63ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 4. Jornalismo e Editoração
Jornalismo em revista: porque a objetividade não é o principal elemento conferidor da credibilidade
Luana Meneguelli Bonone 1
1. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
INTRODUÇÃO:
Em seu estudo sobre objetividade como ritual estratégico dos
jornalistas, Gaye Tuchman (1993), em nota de rodapé, levanta a
seguinte questão “Será que os rituais estratégico aumentam a
credibilidade dos artigos noticiosos?”. Esta foi a pergunta que suscitou
este trabalho.
Este estudo tem, portanto, o objetivo de clarear a relação existente
entre a objetividade jornalística e a credibilidade de um veículo de
comunicação, tendo por objeto empírico a reportagem de capa da
revista Veja (26/01/03) sobre a Reforma Universitária proposta pelo
Governo Lula: "O grande salto para trás".
A escolha da reportagem se deu pela afinidade e conhecimento do
tema da Reforma Universitária por parte da autora deste trabalho. A
escolha da Revista Veja foi pela sua relevância no cenário da imprensa
nacional. Revista de maior tiragem do país, com opiniões contundentes
acerca das questões que permeiam a política nacional e com grande
poder de influência sobre a opinião média.
METODOLOGIA:
Fizemos uma revisão de diversas teorias sobre a produção jornalística,
com atenção especial à teoria da agenda-setting ou “agendamento”,
por tratar especificamente da influência do jornalismo sobre a pauta
pública.
No primeiro capítulo, procuramos esclarecer os conceitos de
objetividade, credibilidade e hegemonia. O conceito de hegemonia
utilizado foi o de Antônio Gramsci, e o consideramos importante
porque o estudo tem como pano de fundo o debate a respeito da
influência dos meios de comunicação de massa sobre a agenda pública
e o curso da política e da vida social do país. Já o conceito de
credibilidade apresentou-se como um desafio, pela pouca bibliografia
encontrada, e talvez uma importante contribuição deste trabalho seja
justamente a tentativa de estabelecê-lo.
No segundo capítulo, traçamos um histórico do surgimento e
consolidação do veículo Veja, revista semanal de maior tiragem no
Brasil. Desde o seu surgimento enquanto elemento de novidade, de
modernidade da Editora Abril, até a sua consolidação enquanto
produto mais lucrativo da família Civita. Para tanto, discorremos sobre
o surgimento da indústria cultural no mundo e no Brasil, e tratamos
também da relação do veículo Veja com os governos militares.
No capítulo três analisamos o uso de objetividade na reportagem-
objeto.
RESULTADOS:
A matéria “O grande salto para trás” não respeita nenhum dos critérios
de credibilidade apresentados pelos diversos autores abordados neste estudo. Entretanto, a revista Veja mantém credibilidade junto às
diversas instituições que compõem a sociedade brasileira. Isto
ocorre porque o conceito de credibilidade trabalhado neste
estudo demonstra a existência de diversos outros fatores –
presentes na revista Veja –, afora a objetividade do texto
jornalístico: fontes oficiais (ou de renome), técnicas redacionais
que conferem aspecto de objetividade (diretas, sem “nariz de
cera”), inovações tecnológicas do produto Veja, a própria
credibilidade atribuída à imprensa no Brasil, entre outros.
Com a utilização desses fatores, o veículo conquistou um público
cativo logo nos anos de seu surgimento. Entretanto, as técnicas
de apuração e de exposição dos fatos conforme as descritas por
Tuchman (1993) como rituais estratégicos na busca da
credibilidade jornalística, não são uma constante no texto
tomado por objeto desta pesquisa. Entretanto, a revista
permanece com uma das maiores tiragens do país e possui
anunciantes o suficiente para permanecer como o
empreendimento mais lucrativo da Editora Abril, além de ser
elemento importante à formação da opinião de milhares de
brasileiros (público leitor).
CONCLUSÃO:
Chegamos à seguinte resposta à pergunta de Gaye Tuchman: se
as técnicas de busca pela objetividade jornalística descritas por
Tuchman ajudam na conquista da credibilidade, certamente não
o fazem de forma direta, pois o público leitor nem sempre é
capaz de perceber a presença destas técnicas no produto notícia.
Além do mais, o público leitor tende a ser fiel a uma publicação
que contemple sua forma de entender o mundo e que traga
outros elementos conferidores de credibilidade, que não a
objetividade jornalística.
Concluímos que a revista Veja desafia o contrato fiduciário
proposto por Guerra (1998) e assume ao máximo o “Poder
Moderador” conceituado por Albuquerque (1999),
desconsiderando por completo qualquer critério identificado por
Tuchman (1993). Com o objetivo de atingir público cada vez mais
abrangente, Veja especializou-se em reforçar a ideologia
hegemônica, os conceitos e preconceitos correntes no senso
comum. Dessa forma, seu discurso é naturalmente aceito por boa
parte da sociedade brasileira que constitui seu público leitor. Este
reforço de conceitos, ao que parece, funciona como um sistema
de retroalimentação do senso comum, assunto que pretendemos
desenvolver em estudo posterior.
Palavras-chave: jornalismo, credibilidade, comunicação.