63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia
SOCIABILIDADES E O COTIDIANO NA FEIRA 25 DE SETEMBRO EM BELÉM – PA
Rogério da Costa Sousa 1
Suellen Nascimento dos Santos 2
Carmem Izabel Rodrigues 3
1. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas–FCS/UFPA
2. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas–FCS/UFPA
3. Profa. Dra./Orientadora – FCS/PPGCS/IFCH-UFPA
INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa é parte integrante de um projeto maior que objetiva mapear as relações sociais através da análise dos atos de sociabilidade entre os atores atuantes dentro das feiras de Belém. A feira 25 de setembro, nosso objeto de estudo, com seus 428 feirantes dispostos em 415 equipamentos, é considerada uma das maiores da cidade em relação à quantidade de trabalhadores. Os consumidores de diversos bairros da cidade e os feirantes com suas diversas características, entre elas rurais e urbanas, desenvolvem um sistema de relações onde o contato contínuo favorece a troca de saberes nas mais diferenciadas formas, proporcionando a possível transformação da realidade. O presente trabalho traz à tona o debate sobre a importância que as feiras e mercados populares assumem na atualidade, diante de uma cidade cada vez mais competitiva e fragmentada, onde são visualizadas pela maioria da sociedade como mera representatividade do rural nos espaços urbanos. Pretende-se compreender as reais implicações dos contatos sociais no cotidiano dos seus agentes mais ativos e verificar como a vivência diária repercute nas representações simbólicas e culturais dos atores envolvidos.
METODOLOGIA:
“Numa pesquisa sobre feira, o investigador deve levar em conta uma das primeiras regras da etnografia: deve começar o registro pelo que é mais visível, contando o total de barracas, descrevendo seu conteúdo, avaliando a população de vendedores e compradores. (Ferretti, 2000). Para a primeira aproximação do tema viu-se necessário coletar material bibliográfico que tratasse de aspectos relacionados à cultura como expressão de identidade de determinados grupos sociais. Analises da relação dos espaços públicos destinados às feiras e mercados como condição humana de desenvolvimento social.
Para a realização desta pesquisa foi necessário a coleta de informações através de questionários e também de entrevistas não-diretivas, objetivando abstrair, de forma mais espontânea possível, as informações referentes às práticas realizadas pelos frequentadores, moradores e, principalmente, os próprios vendedores, trabalhadores da feira que fazem desse espaço um verdadeiro local de troca de saberes. A realização de entrevistas com alguns dos trabalhadores mais antigos, tem demonstrado que as suas experiências ajudaram diretamente na sistematização e aprofundamento do que o projeto se propôs a esclarecer.
RESULTADOS:
“Tudo o que o feirante pensa e faz é condicionado por um contexto de representações simbólicas, possui um significado, está envolto de símbolos que de acordo com o tempo e o espaço e as transformações nas relações humanas se modificam” (Ferretti 2000.) Percebe-se que alguns feirantes possuem, hoje, uma experiência social atrelada às relações vividas na feira por atuarem ali como ajudantes de seus pais ou familiares ou até mesmo simplesmente acompanhantes durante a infância ou determinado período da vida, apreendendo desde então as formas como se desenvolvem as praticas comerciais e as relações entre esses trabalhadores. A convivência entre os próprios feirantes durante o desenvolvimento de sua atividade laborativa é relevante para a compreensão da dinâmica e sociabilidade da feira, visto que, como o tempo em que a maioria dos feirantes trabalham é significativo, conseguem manter uma relação de intensa confiança e amizade. Relação esta que pela grande maioria é consubstanciada apenas nos espaços e horários de trabalho diário. Pois ao se ausentarem, ao terem suas atividades do dia encerradas concentram-se em suas respectivas casas e famílias, nos mais diversos bairros da cidade de Belém e adjacências.
CONCLUSÃO:
Na feira “ainda subiste um “saber”, mas sem o seu aparelho técnico “transformado em máquinas” ou cujas maneiras de fazer não tem legitimidade aos olhos de uma racionalidade produtivista” (Certeau, 2008). Segue-se uma tendência de desnaturalização das práticas peculiares dos trabalhadores da feira, onde suas práticas de venda mais particulares precisam ser moldadas e condicionadas a um suposto modelo social.
A feira possui suas particularidades, entre elas está a possibilidade de um contato mais intenso entre os agentes sociais envolvidos, apresentando uma relação diferenciada da que se está acostumada na atualidade, a impessoalidade. As feiras mantêm uma prática peculiar de sociabilidade que respeita até certo ponto as características de seus trabalhadores, dos seus costumes inerentes. O gerenciamento da feira executado pelo poder público possibilitou um aumento no fluxo de consumidores, em contrapartida, tendo como referência questões direcionadas à autonomia e flexibilidade, os trabalhadores precisaram moldar-se às regras que anteriormente não eram pertinentes, comprometendo singulares praticas sociais e de comercialização.
Palavras-chave: Relações sociais, Feirantes, Transformação da realidade.