63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia |
Cartografia tátil: o gráfico como forma de tratamento da informação e inclusão do deficiente visual. |
Leia de Andrade 1 Fernando Luiz de Paula Santil 2 |
1. Depto. de Geografia, Universidade Estadual de Maringá. 2. Prof. Dr./Orientador- Depto. de Geografia,Universidade Estadual de Maringá. |
INTRODUÇÃO: |
A linguagem tátil é essencial para o conhecimento do espaço geográfico e os recursos gráficos contribuem para a integração do deficiente visual na escola, no trabalho e junto à sociedade. A cartografia tátil auxilia na percepção do espaço, no conhecimento do meio e na compreensão da informação geográfica, pois os mapas, gráficos e imagens em alto relevo são os recursos disponíveis para partilharem com o deficiente visual esse conhecimento. O objetivo deste projeto de pesquisa foi desenvolver gráficos táteis para estudantes de 5ª série de escolas estaduais da cidade de Maringá. Para isso, valeram-se das teorias de Piaget, que balizou o desenvolvimento cognitivo dos estudantes para a realização das tarefas, e da semiologia gráfica, que ajudou no tratamento gráfico da informação para essa produção. O maior bem está na informação e, para tanto, a pessoa que a detêm possui liberdade e autonomia. Partindo-se deste princípio, a questão da acessibilidade do conhecimento das pessoas com necessidades especiais torna-se uma exigência de respeito aos direitos humanos. Os mapas, os gráficos, as fotografias e as maquetes táteis podem ser indicados como facilitadores à informação de uma cidade, uma nação, entre outros. Esses recursos são denominados de tecnologia assistiva. |
METODOLOGIA: |
A seleção dos alunos aconteceu junto ao Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual no qual foram identificados dois alunos, um cursando a 5ª série e, o outro, a 6ª série, que apresentam cegueira total e estão inseridos na sala regular de ensino. Os testes aconteceram na sala de educação especial do Colégio Estadual Presidente Kennedy em um ambiente familiar aos educandos. Para a construir dos gráficos e permitir que se pudessem efetuar as leituras, partiram-se de temas ligados à cidade de Maringá, Estado do Paraná, Região Sul, Brasil e os Continentes. Os gráficos atribuem a semiologia gráfica ao uso de formas e tamanhos para caracterizar os dados relacionados com a representação, buscando-se a melhor semelhança e que sua interpretação seja monossêmica. O tamanho dos gráficos não deveria passar de dois palmos, foram utilizados materiais de baixo custo (EVA, papel Paraná, etc) e também usada a máquina para impressão em relevo ZY – Fuse heater. Por meio de questionário os deficientes visuais foram avaliados em relação as suas leituras dos gráficos táteis, que nortearam os antecedentes conhecimentos dos entrevistados em relação a forma, diferenças de tamanho entre outras características que permitiram compreender os estágios dessa leitura. |
RESULTADOS: |
As formas indicadas foram: triangular, circular, retangular e a quadrangular. Dessas apresentadas, as figuras geométricas do quadrado e do retângulo se tornaram confusas. O questionamento quanto ao que se define como quadrado para o alunol, naturalmente ele define como uma figura com quatro lados iguais, o conceito esta formado em sua maturação, mas o mesmo não o reconhece. Esse fato parece demonstrar que as propriedades geométricas e como elas são usadas em suas ações indicam não haver “a existência” de imagens mentais que permitam reconhecer essas figuras. Destaca-se entre os dois alunos que o toque sutil e paciente permite uma percepção mais detalhada, o recurso tátil necessita de um “ajustamento” para que o individuo, que usufruí desse material, consiga estimular o “seu pensamento” quanto aos conceitos já estabelecidos em relação aos objetos tocados. Ao avaliar a variável tamanho, os deficientes visuais conseguiram distinguir e comparar. Entretanto, quando há mudança da forma geométrica em função da escala indicada para o gráfico, houve confusão e não conseguiram diferenciar o maior do menor. De acordo com Piaget & Inhelder (1993), os progressos do pensamento quanto à construção de um sistema coerente de relações objetivas, ainda não foram atingidos pelos deficientes visuais. |
CONCLUSÃO: |
As avaliações realizadas com os deficientes visuais mostram que estes desconheciam os gráficos táteis, indicados como facilitadores à informação de um bairro, de uma cidade, entre outros. Esses recursos que são denominados de tecnologia assistiva, recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com restrições sensório-motoras. A produção proporcionou questionar o despreparo do ensino em relação à representação gráfica. A informação contida nos gráficos necessita de uma alfabetização à leitura em relação a conceitos primários, estabelecidos ao deficiente visual no início de sua vida escolar. O contato com pessoas portadoras de deficiência visual mostrou também novos caminhos a serem percorridos, destacando a importância de uma valorização de todo o potencial do ser humano. |
Palavras-chave: cartografia tátil, deficiência visual, semiologia gráfica. |