63ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Arquitetura e Urbanismo - 2. Paisagismo e Projetos de Espaços Livres Urbanos
OS JARDINS HISTÓRICOS NA PERSPECTIVA DO PATRIMÔNIO: DO MONUMENTO À PAISAGEM CULTURAL
Marianna Gomes Pimentel Cardoso 1
Elane Ribeiro Peixoto 2
1. Programa de Pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília – PPG-FAU/UnB
2. Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília
INTRODUÇÃO:
Os jardins sempre fizeram parte da cultura humana, desde as mais antigas civilizações do mundo até os dias atuais. São, segundo Bertruy (2009), testemunhos da arte, da história e da cultura da humanidade. Podem ser considerados como documentos que sempre podem mostrar “vestígios sobre as origens e evolução do homem, e que, portanto, forma parte indiscutível das raízes que dão identidade aos povos” (BERTRUY, 2009, p.323).
A inegável importância que o jardim histórico ganhou nos últimos anos do século XX proporcionou um aumento significativo nas discussões sobre o tema. Em conseqüência disso, a classificação de “monumento” hoje não é mais usual. De acordo com Berjman (2001) o conceito de jardim histórico evoluiu e agora se fala de jardins históricos como uma categoria dentro das paisagens culturais, porque são paisagens da natureza modificadas pelos seres humanos. Nesse sentido, o presente trabalho tenta explicar as várias classificações das obras paisagísticas na temática do patrimônio histórico-cultural e os desdobramentos do tema no Brasil.
METODOLOGIA:
Para analisar as mudanças na abordagem da temática do jardim histórico no âmbito do patrimônio foram revisadas as Cartas Patrimoniais de Atenas (1931), Veneza (1964), Florença (1981) e as definições da Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Cultural e Natural da UNESCO em 1972, onde foi elaborada a Lista do Patrimônio Mundial que dividia os bens nas categorias cultural e natural. Acrescenta-se a essa análise, os conceitos elaborados pela Convenção do Patrimônio Mundial de 1992, que segundo Castriota (2010) foi o primeiro instrumento legal internacional a reconhecer e proteger esse tipo complexo de patrimônio (o jardim) como paisagem cultural, sendo esta definida como “interação entre natureza e cultura e, ao mesmo tempo, ligado também intimamente às maneiras tradicionais de viver” (CASTRIOTA, 2010, p.12).
Por fim, é estudado como o tema é tratado no Brasil a partir Carta de Bagé, também chamada de Carta da Paisagem Cultural de 2007 e dos bens paisagísticos inscritos nos Livros do Tombo do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
RESULTADOS:
Identificou-se que as primeiras discussões sobre os jardins históricos delegam um papel secundário ao jardim, valorizando mais o monumento emoldurado por ele que a obra paisagística em si. Essa situação se reverte com a Carta de Florença, que lança diretrizes para a preservação dos jardins. No entanto essa Carta trata o jardim como um monumento, contrariando as tendências atuais, que o caracterizam como “paisagem cultural”.
Contudo a abordagem da paisagem cultural ainda é nova, prevalecendo na Lista do Patrimônio Mundial a classificação dos bens seguindo os critérios estabelecidos na Convenção de 1972 (natural/cultural). Mesmo assim o conceito da paisagem cultural evidencia-se como uma outra forma para objetos de caráter múltiplo como os jardins. “A valorização da categoria de paisagem tem revelado uma instigante vertente para se pensar o tema, mas não a única” (RIBEIRO, 2007, p. 49).
O IPHAN classifica os jardins históricos, dentre os quatro Livros do Tombo, no Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Mas percebe-se que são poucos os jardins históricos independentes, ou seja, dissociados de conjuntos arquitetônicos e urbanísticos ou de paisagens naturais. Nota-se também que, em alguns casos, há jardins históricos inscritos no Livro Histórico ou no de Belas Artes.
CONCLUSÃO:
A falta de uniformização no tratamento dos jardins pode ser atribuída ao caráter duplo dos mesmos: ser um sistema vivo, vinculado às relações da natureza, e ao mesmo tempo, uma expressão cultural e artística humana, inserida dentro de um contexto histórico. O que precisa ser ressaltado é o fato de que o valor cultural se sobrepõe ao natural no caso dos jardins, pois a manifestação humana está acima do ecossistema natural.
Portanto, pode-se concluir que o tratamento patrimonial dos jardins históricos é ainda um conceito em formação, aberto a várias discussões e interpretações, demonstrando assim a importância de discutir cada vez mais o tema.
Palavras-chave: Jardins históricos, Paisagem cultural, Patrimônio.