63ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 3. Química Analítica
REMOÇÃO DOS PESTICIDAS ORGANOCLORADOS EM ÁGUA UTILIZANDO BIOSSORVENTE A BASE DE BORRA DE CAFÉ
Julião Pereira 1
Nelson Roberto Antoniosi Filho 2
1. Laboratório de Métodos de Extração e Separção - Intituto de Química - UFG
2. Prof. Dr./Orientador - Laboratório de Métodos de Extração e Separção - Intituto de Química - UFG
INTRODUÇÃO:
A água ocorre de forma ampla e acessível na Terra, entretanto apenas 2,5% do total são de água doce, enquanto o restante é água salgada e cerca de dois terços dessa água está presa nas geleiras e na cobertura de neve permanente. Este recurso é mais que um insumo indispensável à produção e um recurso estratégico para um desenvolvimento econômico, sendo vital para a manutenção dos ciclos biológico, geológicos e químicos que mantém em equilíbrio os ecossistemas.
A qualidade das águas desempenha papel importante para a saúde humana, assim como para animais e plantas, sendo que a água de abastecimento de boa qualidade tem se tornado um dos principais problemas enfrentados pela sociedade atual, principalmente devido a contaminação por pesticidas e demais contaminantes orgânicos e inorgânicos.
Pelo fato dos pesticidas serem amplamente utilizados no mundo e causarem efeito nocivo ao meio ambiente, seu uso deve ser recomendado de maneira criteriosa a fim de reduzir o risco de impacto ambiental.
Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar os biossorventes derivados da borra de café na remediação de águas contaminadas por pesticidas organoclorados. Para isso, a borra de café foi utilizada como filtro de purificação de água com baixo custo, visando atender a realidade econômica, social e ambiental da população que sofre com a falta de abastecimento de água potável.
METODOLOGIA:
As amostras da borra de café foram armazenadas em geladeira após o processo de produção da bebida nas dependências do Laboratório de Métodos de Extração e Separação (LAMES–UFG). A borra de café foi exposta ao sol para secagem durante 4 dias, efetuando-se o acompanhamento da perda de água por análise termogravimétrica.
A realização do estudo foi feita utilizando amostras derivadas da borra de café: Torta de Café após de extração do óleo e aroma com etanol (TC) e Carvão Ativado da torta de café (CA) que é um produto derivado da torta de café. Utilizou-se um Carvão Ativado Comercial (CAC) como adsorvente referencial nos estudos de adsorção.
O experimento foi realizado em condição de pH 5 e 7. Foram colocadas as quantidades crescentes (0; 100; 200; 300; 400; 500 e 600 mg) de adsorvente em erlenmeyer e foram adicionados um volume fixo de 50 mL da solução aquosa fortificada com os pesticidas HCB (2,0 ug.L-1); Endosulfan (40 ug.L-1) e Metoxicloro (40 ug.L-1). Estas concentrações representam o dobro do Valor Máximo Permito (VMP) para cada pesticida em água de abastecimento, de acordo com Portaria 518 do Ministério da Saúde. O estudo de remoção foi feito via processo de agitação em incubadora durante 1h30mn, e logo após as amostras foram submetidas a processo de extração líquido-líquido. Posteriormente os extratos orgânicos das amostras foram analisados por HRGC-uECD.
RESULTADOS:
Os resultados do estudo da remoção dos pesticidas indicam que nos duas condições de pH o TC e o CA têm praticamente a mesma capacidade de adsorção, a qual é consideravelmente maior que a apresentada pelo CAC. Observou-se também que a massa de 400 mg de CA ou TC já é suficiente para promover a adsorção de quase todo o endosulfan, sendo que 100 mg de CA ou TC já é suficiente para remover o endosulfan de forma que a concentração deste alcance valores inferiores ao VMP de 20 ug.L-1, estabelecido pela Portaria 518.
Para o HCB observou-se que o CA é melhor adsorvente que o TC, o qual é melhor adsorvente que o CAC. Observou-se também que a massa de 100 mg de CA ou 500 mg de TC já são suficientes para promover a adsorção de todo o HCB. A massa de 100 mg de CA ou TC já é suficiente para adsorver o HCB de forma que a concentração deste alcance valores inferiores ao VMP. Para o CAC, a massa de 300 mg garante com que a concentração de HCB alcance valores inferiores ao VMP de 1 ug/L. Entretanto, mesmo com massa de 600 mg, para o CAC ainda foi possível identificar a presença de HCB na amostra.
Para o metoxicloro todos os adsorventes demonstraram ter grande poder de adsorção para esse pesticida, sendo que com 100 mg já foi possível efetuar a remoção completa do metoxicloro a partir da solução aquosa.
CONCLUSÃO:
Os resultados obtidos neste estudo mostraram a possibilidade de utilizar a torta de café (TC) como material adsorvente para remediação de águas contaminadas pelos pesticidas estudados. O Carvão Ativado da torta de café (CA), derivado da torta de café, também foi efetivo na remoção dos pesticidas organoclorados.
As melhores condições de adsorção dos pesticidas organoclorados sobre a torta de café ocorreram em pH 5,0, o que é extremamente importante já que é em pH levemente ácido que se encontram a maioria das águas naturais.
A torta de café pode ser assim considerada uma alternativa eficiente e de baixo custo para adsorção de pesticidas organoclorados em matrizes aquosas, considerando que é um co-produto que não foi submetido previamente a nenhum tratamento tedioso e de alto custo, somente tendo sido efetuado tratamento químico para extração de óleo graxo e aromas.
Observou-se que nas condições experimentais empregadas, 2 colheres de sopa de torta de café são suficientes para gerar água com concentrações de pesticidas estudados, dentro dos padrões de potabilidade aceitos pela legislação brasileira.
Assim, a torta de café constitui-se uma excelente opção de uso como adsorvente para remoção de pesticidas organoclorados via adsorção em filtros de tratamento de água, aplicável às populações que sofrem com a falta de abastecimento de água potável.
Palavras-chave: Pesticidas organoclorados, Borra de café, Água.