63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
MULTICULTURALISMO E FORMAÇÃO DO PEDAGOGO
Pâmela Vicentini Faeti 1
Geiva Carolina Calsa 2
1. UEM
2. Profa. Dra. /Orientadora - Depto teoria e prática da educação - UEM
INTRODUÇÃO:
O multiculturalismo é um tema presente no discurso pedagógico atual. No ensino se caracteriza como um processo de democratização que implica a reestruturação das políticas e das práticas realizadas nas escolas. Neste enfoque, o grande desafio da instituição escolar, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) está em reconhecer as diferenças como parte inseparável da identidade nacional, valorizando a importância dessa riqueza que representa a diversidade etnocultural do patrimônio brasileiro. Além disso, vários estudos demonstram que a escola deve favorecer a tolerância, o respeito aos direitos de cada indivíduo e grupo social a partir da compreensão do conceito de diversidade cultural. Para o cumprimento dessas políticas educacionais, acreditamos que o conhecimento e o debate sobre estes temas são urgentes no processo de formação do pedagogo. Neste artigo, apresentamos resultados de uma pesquisa com estudantes do último ano do curso de Pedagogia sobre sua provável conduta frente à situações de discriminação étnico-racial.
METODOLOGIA:
Para a realização da pesquisa foram aplicados questionários aos alunos do quarto ano do curso de Pedagogia de uma instituição pública e uma particular da região noroeste do Paraná. O questionário envolveu questões sobre o conceito de multiculturalismo, a identidade do pedagogo e sua relação com as diferenças culturais. Com este fim apresentamos uma situação hipotética de discriminação racial em uma escola. Buscamos identificar quais as possíveis atitudes do pedagogo durante o ocorrido e após a situação, em sala de aula. Outras questões objetivaram verificar de que forma os cursos de Pedagogia vêm abordando o tema das diferenças culturais; e se os acadêmicos acreditam que sua identidade como educadores pode influenciar a formação dos conceitos de seus alunos sobre o assunto. Foram aplicados 21 questionários na instituição pública e 15 na particular, todos respondidos individualmente em sala de aula. Os alunos participaram da pesquisa em acordo com os termos do Comitê de Ética/UEM.
RESULTADOS:
Ao responder o que fariam frente à situação hipotética, os acadêmicos da instituição privada dividiram-se entre duas respostas: 33,3% abordariam a discriminação comentando sobre o respeito às diferenças; 33,3% não interfeririam na questão, acalmariam a situação. Dos acadêmicos da instituição pública 33,3% solicitariam uma explicação sobre o que estaria acontecendo; 28,5% proporiam uma brincadeira com a turma. Sobre o que fariam em sala de aula após o ocorrido, 73,3% dos acadêmicos da instituição privada conversariam com a turma sobre diversidade cultural e respeito ao próximo; 26% não se refeririam mais ao tema. Na instituição pública 47,6% reproduziriam a conduta dos estudantes da instituição privada; 38% abordariam cientificamente o conteúdo. Ao responder se acreditam que suas atitudes influenciam a formação da identidade de seus alunos frente à diversidade cultural: 76,1% da instituição pública responderam que sim; na instituição privada dividiram-se em dois blocos, 46,6% acreditam que o professor é fundamental e 20% acreditam na maior importância de outras instituições sociais na formação dos indivíduos. Acerca das informações recebidas sobre o tema no curso, 52,3% da instituição pública, e 33,3% da privada responderam que foram insuficientes.
CONCLUSÃO:
Os dados da pesquisa sugerem despreparo dos futuros pedagogos para enfrentar situações de discriminação étnico-racial no cotidiano escolar. O enfrentamento dessas questões exige problematizar as diferenças e trazer sua discussão para o espaço político da escola, tornando-as parte da agenda dos pedagogos em seu compromisso pela formação intelectual e política de seus alunos. Em conjunto, as respostas dos estudantes vão ao encontro da definição de Peter McLaren (2003) sobre o multiculturalismo humanista liberal. Esta vertente desconsidera as relações sociais, de poder, de violência e de exploração implicadas na convivência das diferenças culturais e preconiza o respeito e a tolerância aos diferentes em razão de sua humanidade. O autor nos lembra que é papel dos cursos de formação de professores favorecer o reconhecimento dos limites e “possibilidades inerentes às formas culturais e sociais” que fazem parte de sua identidade, bem como “aprender como engajar suas experiências em uma pedagogia que seja afirmativa e critica e que ofereça os meios para transformação social de si mesmo” e do outro (p.103).
Palavras-chave: educação, multiculturalismo, currículo.