63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 7. Educação Infantil
JOGOS TRADICIONAIS E A FORMAÇÃO DAS IDENTIDADES INFANTIS NO CONTEXTO ESCOLAR
Jonathan Stroher 1,2,3
Beleni Salete Grando 1,2,3,4
1. UNEMAT
2. Departamento de Educação Física
3. COEDUC
4. Profa. Dra./ Orientadora
INTRODUÇÃO:
O jogo está presente no cotidiano infantil e constitui-se em um dos seus principais elementos de apropriação e interação com o mundo. Estas expressões humanas são anteriores à cultura por identificar o homem sendo Homo ludens, ou seja, aquele que brinca e no brincar produz-se, produzindo cultura (HUIZINGA, 1999). Buscamos compreender com a pesquisa, de que maneira os jogos podem influenciar a formação da identidade cultural das crianças no âmbito escolar da cidade de Cáceres-MT. Para compreensão da relação jogo/cultura, desenvolvemos a pesquisa em duas fases, permeadas pelos estudos dos teóricos do jogo e da cultura. Uma montando um acervo de “jogos tradicionais”, tendo por referência a pesquisa de França e Grando (2008), sobre a cultura infantil do período de 1945 a 1965 e entrevistas com os mestres da cultura, e a outra na escola, buscando compreender quais são as contribuições da “cultura tradicional”, na escola, para as identidades infantis neste contexto. Fundamentado numa leitura histórica e antropológica, percebeu-se no processo de ensino/aulas, que os jogos possibilitam a compreensão das dimensões que a “educação do corpo” traz para a constituição de uma identidade individual e coletiva (GRANDO, 2008) das crianças em Cáceres.
METODOLOGIA:
A pesquisa qualitativa foi realizada entre 2008/2010, foi organizada em dois momentos distintos que se complementaram. O primeiro foi à realização dos estudos da literatura sobre jogo e a cultura especialmente as pesquisas realizadas pelos pesquisadores do COEDUC/UNEMAT, na cidade de Cáceres-MT, lócus da pesquisa, que foi complementada com as entrevistas semi-estruturadas realizadas com um grupo de rezadeiras e cururueiros (mestres da cultura local). A segunda etapa, pautada na pesquisa-ação, foi desenvolvida na Escola Estadual Desembargador Gabriel Pinto de Arruda, com as crianças da primeira fase do segundo ciclo (de 6 a 7 anos) juntamente com a professora regente. Durante um mês e meio realizamos observações das aulas de Educação Física (recreação) a fim de conhecer as práticas lúdicas das crianças, em seguida, realizamos oficinas/aulas com as crianças onde levantamos com as crianças as memórias lúdicas dos pais, vivenciamos seus jogos/brincadeiras na escola e ampliamos este repertório com os jogos tradicionais relatados nas entrevistas e dos estudos de França e Grando (2008), além da oficina de brinquedo realizada com as crianças. O trabalho de conclusão foi a encenação da Festa de Santo, que envolveu toda a comunidade.
RESULTADOS:
Entre os jogos comentados pelas meninas (rezadeiras), a que mais se fazia presente no cotidiano lúdico delas era a “brincadeira” de boneca, casinha e quitute, pois representavam as ações vivenciadas pelas mães no período de suas infâncias em Cáceres. Entre os meninos (cururueiros), brincavam mais de bolita, estilingue e futebol. Das experiências lúdicas dos entrevistados por nós e por França e Grando (2008), proporcionamos às crianças vários jogos, entre eles o passa-anel, a história da serpente, lançar a bola no alvo, pega-pega, queimada, corre-cutia, coelhinho sai da toca, mamãe cola, a construção da peteca, o “futebol”. Concluímos com a encenação da Festa de Santo, promovendo a interação da comunidade escolar, valorizando a cultura local como saber relevante na escola. Com as memórias lúdicas dos cururueiros, rezadeiras e pais dos alunos, identificamos vários elementos do universo infantil presente em diferentes períodos da história local. A amarelinha, a bolita, a boneca e a casinha, a ciranda-cirandinha, o futebol, entre outros, são marcados pela história social diferenciando-se com que se brinca, onde e com quem. Concluímos que os jogos fazem parte da memória e cultura local, inserindo-se nos saberes e práticas que identificam as crianças em todos os contextos.
CONCLUSÃO:
Por meio do conhecimento popular passado por diversas gerações, tem-se a compreensão de que os jogos tradicionais contribuem para o processo de aprendizagem na escola, pois as crianças se identificam melhor com este espaço, uma vez que os jogos, em diferentes contextos e fases da vida coletiva, educam. O acervo da cultura lúdica local, possibilita um trabalho interdisciplinar significativo tanto no campo do saber escolar quanto no desenvolvimento da criança. Assim, as práticas corporais vivenciadas contribuem tanto na formação educacional quanto cultural das crianças e dos professores e comunidade. Isso porque, grande parte dos saberes lúdicos dos pais das crianças são transmitidos na dinâmica da cultura que recria com a memória do vivido e os novos elementos da cultura atual, novas possibilidades educativas. Com a pesquisa-ação, promovemos o prazer do movimento corporal e a interação social, enriquecida com os saberes tradicionais, sem a visão distanciada do tempo e dos sujeitos que ao se apropriarem destes saberes resignificando-os. Como mediador homem/cultura, o jogo torna-se relevante no contexto escolar e nas aulas de Educação Física/Recreação, por promover na diversidade das turmas intercâmbios de saberes e culturas fundamentais na formação social e cultural das crianças.
Palavras-chave: Jogo, Cultura infantil, Cultura popular.