63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 5. História - 8. História Regional do Brasil |
FALAS E SILÊNCIOS NA FORMAÇÃO DE RONDÔNIA: A CRIAÇÃO HISTÓRICA DAS IDENTIDADES DOS “PIONEIROS” DAS DÉCADAS DE 1970 AOS ANOS 1990. |
Lourival Inácio Filho 1 Gustavo Aparecido da Silva 1 Jefferson Janones de Oliveira Júnior 1 Bruna Pissolatto Grocheviski 1 Jucicleide Araújo 2 |
1. Prof. Ms./ Orientador - IFRO, Prof. Esp. /IFRO, Aluno /téc. Informática - IFRO, Aluna /téc. Informática - IFRO. 2. Assistente Social - SESAU - RO |
INTRODUÇÃO: |
O estado de Rondônia recebeu mais de um milhão de pessoas nas décadas de 1970 a 1990, provenientes principalmente do Sudeste e Sul do Brasil, período conhecido como Migração Recente. A construção ideológica das mentalidades dos imigrantes “pioneiros” encontrou amparo no discurso desenvolvimentista oficial de estado. Oposto aos silêncios discursivos em relação às comunidades tradicionais. Os sujeitos históricos que chegaram – colonos, agricultores em sua maioria - constroem-se sobre narrativas e discursos apresentados com status oficial a partir das falas de autoridades políticas nacionais e locais, bem como de produções bibliográficas, centradas no ideal de progresso e desenvolvimento, na dinâmica do avanço de várias fronteiras econômicas, culturais e sociais que fazem parte de um tempo de longa duração que remonta ao período colonial da história nacional, uma vez que tais fronteiras continuam móveis. |
METODOLOGIA: |
A escrita da história nesta investigação consubstancia-se em um trabalho histórico-crítico sobre discursos oficiais com reportagens de jornais e análises bibliográficas. Trabalho de abordagem histórico-social como esta é vista principalmente pela Escola francesa dos Annales na sua máxima de história-problema, para além do fatual, cronológico e narrativo. Levantaram-se fontes na Biblioteca da Universidade Federal de Rondônia (Porto Velho); Museu Estadual de Rondônia (MERO, Porto Velho); Conselho Indigenista Missionário (Porto Velho). Fez-se uso da documentação temática na coleta de dados, complementada pela documentação bibliográfica. |
RESULTADOS: |
As identidades criadas a partir das últimas décadas do século XX em Rondônia estão ligadas a práticas antigas na república brasileira. Governos de diferentes épocas e ideologias tentaram estabelecer o domínio do Estado-Nação sobre as regiões de fronteira – capitaneados por grandes planos. A tradição histórica dos bandeirantes da época colonial com o mito do desbravador renasce ou se perpetua nos discursos desenvolvimentistas centrados geralmente em fatores econômicos, camuflados por outro discurso dominante, o civilizatório. A selva seria o local a ser estruturado. O velho mito do Eldorado também se faz presente nestas construções. Com um ônus de massacres indígenas e devastação ambiental pautados no discurso desenvolvimentista é que vão ser gestadas as identidades dos “pioneiros”. Análise histórica dá estranha sensação de “déjà vu” na atual obra de construção das Hidrelétricas do Rio Madeira, prima histórica distante do Forte Príncipe da Beira do século XVIII, da Ferrovia Madeira-Mamoré na passagem do século XIX/XX e parente próxima da BR-364 iniciada na segunda metade do século XX e concluída em meados da década de 1980. Épocas anacrônicas com uma singular similitude histórica: o velho discurso da ordem, da civilização, do desenvolvimento e do progresso feitos na selva. |
CONCLUSÃO: |
Produtor de matéria-prima e alimentos, das drogas do sertão e da mineração, no século XVI ao XVIII, borracha, no século XIX e início do XX, agropecuária e madeira, na virada do século XX para o XXI, Rondônia nunca deixou de ser uma “fronteira em expansão", que atraía e, ainda hoje, atrai a “modernização” e a “civilização” para a selva personificada em fortificação, telégrafo e ferrovia, no passado, urbanismo, indústria e hidrelétricas no presente. A perspectiva de tempo histórico de estruturas sociais de exploração e expropriação de mão-de-obra e de terras indígenas e quilombolas continua semelhante em contextos diferenciados. De Getúlio Vargas, no Segundo Ciclo da Borracha, a Lula, com o início das obras das hidrelétricas do Rio Madeira, não se considera as identidades indígenas, quilombolas e caboclas na formação identitária e histórica de Rondônia. Extensa produção bibliográfica e midiática para os “pioneiros” e silêncio ou poucas notas aos povos tradicionais. Há de se destacar também a percepção de conflitos entre os “pioneiros”, trazidos a Rondônia e evidenciados em permanente questão fundiária entre posseiros e grileiros. Aqueles, também feito vítimas de tal processo histórico, mesmo que se identifiquem com a criação discursiva e histórica do “pioneiro”. |
Palavras-chave: História Regional, Migração, Identidades. |