63ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 2. Comportamento Animal
É A COMUNICAÇÃO VISUAL UMA ALTERNATIVA A COMUNICAÇÃO ACÚSTICA EM Bokermannohyla pseudopseudis (ANURA, HYLIDAE)?
Raíssa Furtado Souza 1
Sabrina Pereira Santos 1
Fausto Nomura 2
1. Universidade Federal de Goiás - UFG
2. Prof. Dr./Orientador - Depto.de Ecologia/ICB, Universidade Federal de Goiás - UFG
INTRODUÇÃO:
A comunicação em anfíbios anuros é baseada principalmente nas vocalizações de machos durante a reprodução. Entretanto, há outros tipos de comunicação como sinais visuais e toques mútuos. A evolução da comunicação visual está principalmente relacionada com hábitos diurnos e ambientes lóticos. No Cerrado, existem espécies de anuros com distribuição restrita a ambientes ruidosos. Tal pressão ambiental poderia levar a evolução de comunicação visual em espécies noturnas?
O presente estudo teve como objetivo testar a hipótese de que ambientes ruidosos favorecem a comunicação visual; verificar o contexto em que a comunicação visual é utilizada e comparar as respostas comportamentais aos diferentes estímulos.
METODOLOGIA:
O estudo foi realizado na Floresta Nacional de Silvânia, com a espécie Bokermannohyla pseudopseudis Miranda-Ribeiro, 1937, que se reproduz em ambientes lóticos do cerrado no período chuvoso.
Para realização dos experimentos foi confeccionado um modelo artificial proporcional à espécie focal. Para análise do repertório comportamental, sete machos foram submetidos a estímulos visuais (“passar a mão na frente da face”) e acústicos (“playbacks”). Para a caracterização da função da sinalização visual o modelo foi posicionado em postura “agressiva” (saco vocal inflado) e “passiva” (posição de repouso). Nossa predição é que aumente a emissão de sinais visuais a medida que se aumenta os estímulos visuais e acústicos.
As respostas comportamentais foram correlacionadas com as características bióticas e abióticas mediante o teste de regressão linear múltipla, as freqüências das emissões comportamentais visuais e acústicas, separadamente, foram comparadas entre os tratamentos por meio de uma MANOVA e ANOVA pareadas, respectivamente, e utilizou o teste T pareado para comparar as respostas visuais e acústicas.
RESULTADOS:
O grau de ruído ambiental não interferiu na freqüência dos comportamentos emitidos, ou seja, ambientes ruidosos não é a única pressão necessária para a evolução de sinais visuais na espécie.
As respostas visuais e acústicas não diferiram significativamente entre os diferentes estímulos. Rejeitando a hipótese de que o aumento na diversidade de estímulos favoreceria o aumento nas respostas comportamentais e de que o estímulo visual contribuiria para a emissão de sinalização visual. Esse resultado demonstra que os movimentos executados pelos indivíduos experimentais, apesar de apresentarem semelhanças com o padrão motor de outras espécies diurnas, podem não apresentar a função de sinalização visual, provavelmente devido ao hábito noturno de B. pseudopseudis.
Existe uma grande dificuldade na identificação e análise de sinais visuais, o que pode ter originado uma série de confusões quanto a identificação destes sinais para espécies noturnas na literatura recente. Visto que, na análise comparativa entre os comportamentos visuais e acústicos tivemos que os comportamentos acústicos tendem a ser emitidos com maior frequência que os comportamentos visuais. Logo, os testes realizados não corroboraram a hipótese de que houve evolução da comunicação visual em B. pseudopseudis.
CONCLUSÃO:
Concluímos que, mesmo em ambientes lóticos, os machos de B. pseudopseudis apresentam uma maior emissão de sinais acústicos durante interações agonísticas. Assim, a emissão de sinais semelhantes ao de espécies diurnas podem não apresentar a função de sinalização. Também foi percebido que a comunicação acústica e visual possuem funções semelhantes em manifestações de sociabilidade.
Palavras-chave: Interação social, Comunicação visual e acústica, Ambiente lótico.