63ª Reunião Anual da SBPC |
E. Ciências Agrárias - 3. Recursos Florestais e Engenharia - 5. Ciências Florestais |
ESTRUTURA, COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA E DIVERSIDADE DE ESPÉCIES LENHOSAS EM ÁREA DE CERRADO SENTIDO RESTRITO NO NORTE DE GOIÁS, BRASIL |
Henrique Augusto Mews 1 Tassiana Reis Rodrigues dos Santos 1 Thiago Ayres Lazzarotti Abreu 1 Bárbara de Oliveira Bomfim 1 Fernanda Coelho 2 José Roberto Rodrigues Pinto 3 |
1. Programa de Pós-graduação em Ciências Florestais - PPG/EFL, Universidade de Brasília - UnB 2. Programa de Pós-graduação em Ciências de Florestas Tropicais, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA 3. Prof. Dr./Orientador - Departamento de Engenharia Florestal, PPG/EFL, Universidade de Brasília - UnB |
INTRODUÇÃO: |
O bioma Cerrado é a mais rica savana do mundo em termos de número de espécies vegetais. Apesar disso, muitos pesquisadores acreditam que essa diversidade está comprometida em função da drástica redução da área de cobertura original do bioma. Pesquisadores estimaram que até o ano de 2030 a vegetação natural do Cerrado se restringirá às Unidades de Conservação, terras indígenas e áreas inadequadas à agropecuária, caso a atual taxa de desmatamento seja mantida. Tal situação é preocupante, pois o desmatamento tem sido muito elevado em relação aos esforços voltados à conservação e recuperação dos ambientes degradados. O eminente desaparecimento do Cerrado ressalta a importância e necessidade premente do conhecimento da situação dos seus remanescentes naturais, com a finalidade de subsidiar trabalhos de manejo e de reflorestamento de áreas degradadas em áreas com características climáticas e edáficas semelhantes. Nesse contexto, o objetivo do presente estudo foi descrever a estrutura, a composição florística e a diversidade de espécies lenhosas em uma área de cerrado sentido restrito localizado no município de Mara Rosa, Norte do Estado de Goiás, Brasil. |
METODOLOGIA: |
O trecho de cerrado sentido restrito selecionado para o estudo situa-se no município de Mara Rosa, região norte do Estado de Goiás, entre as coordenadas 14º02'11,5" S e 49º02'59,2" W, com altitude de aproximadamente 500 m. A área localiza-se às margens da rodovia BR-153 e é circundada por várias propriedades rurais, cuja atividade principal baseia-se na pecuária extensiva. A região está sujeita a clima tropical úmido (Aw de Köppen), caracterizado por apresentar inverno seco e chuvas máximas de verão. Para a amostragem da vegetação, foram estabelecidas 10 parcelas de 20 x 50 m (totalizando um hectare de área amostral) distantes cerca de 150 m entre si, onde foram amostrados todos os indivíduos lenhosos com diâmetro de base, medido a 30 cm do solo (Db30 cm) ≥ 5 cm. Os indivíduos foram registrados, identificados e tiveram a altura total e o Db30 cm medidos. Para a descrição estrutural da comunidade foram empregados os parâmetros fitossociológicos convencionais, incluindo densidade, frequência e dominância absolutas e relativas, além do Índice de Valor de Importância (IVI). A diversidade de espécies e a equabilidade (uniformidade) foram avaliadas empregando-se os índices de Shannon-Wiener (H', na base neperiana) e de Pielou (J'), respectivamente. |
RESULTADOS: |
Foram registradas 82 espécies, 62 gêneros e 33 famílias. A diversidade de espécies foi de 3,46, com equabilidade de 0,78. A densidade da comunidade foi de 1.352 ind.ha-1, com área basal de 13,24 m2.ha-1. As principais famílias, considerando o número de espécies, foram Fabaceae (20) e Vochysiaceae (5). As dez espécies mais importantes (IVI) foram Davilla elliptica (36,93), Styrax ferrugineus (16,99), Curatella americana (16,51), Pterodon pubescens (15,47), Tachigali vulgaris (13,86), Hymenaea stigonocarpa (11,69), Pouteria ramiflora (10,95), Xylopia aromatica (7,67), Strychnos pseudoquina (7,52) e Machaerium acutifolium (6,32), representando 48% do IVI total da comunidade. A distribuição diamétrica seguiu o modelo de J-reverso, com cerca de 90% dos indivíduos situados nas três primeiras classes. Os resultados indicam que o cerrado sentido restrito estudado apresenta riqueza, diversidade e estrutura semelhantes a outras áreas de mesma fitofisionomia amostradas no Distrito Federal e em Goiás. Entretanto, a presença de algumas espécies entre as principais (IVI) e a baixa importância estrutural de outras, frequentemente apontadas como dominantes em diversas áreas, sugerem composição florística diferenciada, provavelmente influenciada pelas diferenças nas condições ambientais locais. |
CONCLUSÃO: |
Os resultados indicam que o cerrado estudado pode ser classificado como subtipo denso, pois a área basal registrada foi relativamente alta e superou os valores encontrados em diversas outras áreas de cerrado sentido restrito amostradas no Planalto Central brasileiro. Esta inferência é reforçada ainda pelo fato de Tachigali vulgaris e Xylopia aromatica, espécies típicas de cerradão, estarem entre as mais importantes na estrutura da comunidade. A particularidade do cerrado estudado, no que tange à composição florística, foi evidenciada pelo fato de várias espécies, como Qualea parviflora, Q. grandiflora, Q. multiflora, Roupala montana, Byrsonima pachyphylla, Connarus suberosus, Lafoensia pacari e Erythroxylum suberosum, não alcançarem posição de destaque na estrutura da comunidade, divergindo da maioria dos levantamentos realizados nesta fitofisionomia. A análise da distribuição diamétrica indica uma comunidade autorregenerativa e em bom estado de conservação. Este estudo contribuiu para a ampliação do conhecimento disponível sobre a distribuição e organização espacial das espécies lenhosas no cerrado sentido restrito, em especial em fragmentos localizados em propriedades particulares, onde a antropização é um risco iminente, como é o caso da vegetação amostrada em Mara Rosa-GO. |
Palavras-chave: Conservação da biodiversidade, Fitossociologia, Savana. |