63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 1. História da Cultura
A ROMARIA DA SUCUPIRA: RELIGIOSIDADE POPULAR EM DIANÓPOLIS-TO
Weverson Cardoso de Jesus 1
Mírian Aparecida Tesserolli 2
1. Profa. Msc. / Orientadora - Curso de História, Universidade Federal do Tocantins – UFT, Campus de Porto Nacional
INTRODUÇÃO:
A Romaria da Sucupira tem seu início em meados do século XIX, quando um vaqueiro encontrou uma imagem de Nossa Senhora do Rosário entre os galhos de um pé de sucupira, dentre o sertão dianopolino e de Conceição do Norte. Naquela localidade havia grandes jazidas de ouro, atualmente esgotadas pela extração. O fato de ser próxima a Conceição do Norte (atual Conceição do Tocantins), local onde residia grande quantidade de escravos usados na exploração de recursos auríferos da circunvizinhança, faz com que a presença de escravos no início de tal manifestação religiosa fosse massiva, ficando assim perceptíveis as permanências dos africanismos nas festas de Nossa Senhora do Rosário (tida como protetora dos escravos) e do Divino Espírito Santo, celebrados com mastro, folias e congadas. As festividades ali realizadas, na primeira semana de agosto, são consideradas como uma das identidades locais, caracterizando o “sertanejo”, o homem do campo como o sustentáculo de tal tradição. Distante da zona urbana 35 km, a romaria recebe anualmente centenas de devotos. Desse modo, o estudo etnológico de tal manifestação religiosa proporciona aprofundamento em aspectos sócio-culturais de permanências afros na sociedade local, assim como uma produção de conhecimento referente à temática.
METODOLOGIA:
O trabalho fundamenta-se em bibliografias buscadas em livros e artigos publicados sobre a respectiva romaria; leituras referentes à religiosidade popular, cultura popular, permanências afro, irmandades, etc.; trabalho de campo realizado durante viagens ao longo do ano de 2010, com maior intensidade no período festivo. O uso de etnografias durante o trabalho de campo foi essencial para a realização da mesma pesquisa, da mesma forma os testemunhos orais, como forma de entrevistas, foram utilizados como fonte histórica para produção do conhecimento obtido. Foram usados, como fonte, os documentos de cartórios e da igreja (batistérios e registros de casamento), imagens antigas e atuais retratando as manifestações festivas do local; fotografias e vídeos de registro dos rituais. Embora esse trabalho de caráter etnográfico esteja concluído, ele está inserido no contexto de uma pesquisa mais ampla que está em desenvolvimento.
RESULTADOS:
Os testemunhos obtidos ao longo da pesquisa, juntamente com as informações contidas em bibliografias diversas, demonstram que a festa de Nossa Senhora e do Divino são ali celebradas desde a segunda metade do século XIX, sendo que teve seu início quando um vaqueiro encontra a imagem e toda uma mitologia referente à aparição e desaparição da imagem, até ser criada uma capela para abrigar a mesma. Os mitos fundadores são presentes para reforçar a religiosidade e a fé popular; essas mesmas festas são marcadas por permanências e ressignificações que a comunidade sofreu ao longo dos tempos, na tentativa de não perder os elementos primordiais que foram transmitidos para os romeiros tradicionais. Nota-se o contato entre o sagrado e o profano nos mastros, nos bares, boates, comércio, etc. presentes no local. Hoje, inseridos no contexto de pós-modernidade, percebe-se que o modo de convivência, a forma de relação estabelecida entre os romeiros e os participantes da mesma, o diálogo estabelecido com os “da cidade” são exemplos de como estabelecer relações pautadas na coletividade; ali todos põem em comum as experiências, os alimentos, andam de forma oposta ao individualismo, em busca de uma espiritualidade tão necessária para a realização pessoal.
CONCLUSÃO:
Assim, a Romaria da Sucupira é vista como uma marca identitária do sertanejo dianopolino; desde seu início tem sido celebrada a Festa de Nossa Senhora do Rosário e do Divino Espírito Santo, sobretudo pelos povos residentes no sertão e nas proximidades do local, mas ainda com presença de demais romeiros da zona urbana. A mesma diferencia-se das demais romarias pelo caráter participativo do homem rural, aquele que anualmente vai pedir que sua plantação, por ser afastada do centro urbano e desprovida de qualquer conforto; mas em meio a tantas dificuldades tem atraído uma grande parcela de devotos; tem contribuído de tal forma como elemento fomentador de manifestações populares, união de sagrado e profano. Os objetivos da pesquisa foram alcançados, pois o intuito era perceber impactos e ressignificações que a festa sofreu no decorrer do processo histórico, pois a dinamicidade é característica marcante da cultura. Essas festividades são acima de tudo uma forma de expressão massiva da comunidade, oportunidade de encontro dos romeiros, familiares e amigos; um estabelecimento de laços humanos e de agradecimento a Senhora do Rosário pelas lavouras, plantações, chuva, saúde e paz ao longo do ano, para que no ano seguinte estejam presentes no mesmo local, com a fé fortalecida.
Palavras-chave: Identidade, Religiosidade, Ressignificação.