63ª Reunião Anual da SBPC |
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia |
REBROTA PÓS-FOGO DE ESPÉCIES LENHOSAS EM ÁREA DE CERRADO SENTIDO RESTRITO, MT, BRASIL |
Divino Vicente Silvério 1 Fabiane Furlaneto Souchie 3 Oriales Rocha Pereira 2 Leonardo Marachaipes dos Santos 3 Josias Oliveira dos Santos 3 Letícia Gomes da Silva 2 |
1. Programa de Pós-graduação em Ecologia, Universidade de Brasília – UnB 2. Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação, Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Campus Universitário de Nova Xavantina 3. Laboratório de Ecologia Vegetal, Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Campus Universitário de Nova Xavantina |
INTRODUÇÃO: |
O fogo é um fator condicionante da heterogeneidade de habitats e da estrutura horizontal e vertical das fisionomias em savanas. No bioma Cerrado, há registros da ocorrência de incêndios há mais de 32.000 anos o que tem levado as espécies lenhosas a desenvolverem diversas estratégias adaptativas, entre elas a alta capacidade de rebrota. A rebrota após o fogo pode ocorrer de três maneiras distintas: 1) da parte epígeia (órgãos aéreos), 2) da parte hipógea (rizomas na base do caule e de estruturas subterrâneas, como xilopódios) ou 3) de ambas. Entretanto, pouco se sabe quanto a importância relativa dos três modos de brotação, o número e o tempo de sobrevivência dos brotos emitidos a partir da base. Neste trabalho observamos 28 espécies arbóreas em uma área de cerrado sentido restrito recém queimado, com o objetivo de 1) verificar a proporção de indivíduos que apresentaram cada um dos três sistemas de rebrota e 2) quantificar e comparar os brotos emitidos logo após o fogo e a sobrevivência destes após dois anos entre os sistemas de rebrota. |
METODOLOGIA: |
O estudo foi realizado em uma área de cerrado sentido restrito queimado em setembro de 2008 no Parque Municipal do Bacaba (14°42' S e 52°21' W), município de Nova Xavantina-MT. Após a queimada acidental, foi estabelecido uma transecção de 300 metros e amostrados indivíduos localizados a até 10 metros de distância da transecção para 28 espécies das mais abundantes no local. Para cada espécie foi amostrado entre 12 e 24 indivíduos. Cada indivíduo teve o número de brotos produzidos na parte hipógea contado e registrado em dois censos realizados cinco meses (fevereiro de 2009) e 27 meses (dezembro de 2010) após a queimada. No primeiro censo foram anotados os indivíduos com mortalidade total. Foi calculada a frequência relativa de indivíduos para os três sistemas de rebrota e com mortalidade total. O número de brotos produzidos na base do caule foi comparado entre os sistemas de rebrota hipógea e hipógea+epígea através do teste t de Student. Foi calculado ainda as frequências de mortalidade dos brotos basais para cada um dos sistemas de rebrota. |
RESULTADOS: |
Do total de 510 indivíduos, 267 (52%) emitiram brotos na parte epígea, 151 (30%) tiveram morte do tronco principal e só emitiram brotos hipógeos e 75 (15%) emitiram brotos tanto na parte epígea quanto hipógea. Apenas 17 (3%) dos indivíduos tiveram mortalidade total sem qualquer evidência de rebrota. Nossos resultados sugerem baixa taxa de mortalidade e alta capacidade de rebrota para as espécies estudadas. A média de brotos na porção hipógea para indivíduos com morte do tronco principal foi de 7,91±12,84, enquanto que para indivíduos com rebrotas epígea+hipógea foi de 3,95±4,59, sendo significativa a diferença (t = 3,37, p<0,01). A diferença pode estar relacionada ao maior investimento na recomposição da folhagem em ramos superiores, no caso dos indivíduos com rebrota epígea+hipógea enquanto em indivíduos com mortalidade da parte aérea o investimento de recursos só ocorre nos ramos da base do caule. Indivíduos com rebrota hipógea apresentaram mortalidade de 33,5%, dos caules da base, 27 meses após a queimada, enquanto que para os indivíduos com rebrota epígia+hipógea a mortalidade dos brotos da base foi de 45,35%. As maiores frequências de mortalidade dos brotos em indivíduos com rebrota epígea+hipógea indica que, não havendo morte do tronco principal as plantas cortam investimento em rebrotas basais. |
CONCLUSÃO: |
Este estudo evidenciou baixa taxa de mortalidade e grande capacidade de rebrota para indivíduos lenhosos do cerrado sentido restrito após a ocorrencia de fogo. Os indivíduos com mortalidade total da parte aerea investem massivamente na produção de novos caules a partir da base. Finalmente, as maiores taxas de mortalidade dos brotos basais em indivíduos que apresentam rebrota epígia+hipógea quando comparadas as mortalidades dos ramos basais em indivíduos com somente rebrota hipógea sugerem um mecanismo de trade off entre investimento epígeo e hipógeo. Assim são observados dois mecanismos alternativos de recuperação da copa. |
Palavras-chave: Resiliência, Espécies Lenhosas, Regeneração. |