63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 7. Etnologia Indígena
A Batalha de Kuruyuki
Wildes Souza Andrade 1
Izabel Missagia de Mattos 2
1. Autor. Licenciando em Ciências Sociais na UFG, professor substituto na SECTEC-GO.
2. Orientadora. Doutora em Ciências Sociais pela UNICAMP, professora adjunta na UFRRJ.
INTRODUÇÃO:
O que significa a Batallha de Kuruyuki, isto é, a Revolta Chiriguana, na
literatura sobre os povos indígenas do Chaco? Uma breve excursão nos textos
encontrados me leva a considerar que existem vários significados que são, à
primeira vista, inconciliáveis. Neste artigo, discuto a Batallha de Kuruyuki,
enquanto rebelião indígena do século XIX, como ponto de partida para uma
exploração dos seus significados no contexto da construção do Estado
boliviano e da emergência de um movimento indígena na área etnográfica do
Chaco.
Os movimentos indígenas de rebeldia indígena da Bolívia ocorridos no
século XIX, a exemplo a Batalha de Kuruyuki, podem ser interpretados a partir
das relações políticas do Estado boliviano em constituição com as etnias. Este
artigo destina-se ao exame dos significados construídos pelos textos
acadêmicos, comparando os vários discursos já realizadas sobre a Revolta
Chiriguana.
Abordo a Batalha de Kuruyuki de 1892 como rebelião indígena dos
Chiriguanos do Chaco boliviano no contexto da colonização da América Andina
baseado primordialmente no estudo de Isabelle Combès (2005a). Ainda, para
que possa ser analisada a especificidade da Batalha, parto da concepção da antropologia histórica de que os contextos históricos fornecem elementos
importantes para a configuração de teias de significados (Oliveira Filho, 1999).
METODOLOGIA:
A discussão do tema proposto só foi possível a partir da aproximação
entre a antropologia e a história, uma vez que esta relação propicia
interpretações alternativas, que nos fornecem elementos decisivos para a
problematização de perspectivas equivocadas sobre a condição indígena. A
etno-história ou antropologia histórica compreendem os indígenas como
protagonistas de suas próprias histórias, mesmo em situações desfavoráveis,
fazendo suas escolhas e a estabelecer estratégias etno-políticas próprias
(MISSAGIA DE MATTOS, 2004). Nas interpretações ocidentais da existência
indígenas, a ação política indígena, muita das vezes, se opõe à narrativa de
desaparecimento e de destruição que majoritariamente privilegiou a visão do
colonizador e que dominou os estudos a cerca das sociedades indígenas na
América Latina.
A opção metodológica do meu plano de estudo consiste basicamente no
estudo da temática a partir de fontes secundárias, ou seja, o referencial
bibliográfico coletado sobre os estudos tupinológicas (VIVEIROS DE CASTRO,
1986) das terras baixas – o povo Chiriguano e sua revolta no século XIX.
RESULTADOS:
Sistematizo quatro tópicos a título de resultado: 1) a
Batalha de Kuruyuki apreendida como uma rebelião indígena no contexto da
construção do Estado-nação da Bolívia; 2) a manipulação histórica da Batalha
de Kuruyuki por parte pesquisadores; 3) a Batalha de Kuruyuki pertencente a
uma conjuntura histórica específica - a área etnográfica do Chaco; 4) a
ressignificação política da Batalha de Kuruyuki pelos Chiriguanos
contemporâneos.
Os resultados demonstram uma variedade de discursos a cerca da
Batalha, sendo que, centrei-me mais nas experiências globalizantes do que
propriamente numa possível descrição etnográfica da revolta. Kuruyuki foi uma
rebelião dentre várias que ocorreram na região etnográfica do Chaco. A
importância das abordagens globalizantes - ao fomentar possíveis articulações
entre eventos similares em regiões remotas e eventos específicos de uma
região etnográfica -, conferem significados mais amplos e complexos aos
estudos (ALMEIDA, 2007). Por último, considerei a percepção indígena da
Batalha como indicador de um discurso de etnificação, útil ao movimento
indígena – a Assembléia do Povo Guarani (APG). Com a APG os Chiriguanos
emergem no cenário político boliviano como nação, sobre a base do discurso
étnico (COMBÈS, 2005a, 2005b).
CONCLUSÃO:
Ao fim, considero que a Batalha de Kuruyuki se insere num contexto de
colonização e de transposição de ideias ocidentais na América Latina, a dizer:
a constituição de um Estado Nacional boliviano. O processo de
homogeneização da colonização, isto é, a eliminação das alteridades, é
ineficiente na tentativa de transformar todos os ´nativos` em ocidentais.
Pensar que o chiriguano pode ser também o pankararé, o berberé, o
zapoteco, enfim, todos que reagiram às ofensivas capitalistas e à
cristianização. Um ponto em comum desses povos tem a ver com as múltiplas
formas de responder o processo de ocidentalização imposto.
Palavras-chave: Chiriguano, Batalha de Kuruyuki, Rebelião Indígena.