63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia |
A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA DA PEQUENA E MÉDIA PROPRIEDADE CAMPONESA NO ESTADO DE GOIÁS, EM 2006, FRENTE À INTENSA EXPANSÃO DO AGRONEGÓCIO: OS DIFERENTES “VALORES” DO CERRADO. |
Ana Carolina de Oliveira Marques 1 Ivamauro Ailton de Sousa Silva 2 |
1. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia - IESA/UFG 2. Graduando do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais - IESA/UFG |
INTRODUÇÃO: |
O presente trabalho cujo recorte espacial é o campo goiano e o recorte temporal o ano de 2006, em decorrência de se tratar do primeiro censo agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística que diferencia os modelos de produção agrícola, tem como objetivo central a análise da contribuição da pequena e média propriedade camponesa no total da produção agropecuária de Goiás. Desse modo, mensurar a produção das diversas categorias existentes no espaço agrário do Estado é além de um adicional ao conhecimento científico e popular, um fator determinante no direcionamento das políticas públicas. Vista à expansão da fronteira agrícola, em que o agronegócio conta com relevantes incentivos fiscais e o latifúndio constituiu uma das principais características da configuração do campo goiano, esse processo acaba, contraditoriamente, ocasionando a expansão da cultura camponesa, a qual mantém com a terra uma relação afetiva e não apenas produtivista. Sendo assim, não só a economia e a cultura estão relacionadas ao tema, mas também a questão ambiental. |
METODOLOGIA: |
No intuito de concretizar os objetivos traçados ao longo da pesquisa, foi feito um levantamento bibliográfico a respeito do que caracteriza essencialmente a agricultura camponesa, que no censo é sinônimo de agricultura familiar, e em que contexto ela surge no Estado de Goiás. Foram feitas leituras de pesquisadores de diversas linhas de pensamento, a fim de melhor problematizar o assunto. Posteriormente, o trabalho foi voltado à tabulação de dados (através do excel e word) seletos do censo agropecuário do IBGE de 2006, o qual traz também dados de censos anteriores, tornando viável a comparação entre variáveis em diferentes períodos e contextos. Variáveis como produção de origem animal, área e número de estabelecimentos, pessoal ocupado entre outras. Por fim, fez-se uma análise das informações e dados tabulados através de gráficos e quadros almejando uma ilustração da contribuição de cada modelo de produção agrícola para a economia goiana e os pontos estratégicos que a configura dessa maneira. |
RESULTADOS: |
Com maior número de estabelecimentos, o pessoal ocupado na agricultura familiar também é maior que no sistema de agronegócios, fazendo com que o modelo de produção agrícola familiar contribua consideravelmente para a geração de empregos, mesmo ocupando apenas 12% da área rural do Estado. De 1996 a 2006, a agricultura familiar expandiu sua oferta de empregos no estado de Goiás, sendo que o inverso aconteceu na agricultura baseada no trabalho assalariado. Os agricultores familiares, em média nacional no período analisado, foram responsáveis por quase 60% do leite de vaca produzidos, entretanto em Goiás a porcentagem equivaleu a pouco mais de 40%, o que não é ruim, mas poderia ter sido melhor caso houvesse maior incentivo financeiro e político. Em relação à criação de aves, a diferença é brusca, pois no estado de Goiás a mão-de-obra familiar contribuiu com menos da metade da média nacional. Há uma diferença também considerável na criação de suínos, de aproximadamente 23% a menos que a produção familiar de porcos no restante do país, ressaltando que Goiás tem grande relevância nessa cultura. Na produção de alimentos, a pequena e média produção familiar goiana também se encontrou abaixo da média nacional, com exceção da produção de arroz. |
CONCLUSÃO: |
No Brasil, a agricultura familiar ganhou espaço nas últimas décadas, mas com um progresso muito pequeno e com uma diferenciação regional gritante. Nas regiões Norte e Nordeste concentram-se as maiores contribuições da produção familiar e na Centro-Oeste o agronegócio é dominante em detrimento dos pequenos e médios produtores, uma realidade explícita no Estado de Goiás. Nota-se também, que em Goiás, a prática da agricultura com mão-de-obra familiar tem pouca representatividade mesmo nos produtos típicos dessa atividade, como o feijão. As políticas públicas de incentivo à pequena e média produção agrícola e o associativismo são as propostas para melhorar a realidade agrária do Estado, sendo a reforma agrária a primeira medida. Porém, esta deve acontecer em combate aos latifúndios, mas com uma redistribuição de terras justa e não somente o direcionamento de propriedades improdutivas. Além disso, o tamanho das propriedades é um empecilho à expansão da prática familiar, assim com a falta de recursos financeiros para investimentos em tecnologias que favoreçam o melhor aproveitamento da área produtiva. A monopolização da informação e dos avanços tecnológicos também fazem crescer as desigualdades no campo. |
Palavras-chave: agricultura camponesa, agronegócio, Goiás. |