63ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 4. Sociolingüística
O SISTEMA VOCÁLICO PRETÔNICO DO TRIÂNGULO MINEIRO – ENFOQUE SOBRE AS CIDADES DE COROMANDEL E MONTE CARMELO
Fernanda Alvarenga Rezende 1,1
José Sueli de Magalhães 1, 2
1. Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia
2. Prof. Dr./ Orientador - Instituto de Letras e Linguística – ILEEL/UFU
INTRODUÇÃO:
O foco de estudo deste trabalho foi a variação das vogais médias-altas /e/ e /o/ na posição pretônica na fala dos moradores de Coromandel e Monte Carmelo, dois municípios localizados no interior de Minas Gerais. Assim, esse trabalho teve como principal objetivo descrever e analisar a variação do sistema vocálico pretônico nas duas cidades-foco escolhidas para a pesquisa, com destaque aos processos fonológicos que ocorrem com as vogais médias-altas /e/ e /o/ pretônicas, tais como: a elevação, a harmonização, a redução vocálica e a neutralização. Além disso, esse estudo objetivou ainda contribuir com os estudos fonético-fonológicos do dialeto do Triângulo Mineiro, visto que, até então, essas cidades não possuíam estudos dessa natureza. Desse modo, analisamos tanto fatores linguísticos quanto extralinguísticos que pudessem contribuir para as diferentes manifestações de /e/ e de /o/. Por isso, utilizamos oito variáveis linguísticas que foram assim divididas: contexto precedente; contexto seguinte; especificação da vogal tônica; distância da sílaba tônica; distância do início da palavra; tipo de sílaba; quantidade de sílabas da palavra e classe da palavra. Já as variáveis extralinguísticas estudadas foram três: sexo, idade e grau de escolaridade.
METODOLOGIA:
Este trabalho foi dividido da seguinte forma: primeiramente, realizamos a leitura de textos sobre o sistema fonológico do Português Brasileiro, em especial àqueles que tratam do sistema vocálico. Feito isso, partimos para a coleta dos dados da fala espontânea (vernáculo) dos moradores de Coromandel-MG e Monte Carmelo-MG. Para chegar ao vernáculo, entrevistamos dezoito pessoas nesses dois municípios, cujas entrevistas foram gravadas em gravador e cada uma teve duração de vinte e cinco minutos, em média. As entrevistas foram feitas com o auxílio de um roteiro de perguntas que continha setenta e três questões que envolviam temas relacionados à cidade e ao dia-a-dia do entrevistado. Assim, os dezoito informantes foram divididos, quanto ao sexo: masculino e feminino; quanto à idade, em três faixas etárias: entre 15 e 25 anos, entre 26 e 49 anos e com 50 anos ou mais de idade; e, quanto ao grau de escolaridade, em três grupos: entre 0 e 8 anos de estudo, entre 9 e 11 anos de estudo e com 12 anos ou mais de estudo. De posse desses dados, eles foram transcritos e codificados, para, posteriormente, serem analisados com a ajuda do programa estatístico GOLDVARB 2003. Por fim, depois de concluídas todas essas etapas, os resultados foram interpretados.
RESULTADOS:
Após rodarmos os dados no programa GOLDVARB 2003, totalizamos 9528 ocorrências, em que 5947 eram referentes à vogal /e/ e 2581 à vogal /o/. Dentre os resultados que obtivemos, observamos que, apesar de algumas semelhanças, as vogais médias /e/ e /o/ pretônicas precisam de ambientes diferentes para alçar para [i] e [u], respectivamente. Assim, um exemplo de semelhança entre os resultados das duas vogais estudadas é o fator distância da sílaba tônica. Esse fator revelou que o contexto distância zero entre a sílaba tônica e a vogal analisada favorece a elevação de /e/ e de /o/ e que o contexto distância de duas sílabas inibe o processo para ambas as vogais. Todavia, uma das maiores diferenças na análise das duas vogais refere-se às variáveis extralinguísticas, pois para a vogal pretônica /e/ somente o fator idade foi escolhido pelo GOLDVARB 2003, embora esse fator se mostrou pouco significativo para o alçamento de /e/→[i], devido à diferença mínima entre os pesos relativos das faixas etárias pesquisadas. Diferentemente de /e/, na análise da vogal /o/, foram escolhidas as variáveis sexo e escolaridade. Sobre a primeira variável, verificamos que, com uma pequena vantagem, os homens contribuem mais do que as mulheres para a elevação de /o/, bem como as pessoas menos escolarizadas.
CONCLUSÃO:
Inicialmente, tínhamos seis hipóteses muito amplas a respeito do alçamento das duas vogais médias-altas. Após quatro respostas positivas e duas negativas para as nossas questões, concluímos que o número de ocorrências dos alçamentos de /e/→[i] foi maior do que o de /o/→[u] e que a tese da harmonia vocálica de Bisol (1981) se aplica para a elevação de /e/ e de /o/ na posição pretônica. Os dados também confirmaram a nossa terceira hipótese que visava responder se uma vogal média ou baixa na sílaba tônica poderia desfavorecer a elevação. No entanto, verificamos que, embora haja algumas semelhanças, as vogais /e/ e /o/ precisam de ambientes diferentes para se elevar, o que pode ser exemplificado por meio da análise da quinta hipótese, em que queríamos saber se as sílabas CV e CVC favoreciam o alçamento das vogais médias-altas e se a sílaba CVN desfavorecia o processo. Nesse caso, os dados não confirmaram as nossas expectativas, pois, por exemplo, a sílaba CVN desfavorece o alçamento de /o/, mas favorece o processo para a vogal /e/. Por fim, a sexta hipótese que se referia à relação entre o alçamento das vogais médias-altas e a distância da sílaba tônica foi confirmada, visto que quanto mais próximas da sílaba tônica, maior será a probabilidade da variação /e/→[i] e /o/→[u] ocorrer.
Palavras-chave: Processos fonológicos, Vogais pretônicas, Elevação.