63ª Reunião Anual da SBPC |
F. Ciências Sociais Aplicadas - 3. Economia - 1. Crescimento, Flutuações e Planejamento Econômico |
A ECONOMIA AMERICANA NA ÚLTIMA DÉCADA E SUA EVOLUÇÃO PÓS-CRISE |
Vanessa de Lima Avanci 1 Marco Antonio Tavares Loureiro 1 Rafael Venturini Trindade 1 |
1. Depto. de Ciências Econômicas - Universidade Federal do Espírito Santo |
INTRODUÇÃO: |
A recente crise foi certamente a mais severa para a população americana pelo menos desde 1982-1983. Entre 2007 e 2011 o número total de pessoas desempregadas se elevou em quase sete milhões e, a despeito da retomada econômica ocorrida em 2010, o indicador mensal de desemprego (taxa média de 4,6% em 2007) diminuiu lentamente desde outubro de 2009 (quando atingiu o pico de 10,1%) e fechou o último dezembro em 9,4%. Por outro lado, os efeitos da crise não alteraram significativamente a tendência de elevação da participação do Consumo Privado na demanda agregada e tampouco a magnitude do Gasto Público americano – mesmo com os pacotes de recuperação do governo Obama. O Consumo representava 64,44% do PIB em 1985 e atingiu 70,61% em 2010. O Gasto, por sua vez, tem respondido por aproximadamente um quinto do PIB desde 1970 e a proporção entre suas categorias (Despesas de Consumo e Investimento Bruto) sofreu pouca alteração no período (correspondendo a cerca de 82,5% e 17,5%, respectivamente). O presente artigo investiga os elementos determinantes para esse comportamento dos agregados referidos no período de 2000 a 2010 e tece breves considerações prospectivas sobre a economia americana. |
METODOLOGIA: |
A seleção das variáveis Consumo Privado e Gasto Público para a análise da economia americana no período em apreço se baseou em uma análise prévia da composição da demanda agregada do país pela ótica do dispêndio, com o aporte dos dados fornecidos pelo U.S. Bureau of Economic Analisys (www.bea.gov). Em seguida, foi realizado um estudo comparativo dos agregados escolhidos em relação a evolução do emprego, dos salários reais e da disponibilidade de crédito durante a última década. Os dados sobre o mercado de trabalho e salários foram coletados do U.S. Bureau of Labor Statistics (www.bls.gov) e do Economic Policy Institute (www.epi.org), os relativos ao gasto militar mundial do Stockholm International Peace Research Institute (www.sipri.org) e o Federal Reserve Board (www.federalreserve.gov) forneceu as informações referentes ao fluxo de empréstimos e endividamento pessoal. Ademais, a análise foi subsidiada pelos seguintes trabalhos: BEATON, K. “Credit Constraints and Consumer Spending”, Bank of Canada, 2009; FOSTER, J. “The Household Debt Bubble”, Monthly Review, v. 58, n. 1, 2006; HUERTA, A. “La actual crisis crediticia y la recession en EUA: algunos elementos sobre sus causas, efectos y profundidad”, 2008. |
RESULTADOS: |
Como aponta Huerta (2008), a perda da competitividade produtiva dos EUA na última década frente aos demais países contribuiu para que seu setor manufatureiro não acompanhasse o crescimento mundial pré-crise. Nesse sentido, o estoque de empregos na manufatura foi reduzido em mais de três milhões de postos entre 2001 e 2007 enquanto setores como o de serviços financeiros (que representa apenas metade das vagas do primeiro) obtiveram crescimento. Assim, ao observar, por exemplo, que a taxa de desemprego na produção industrial chegou aos 14,7% em 2009 – taxa somente inferior aos 19,7% da construção civil – ressalta-se que a crise apenas intensificou as dificuldades estruturais da economia americana. E essas últimas também se refletem nas bases do Consumo Privado. Entre 2000 e 2010, em face da redução do salário real médio o crédito ao consumidor desempenhou um papel crucial na sustentação dos níveis do Consumo através do expressivo endividamento familiar (114% da renda disponível entre 2005 e 2008). Sem embargo, a fragilidade dessa dinâmica é patente: o crédito ao consumidor ainda apresenta um desempenho fraco pós-crise. O crédito rotativo, um indicador das expectativas econômicas dos consumidores, se reduziu de US$ 973,64 bi em agosto de 2008 para US$ 795,46 bi em janeiro de 2011. |
CONCLUSÃO: |
A diminuição no volume de empréstimos concedidos e contraídos indica a extensão que os impactos da crise ainda podem ter sobre o Consumo dos EUA. A ocorrência de uma restrição aguda no crédito ao consumidor poderia trazer enormes dificuldades para a recuperação do PIB, uma vez que em períodos de maior incerteza econômica a sensibilidade do Consumo em relação à escassez do crédito se eleva (BEATON, 2009). Quanto aos Gastos, a despesa Federal tem se expandido ante as demais esferas (Estadual e Local) de maneira substancial desde o governo Bush. Entre 2000 e 2004 ela já correspondia a mais de um terço do total dos Gastos e em 2010 atingiu 40,5% desse valor. Pelo menos desde 1969 cerca de 70% dos Gastos Federais é destinado a defesa nacional e, de fato, o 11 de Setembro inicia uma clara retomada do gasto militar em relação ao PIB. Desde 2001 esse índice se elevou em 1,76 p.p., alcançando 5,58% em 2010. Em uma perspectiva global, dados do SIPRI mostram que os EUA continuam tendo a maior participação no gasto bélico mundial (25,28% em 2007, 27,79% em 2008 e 31,5% em 2009) com uma forte tendência de alta. Portanto, a economia norte-americana enfrentará sérios dilemas para lograr sua recuperação sustentada, seja via Consumo ou Gasto Público. |
Palavras-chave: Estados Unidos, Crise, Demanda Agregada. |