63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 2. História do Brasil
SABORES AFRICANOS NA COZINHA PERNAMBUCANA
Bernadete Maria da Silva 1
1. Escola Municipal do Sancho
INTRODUÇÃO:
Não faz sentido falar na cultura brasileira excluindo qualquer elemento formador do nosso povo.
Também não se pode discutir a gastronomia nacional negando as contribuições de brancos,negros e índios;quando se tarata da cozinha pernambucana, impossível não associá-la às oferandas aos orixás cultuados em religiões de matrizes africanas.
Com o objetivo de implementar as Leis 10.639/03 e 11.645/08 e, numa ação afirmativa resgatarmos o legado africano à nossa culinária, levamos a temática para sala de aula, a partir dos saberes dos estudantes.
Quando se aborda a religiosidade africana ou afrodescendente, deparam-se com o preconceito, o medo e uma associação ao mal.
Com esse trabalho, pretendemos desconstruir conceitos errôneos acerca da religiosidade afro-brasileira, bem como conhecer e difundir a origem de pratos típicos da culinária pernambucan ligados às divindades cultuadas no candomblé, que "tem uma relação muito especial com a comida. Os devotos servem para os santos comidas que pertencem à tradição africana".(STREEKER, Heid).
METODOLOGIA:
O projeto foi vivenciado na Escola Municipal do Sancho, com 19 estudantes do módulo II da turma de EJA, com faixa etária de 17 a 75 anos e com acentuada dificuldade de leitura e escrita.
Partindo do resgate dos saberes da turma, fizemos levantamento dos conhecimentos destes em relação à influência das religiões de matrizes africanas na nossa culinária. Listamos "vários pratos" pertencentes à nossa cozinha típica, identificamos os de origem indígena e africana.Em relação aos alimentos de origem afro, fizemos uma pesquisa dos seus respectivos orixás.
Para melhor aprofundamento do tema, além de pesquisas em livros e na internet
sobre a "comida dos santos", contamos com a participação de dois pesquisadores adeptos do candomblé, que, a partir de vídeos realizaram explanação esclarecedora e debate.
RESULTADOS:
Com o decorrer das atividades, percebemos que os estudantes, antes receosos, estavam mais soltos em suas colocações e trouxeram várias informações sobre a origem de diversos pratos e detalhes sobre orixás.
Encontramos, em algumas pessoas que já frequentaram o candomblé, um certo respeito. Percebemos, também, a satisfação daqueles que o seguem, porque, nas atividades escolares, quando se fala em religião, as de origem africana geralmente são excluídas.
Na feira de Conhecimentos da Escola, onde aconteceu a finalização deste trabalho, com a socialização dos conhecimentos adquiridos para toda a comunidade escolar, observamos grande curiosidade em conhecer a origem dos alimentos expostos, tendo este se tornado atrativo, por ser tratar de tema pouco explorado em muitos ambientes.
Percebemos, que há educadores que não se aprofundam neste conteúdo, devido à própria formação religiosa, ficam em débito para com os estudantes,e de forma, talvez inconsciente, estão alimentando o preconceito e discriminação, sonegando informações básicas para que se adquira a consciência do pertencimento étnico pelo qual muitos lutam,e tantos precisam se apropriar.
CONCLUSÃO:
Tratar da temática afro-brasileira não é fácil, muito menos abordar a religiosidade africana, sempre carregada de medo e associada a algo inferior.
Com um enfoque afirmativo, referendado pela Lei que "visa a reparações, reconhecimento e valorização da identidade, da cultura e da história dos negros brasileiros " (DIRETRIZES CURRICULARES, 2005), sentimos, ainda a necessidade de mais formações para os educadores, para que estes possam se apropriar, se envolver e se engajar nessa luta, comprometendo-se com a educação de brancos, negros e índios, no sentido de que venham a relacionar-se com respeito, sendo capazes de corrigir posturas, atitudes e palavras que impliquem derespeito e discriminação".(DIRETRIZES CURRICULARES, 2005)
Concluímos, pelo desenvolvimento das atividades , que o papel da Escola ,nessa luta,é relevante para que possamos reconhecer importância da nossa diversidade étnica e cultural.
Palavras-chave: Afrodescendência, Culinária afro-brasileira, Religiosidade africana.