63ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 8. Teatro e Opera
Traduções, Traições, Omissões e Opções. A Criação de um Papel, de Stanislavski.
Michel Mauch 2,3
Robson Corrêa de Camargo 1,2,3,
1. Prof. Dr./Orientador
2. Escola de Música e Artes Cênicas
3. UFG
INTRODUÇÃO:
Constantin Stanislavski (1863 – 1938) é até hoje reconhecido como um dos principais sistematizadores do processo de trabalho do ator e de construção da personagem. Porém, as traduções de seus livros foram realizadas, a partir de adaptações e recortes dos escritos originais russos, pela norte-americana Elizabeth R. Hapgood que detinha os direitos autorais. Essas traduções feitas ao inglês geraram edições no ocidente, inclusive no Brasil pela editora Civilização Brasileira, por Pontes de Paula Lima. Mas, estas traduções, abriram margens a pensamentos incompletos e entendimentos imprecisos sobre o trabalho de Stanialavski. No entanto, a editora Quetzal, entre, 1977-1986, contrariou os direitos autorais norte-americanos, seguindo as obras completas russas. Portanto, este trabalho coteja e sistematiza as diferenças entre as obras A Criação de Um Papel, traduzida ao português a partir da versão norte-americana, com El Trabajo del Actor sobre su Papel, traduzida ao espanhol. Essa pesquisa encerra o trabalho que vem sendo desenvolvido há quatro anos e que recebeu o VII e VIII Prêmio UFG de Iniciação Científica nos anos de 2009 e 2010.
METODOLOGIA:
Inicialmente foram lidas as versões na busca da compreensão do aporte teórico desenvolvido por Stanislavski. Este primeiro passo ratificou que as duas versões apresentavam diferenças substanciais. Posteriormente, quando realizada a leitura das frases em espanhol e das "equivalentes" em português, sistematizou-se e se classificou dentro das seguintes categorias: por omissão (existente em uma obra, porém ausente em outra); diferenças teóricas entre as traduções (quando havia discordância de conceitos entre as obras); e a terceira categoria se referia à ordem dos trechos nas edições (quando o fluxo textual se alterava entre os livros).
RESULTADOS:
As traduções portenhas dos livros de Stanislavski se embasaram nos originais russos. Já a brasileira, espelhou-se na versão norte-americana da Theatre Arts Books, de Elizabeth R. Hapgood. O cotejo entre as duas versões revelou grandes discrepâncias presentes nas obras que derivam da tradução norte-americana. Além disso, evidenciou vários excertos “inéditos” para os leitores de nossa língua. Nos fragmentos aqui enfocados, inexistentes na versão ao português, Stanislavski debruça-se nas dificuldades do trabalho do ator dentro de determinados procedimentos “vanguardistas” de sua época. Demonstra que a arte (teatral) pode se render a determinados objetivos experimentais, porém, ao se dirigir aos cimos da nova linguagem é necessário entender as “leis” intrínsecas à representação. Deve-se evitar, no teatro, a busca apenas das características exteriores de certos padrões estéticos. Stanislavski se posiciona contra a “vanguarda” que não sabe lidar com as questões da construção artística do ator. Ele nos mostra que a vida artística em palco não se fundamenta somente na forma da fala ou de sua ação, mas na comunhão com a vivência e a experiência do que é realizado pelo ator, uma vez que: a arte do ator é a arte da ligação entre a vida interna e externa.
CONCLUSÃO:
Este trabalho conheceu as teorias de Stanislavski e identificou as omissões na edição brasileira. Pois, apenas entendendo de forma integral as idéias do artista/autor Stanislavski é que entenderemos todo arcabouço do seu processo criativo. Fomos privados neste sentido e inúmeros preconceitos se cristalizaram. Infelizmente, percebemos, que as omissões de frases, parágrafos e até capítulos inteiros, bem como a inversão da sua ordem, causados pela tradução norte-americana de Hapgood, prejudicaram a compreensão da teoria stanislavskiana, além de causar suposições totalmente equivocadas sobre ela. Esta pesquisa teve boa receptividade nos meios acadêmicos, fato que se evidencia a partir das participações e publicações nos anais de congressos: 62ª Reunião Anual da SBPC, V Congresso Brasileiro de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas, V Reunião Científica da ABRACE e o IX Seminário Nacional de Pesquisa em Música; bem como em nível internacional: IV Simpósio Internacional de História. Isso porque dialoga com várias áreas do conhecimento, quebrando barreiras e tornando enriquecidas as discussões
Palavras-chave: Stanislavski, A Criação de um Papel, El Trabajo del Actor sobre su Papel.