63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 2. História do Brasil
(Re) Leituras do Brasil e do ser negro em Manoel Bomfim
Cristiane da Silveira UEA, PUC/SP
Stefania K. Fraga PUC/SP
1. Doutaranda - Depto História - UEA
2. Profa. Dra./ Orientadora - Depto de História - PUC/SP
INTRODUÇÃO:
O projeto de pesquisa visou investigar a história do Brasil, em suas primeiras décadas republicanas, a partir das várias tramas que compuseram a sua escrita e identidade. Neste movimento privilegiamos as narrativas que o historiador, médico e pedagogo Manoel Bomfim construiu sobre a história do Brasil e sua identidade à luz das questões raciais. Entendemos que estas questões foram centrais na obra de Bomfim, pois, este destoou da intelectualidade de sua época, e trilhou caminhos para a análise dos fenômenos sociais, pautado na paixão pelo país; no reconhecimento da igualdade na diferença, isso no que dizia respeito às várias etnias presentes no contexto brasileiro; na reflexão sobre o progresso social que se contrapunha ao progresso capitalista. Enfim, buscou construir outra história do Brasil que não nos moldes colocados em seu tempo.
METODOLOGIA:
Pesquisas no âmbito das Ciências Humanas, mais especificamente na História, lida a todo o momento com questões complexas que dizem respeito à sociedade, às formas como os sujeitos se organizam, às relações de conflitos, procurando desvendar as ideologias criadas/disseminadas pelos grupos dominantes e/ou as formas de reação dos grupos dominados. O que motiva é o esclarecimento de determinado momento em particular, mas isso à luz de novas interpretações. Assim, partimos do pressuposto que a maior parte dos discursos gestadas sobre identidade nacional no Brasil em fins do século XIX e início do século XX valorizou a cultura e o modo de viver da classe burguesa e branca, não privilegiando nesses discursos as diferenças sociais, políticas, econômicas e os conflitos vividos entre as várias etnias (negra, branca e índia) presentes na sociedade da época. Buscamos com a pesquisa construir outras narrativas sobre o lugar social reservado ao negro e as ideologias construídas sobre sua imagem, a partir do entrecruzamento entre texto literário (Através do Brasil) e texto histórico (América Latina: males de origem), recuperando visões que rompem com as teorias raciais presente na virada do século XIX para o XX.
RESULTADOS:
O tema da identidade e da escrita da história do Brasil foi caro à Manoel Bomfim. A partir das singularidades de sua obra dialogamos com o discurso hegemônico daquele momento e construímos outras caminhos para a escrita da história do Brasil. Encontramos no “silêncio” sobre a trajetória do negro na história brasileira outra perspectiva de “olhar” sobre as identidades e a escrita de sua história. Bomfim nos instigou a refletir sobre a(s) identidade(s) pautada nos sentimentos morais, sendo a relação entre as raças estabelecidas na igualdade e não na intolerância ou repulsa racial. Assim, compreender o outro na diferença foi um dos fios que encontramos em sua obra. Para além destes elementos, a obra do autor configurou-se como um projeto de transformação do país pautado na solidariedade, no respeito ao outro e na necessidade do acesso da educação para todos os brasileiros.
CONCLUSÃO:
A argumentação de Bomfim foi elaborada a partir do estudo da história do Brasil no contexto latino americano, e intentou traçar marcos representativos para a escrita da história do país, que não os baseados na narração de fatos oficiais, heróis e datas. Bomfim destoou do pensamento intelectual de seu momento ao defender as relações sociais travadas entre brancos, negros e índios no Brasil como desigual, sendo para este pensador impossível analisar igualmente, povos com diferentes condições de cultura e de educação. Assim, rompeu com a discussão da superioridade de um povo sobre o outro, qual seja, o europeu/branco e trilhou outros caminhos para formação da nacionalidade.
Palavras-chave: História do Brasil, Identidade negra, Manoel Bomfim.