63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
DISCURSOS DOCENTES SOBRE IMAGINAÇÃO E AUTORIA NA (SUA) PRÁTICA PEDAGÓGICA.
Fabrício Santos Dias de Abreu 1
Daniele Nunes Henrique Silva 2
1. Graduando em Pedagogia/Faculdade de Educação/FE/UnB
2. Profa. Dra./ Orientadora- Depto. de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento/PED/UnB
INTRODUÇÃO:
A formação dos professores tem privilegiado, tradicionalmente, o enfoque disciplinar e controlador dos processos de ensinar e aprender na escola. Os planejamentos e as avaliações estão orientados para esse objetivo instrucional e a concepção de aula está fundada nesses princípios.
Todas as outras atividades, como as expressões criativas, que se destacam pela imprevisibilidade, pela liberdade de expressão e experiência sensível, acabam sendo marginalizadas e, por isso, restringidas.
O presente estudo busca refletir sobre os modos de configuração das manifestações imaginativas, da experiência estética e autoral na prática docente. A argumentação teórica pauta-se nas contribuições conceituais da perspectiva histórico-cultural sobre desenvolvimento humano, em especial, as reflexões de L.S.Vigotski e seus colaboradores com relação a relevância da atividade criadora para os estudos investigativos da Psicologia e da Pedagogia.
Nessa interface interdisciplinar, a investigação problematiza as condições que os educadores possuem para configuração de cenários criativos no cotidiano escolar, indagando sobre os seus sentimentos acerca do lugar de autoria nos contextos educacionais que tradicionalmente apresentam uma configuração institucional formalista e conteúdistica.
METODOLOGIA:
O objeto desta pesquisa é analisar aspectos da atividade criadora vinculada à vivência docente no cotidiano escolar. O professor e o aluno no trabalho pedagógico são, aqui, tomados como elementos centrais para se discuti os processos criativos na escola.
Nesse sentido, busca-se investigar, a relação entre o modo de funcionamento da imaginação e as experiências vividas pelos docentes e discentes em no cotidiano institucional: Ou seja: O que pensam e falam sobre a experiência criativa na escola, em especial, na sala de aula?
Para tanto, foi configurado um desenho metodológico coerente às problematizações teóricas levantadas acima, sendo a escuta docente um elemento central a ser considerado na análise.
Nesses termos, essa pesquisa é de caráter qualitativo e a análise do material fundamenta-se em entrevistas semi-estruturadas, buscando focalizar as concepções docentes sobre a autoria na sala de aula. Foram entrevistados 10 professores; 3 da Educação Infantil e 7 do Ensino Fundamental/ Séries Iniciais (Distrito Federal). A coleta de dados ocorreu no ano de 2009, a partir de entrevistas que duravam cerca de 1 hora e 30 minutos, em média. Tais entrevistas eram audiogravadas e transcritas para análise.
RESULTADOS:
Com base nas análises coletadas, nota-se que existe uma confusão conceitual, por parte dos professores, entre o fazer pedagógico e a criação. A experiência autoral se traduz em planejamento de aula ou de atividades relacionadas ao cotidiano instrucional da escola.
Os docentes demonstram dificuldade em conceituar o que seria um espaço de criação e autoria dentro de sua prática e focalizam os processos criativos como elementos exclusivos da vivência discente. Ou seja, quando os docentes enunciam aspectos da criação, em nenhum momento eles se remetem a algo construído (elaborado) por eles (autoral) ou deles com os alunos, mas algo para os alunos ou, exclusivamente, dos alunos.
As atividades de cunho institucional, que fazem parte do cotidiano burocrático da escola, como as datas pré-estabelecidas para as avaliações, muitas vezes, são levantadas como grande empecilho para o desenvolvimento de atividades voltadas para a criatividade nas ações pedagógicas. Fica claro, na fala dos educadores, que a escola eles tem total liberdade para criar, desde que esteja vinculado ao currículo ou ao Projeto Político Pedagógico da instituição.
É necessário re-pensar a maneira como a escola organiza seu projeto pedagógico, na medida em que aponta a urgência de se acolher as dinâmicas criativas e sua importância para o desenvolvimento da criança. O problema da autoria é central para o trabalho pedagógico, colocando a produção do educador numa perspectiva menos reprodutivis
CONCLUSÃO:
Apesar da ênfase atribuída por diversos autores, a imaginação não é preocupação central dos projetos pedagógicos. Além disso, é um tema pouco explorado pela bibliografia educacional e quase nada problematizado na formação de professores. Estes, em seu turno, estão encerrados em planejamentos que enfatizam os saberes institucionais, tradicionalmente, já esperados. Além disso, estão marcados por exigências burocráticas, métodos pedagógicos, materiais didáticos etc., que diminuem suas possibilidades de criação e de transformação no/do contexto educacional.
As questões levantadas, aqui, indicam a relevância de se re-pensar a maneira como a escola organiza seu projeto pedagógico, na medida em que apontam a necessidade de se acolher as dinâmicas criativas como elemento central para o desenvolvimento da criança. O foco principal é de transformação do ethos institucional: a cultura escolar - suas heranças e práticas, o que implica na problematização dos processos formativos dos professores.
É necessário investir na formação de professores que, diante desse clima de hostilidade a criatividade dentro da escola, tenha condições de reverter esse quadro, a afim de que tenhamos docentes com uma prática mais significativa, autoral e criativa.
Palavras-chave: Imaginação, Autoria, Trabalho Docente.