63ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 6. Liguística
DISCURSO, MÍDIA E SOCIEDADE: VESTÍGIOS DO PODER E DA IDEOLOGIA NA EVIDÊNCIA DE SENTIDOS SOBRE O MIGRANTE NORDESTINO.
Maria Cremilda da Silva Melo 1
Camila Pimentel Medeiros 1
Helson Flavio da Silva Sobrinho 2
1. UFAL
2. Professor Dr. Orientador - FALE/ UFAL
INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa integra o projeto de iniciação científica “Discurso, Mídia e Sociedade: vestígios do poder e da ideologia na evidência de sentidos sobre o migrante nordestino”, desenvolvido desde agosto de 2009 sob a orientação do professor Dr. Helson Flavio da Silva Sobrinho na área de Letras e Linguística da UFAL. Nosso objetivo é buscar compreender como a identidade nordestina é (re) significada no quadro “De volta pra minha terra”, do programa Domingo Legal do SBT. Compreende-se, portanto, que a imagem que se tem hoje da região Nordeste e dos nordestinos é resultado de uma prática discursiva que revela preconceito e discriminação. Desse modo, esta pesquisa é relevante para a compreensão da identidade nordestina, pois o discurso enquanto prática social se reveste de novos sentidos no discurso midiático e, pode assim apontar para novas formas de ver e pensar o Nordeste. Essa pesquisa tem como fundamentação teórica e metodológica a Análise do Discurso (AD) que compreende o discurso como efeito de sentidos entre interlocutores.
METODOLOGIA:
Esta pesquisa tem como objeto de estudo o programa de televisão “De volta para minha terra” do SBT. O corpus é composto por um arquivo de 13 programas, gravados entre janeiro de 2009 a fevereiro de 2010. A partir das gravações serão feitos recortes com o objetivo de delimitar as materialidades discursivas. Essa proposta tem como fundamentação teórico-metodológica a Análise do Discurso que trabalha na relação contraditória entre língua, história, sujeito e ideologia.
O desenvolvimento dessa pesquisa começará com um estudo cuidadoso de conceitos teóricos da AD, especialmente, sujeito, discurso, ideologia e formações imaginárias. Esse estudo será feito com base nas reflexões de Eni Orlandi, Pêcheux e outras referências bibliográficas.
Em seguida, a análise será desenvolvida em cinco etapas: 1) estudo sobre mídia televisiva, buscando, desse modo, compreender o funcionamento discursivo da mídia; 2) estudo sobre migrações nordestinas, para compreender como a memória é mobilizada e ressignificada no programa; 3) estudo sobre sociedade capitalista; 4) recortar, delimitar e analisar as materialidades discursivas; e 5) redação final.
RESULTADOS:
Compreendemos que a mídia simula o sentido de que esses migrantes vivem em situação de miséria na grande São Paulo por um único motivo: abandonaram sua região. Esse sentido é efeito da ideologia. Pois, como afirma Eni Orlandi (2004, p. 30): “na perspectiva da AD a ideologia não é ‘x’ mas o mecanismo de produzir ‘x’. No espaço que vai da constituição dos sentidos (o interdiscurso) à sua formulação (intradiscurso) intervêm a ideologia e os efeitos imaginários”.
Ao analisar nosso objeto de estudo (o programa “De volta para minha terra”), verificamos que o principal motivo que leva essas famílias nordestinas a escreverem para o programa é a situação de miséria em que vivem no Sudeste do país, entretanto, há um deslocamento desse sentido para um outro campo, ou seja, a “saudade” (do Nordeste e da família) é tida pelo discurso midiático como a razão maior da volta desses migrantes. Sendo assim, o ápice do “espetáculo sensacionalista” desse programa se dá no momento em que ocorre o reencontro desses sujeitos com os parentes que ficaram em sua terra natal. O desemprego e a miséria ficam em São Paulo, não têm espaço em sua “vida nova” no Nordeste.
CONCLUSÃO:
Constatamos que a mídia televisiva reproduz um imaginário sobre os nordestinos que os colocam no lugar de miseráveis e de sofredores. Constatamos que há uma (re) significação da memória histórica que se tinha das migrações nordestinas, pois se em outros momentos elas foram incentivadas em direção a região centro-sul, passam agora a serem direcionadas para o próprio Nordeste, tido pelo programa como único lugar onde esses migrantes podem: “recomeçar”, “voltar a sonhar”, “ter uma nova oportunidade”, “uma segunda chance de vida”.
O discurso da mídia televisiva evidencia também que o corpo dos sujeitos (nordestinos) não pertence ao corpo da cidade (São Paulo), seja no aspecto cultural, histórico, material ou econômico. O trabalho discursivo realizado pela mídia com a repetição constante das imagens de sofrimento dos retirantes nordestinos dá um “efeito de verdade” de que todos os migrantes que vivem em São Paulo estão na mesma situação.
Palavras-chave: Discurso, Mídia, Migrante Nordestino.