63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia |
EXISTÊNCIA E LINGUAGEM NO GRANDE SERTÃO: VEREDAS OU RIOBALDO E A EXPERIÊNCIA DO ENTRE DOIS: UM POSSÍVEL DIÁLOGO ENTRE ROSA E HEIDEGGER. |
Débora Cristina Resende 1 Glória Maria Ferreira Ribeiro 2 |
1. UFSJ 2. Profa. Dra./ Orientadora - Depto de Filosofia e Métodos - UFSJ |
INTRODUÇÃO: |
Tratou-se de evidenciar a relação entre existência e linguagem em João Guimarães Rosa e Martin Heidegger a partir de suas respectivas obras: Grande sertão: veredas e Ser e Tempo. Nossos objetivos específicos foram: 1- Mapear e registrar as diferentes narrativas que compõem Grande sertão: veredas, com o intuito de dimensionar diferentes aspectos da existência humana através do modo como se dá a relação entre essas narrativas e a concepção de linguagem assumida por Rosa. 2- Formar um arquivo com as narrativas presentes em Grande sertão: veredas visando analisar cada narrativa, de modo a identificar os aspectos culturais nelas presentes que relatam modos de existir do sertanejo – evidenciando os valores em jogo no modo de ser do homem de Minas Gerais. A descrição da relação entre sua vida e a concepção de sua obra foi descrita por João Guimarães Rosa numa entrevista concedida ao crítico alemão Günter Lorenz em janeiro de 1965. Nesta entrevista, intitulada Diálogo com Guimarães Rosa, o escritor nos fala, entre outras coisas, da sua relação com a linguagem e de seu processo de criação e aponta para a possível aproximação entre sua concepção de linguagem e a do filósofo Martin Heidegger. |
METODOLOGIA: |
Levantamento bibliográfico, fichamentos de leitura, revisão de leitura e de conceitos e elaboração de glossário. Leitura de Grande sertão: veredas atentando para as narrativas que o permeiam. Após a identificação dessas narrativas, elas foram divididas em três grandes grupos, quais sejam: 1- Crenças, costumes, superstições e simpatias; 2- Diabo e Pacto; 3- Conflito entre Bem e Mal. Essa divisão teve como suporte teórico a obra de Luís da Câmara Cascudo, Literatura Oral no Brasil, na qual encontra-se a discussão sobre o universo mítico-poético da cultura popular – cultura que ao se fazer presente na obra de Rosa acaba transcendendo os limites regionais e assumindo um cunho universal. Baseado nessa divisão e após termos selecionado e visitado escolas na região rural do município de Lavras, foram selecionadas estórias que mais se identificavam com o cotidiano das crianças e, posteriormente foram executadas atividades ligadas à contação dessas estórias. |
RESULTADOS: |
A aproximação entre João Guimarães Rosa e Martin Heidegger se estabelece na concepção que eles têm de linguagem. Linguagem e Existência são fenômenos que não podem ser considerados separadamente nesses autores. A diferença entre eles se faz notar na forma como cada um aborda a questão: Rosa pelo ponto de vista literário e Heidegger através da análise conceitual que se deixa ver no seu exame das estruturas constitutivas (os chamados índices existenciais) da existência humana que se mostra como a espinha dorsal de Ser e Tempo. Outro resultado obtido foi o mapeamento, registro e formação de um arquivo com as diferentes narrativas que compõe Grande sertão: veredas que visou dimensionar diferentes aspectos da existência humana através do modo como se dá a relação entre essas narrativas e a concepção de linguagem assumida por Rosa. Analisamos cada narrativa e identificamos os aspectos culturais nelas presentes (aspectos que relatam modos de existir do sertanejo). A partir disso, fizemos uma seleção de estórias e realizamos uma atividade de contação de estórias no Núcleo de Educação Comunitária Rural "Édio do Nascimento Birindiba” – Lavras – MG com cerca de 60 crianças de idade entre 8 e 11 anos. |
CONCLUSÃO: |
Através da análise das narrativas presentes em Grande sertão: veredas nos foi dado verificar como a relação entre linguagem e existência é elaborada por Rosa dentro do contexto do romance através do jogo de ambiguidades presentes dentro dessa obra. Jogo cuja dinâmica fundamental é expressa pela tensão entre o bem e o mal. Tensão insuperável e que é representada metaforicamente pelo fenômeno da travessia no qual o personagem se vê continuamente entre dois polos. Igualmente, foi possível evidenciar, a partir do exame do fenômeno da existência (seja em Rosa, seja em Heidegger), um dos pontos de encontro entre Filosofia e Literatura – qual seja, o próprio universo da existência humana em seu pertencimento à linguagem. |
Palavras-chave: Existência, Linguagem, Oralidade. |