, Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT
2. Prof. Dr./ Orientador – Depto. de Teoria e Fundamentos da Educação - IE/UFMT
INTRODUÇÃO:
Período de transição de regime político e de rearranjo de poder, a República Velha (1889-1930) foi marcada como um momento de construção de novos referenciais de nação e de região no Brasil. Em Mato Grosso, as elites locais travaram acirradas disputas pelo poder de mando sobre as instituições político-administrativas e, principalmente, sobre a identidade social que se deveria preservar. Neste contexto, o presente trabalho busca demonstrar como os livros escolares que versavam sobre a História de Mato Grosso, produzidos no período da República Velha, foram importantes para moldar a memória coletiva do povo mato-grossense. Entre 1900 e 1930, deu-se o início da produção das primeiras grandes obras destinadas à formação de uma identidade social mato-grossense. A busca por fortalecer o sentimento de pertencimento, enfatizando a importância histórica de Cuiabá e Mato Grosso, culmina na produção do Álbum Gráfico do Estado de Mato Grosso (1914), considerada a principal obra destinada à construção da memória histórica mato-grossense na época.
METODOLOGIA:
Para a realização deste trabalho adotou-se como metodologia o levantamento e a análise crítica das fontes disponíveis nos arquivos das mais antigas escolas do estado, no acervo do Arquivo Público de Mato Grosso (APMT) e os documentos e obras do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso (IHGMT). Além destes, utilizaram-se os censos populacionais, os relatórios de Presidentes de Províncias, Diretores e Inspetores da Instrução Pública, as Legislações e Jornais da época, disponíveis no acervo do Grupo de Pesquisa “Historia de Educação e Memória” do Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso (GEM/IE/UFMT). Por fim, procedeu-se a análise crítica do Álbum Gráfico do Estado de Mato Grosso, livro publicado em 1914, que embora não tenha sido usado diretamente em sala de aula, norteou boa parte da produção didática de História de Mato Grosso nos anos seguintes.
RESULTADOS:
A pesquisa demonstra que, em Mato Grosso, a República abriu uma espécie de vácuo de poder, que logo gerou luta intensa pelo mando local, na qual as facções da elite se utilizaram amplamente de bandos armados para se firmarem no poder. Porém, a força das armas não se fez suficiente para governar o povo mato-grossense. Construir uma memória coletiva que convencesse os mais amplos setores da população da uniformidade dos destinos tornou-se dura estratégia para a manutenção do poder com os grupos privilegiados. Nas palavras de Michael Pollak, “a memória e a identidade são valores disputados em conflitos sociais e intergrupais, e particularmente em conflitos que opõem grupos políticos diversos”. Neste contexto, em Mato Grosso, destaca-se o Bispo Dom Francisco de Aquino Corrêa, governador do estado entre os anos de 1918 e 1922, no papel de conciliar os conflitos oligárquicos e de valorizar a memória histórica regional: “uma vez que somos um só povo, nascido e medrado ao sorriso dos mesmos céus e das mesmas terras, uma só família”. Assim, a identidade que se pretendeu construir era entendida como uma situação de existência coletiva caracterizada pela vivência de muitos momentos históricos e que se expressa pelo sentimento de pertencimento e referência grupal comum.
CONCLUSÃO:
No início do século XX, a busca de um novo ideal de nacionalidade, vinculado aos símbolos republicanos que começavam a se delinear no Brasil, além de construir a República enquanto instituição política e administrativa, promoveu a construção de novos referenciais de pertencimento que vinculavam o passado do país àquele novo momento histórico. Na mesma época, em Mato Grosso, as elites cuiabanas, no intuito de construir uma identidade regional, colocaram-se como herdeiras e descendentes dos heróis do passado brasileiro; defensoras da fronteira e da integridade do território nacional. Povo corajoso, audaz, únicos capazes de empreender a “dura tarefa” de levar o progresso ao estado de Mato Grosso, e principalmente a região entorno de Cuiabá; donos, então, do modelo de identidade mato-grossense que se pretendia construir. Para isso, produziram-se monumentos, símbolos e festividades cívicas que pudessem ser ensinado nas instituições escolares e disseminado nos demais segmentos sociais: imagens determinadas do passado que passariam a fazer parte das estruturas do imaginário coletivo mato-grossense.
Palavras-chave: Livro escolar, Identidade Social, Memória Coletiva.