63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social |
GRUPOS DE AÇÃO SOLIDÁRIA (GAS) À PORTADORES DE LER/DORT E TRANSTORNOS MENTAIS: UMA DEMANDA PARA A PSICOLOGIA |
Marineide Aquino de Souza 1 Vanderléia de L. Dal Castel Schlindwein 2 Angelo Luiz Sorgatto 3 Silviane Krokosz 4 Adalberto Vital dos Santos 5 |
1. Voluntária de Iniciação Cientifíca - Faculdade de Ciências Humanas - UFGD 2. Profa. Orientadora -Faculdade de Ciências Humanas - UFGD 3. Bosista de Extensão do Projeto: Grupos de Ação Solidária com Portadores de LER/DORT- Faculdade de Ciências Humanas - UFGD 4. Acadêmica do Curso de Psicologia da Faculdade de Ciências -UFGD 5. Mestre em Psicologia pela UNB, Psicólogo do Centro de Referência Regional em Saúde do Trabalhador/CEREST |
INTRODUÇÃO: |
A Organização Mundial da Saúde (OMS) adverte que as doenças mentais estão entre as principais responsáveis pelo afastamento do trabalho no país, já as LER/DORT e os transtornos mentais estão entre as causas mais freqüentes de afastamento no trabalho entre os brasileiros. Diante desta constatação o estabelecimento do nexo causal em saúde/doença mental e a proposta de grupos terapêuticos aos trabalhadores, tem se apresentado como uma nova demanda à psicologia em seus diferentes campos de atuação (JACQUES,2007). Diversos autores como: SATO et al., (1993); LIMA & OLIVEIRA (1995); MERLO, JACQUES & HOEFEL (2001); HOEFEL, MÉROLA & BIANCHESI (2003) entre outros, propõem a constituição de grupos com portadores de LER/DORT como recurso de tratamento e de pesquisa. Para os autores, as atividades com grupos representam uma alternativa que permite elaborar proposições que não se restringem a uma proposta terapêutica circunscrita à sintomatologia incapacitante decorrente da LER/DORT. Na tentativa de contribuir para o avanço do conhecimento da Psicologia sobre a relação do trabalho com o adoecimento este trabalho visou à organização de um grupo terapêutico para sujeitos que sofreram agravos na saúde relacionados ao trabalho, e possibilitou a criação de um locus de pesquisa e formação do pesquisador. |
METODOLOGIA: |
A metodologia utilizada foi fundamentada na proposta de Grupo Focal, este privilegia uma dimensão social ao invés de uma dimensão individual. A proposta de intervenção em um grupo de portadores de LER/DORT encontra-se implicada na definição de BRANDÃO (1984) como educativa, visualizando o desenvolvimento de ações que resultem em benefício coletivo, auxiliando a população envolvida a identificar por si mesma os seus problemas, a realizar a análise crítica destes e a buscar as soluções adequadas. O GAS teve a participação de 10 trabalhadores de diversas categorias profissionais (Professor, Operador de caixa, Serviços gerais, Cozinheira, Vigilante noturno, e Auxiliar de escritório). Realizaram-se os convites através do CEREST para participarem voluntariamente no GAS, para isso, assinaram o Termo de Consentimento Esclarecido. Realizaram-se 11 encontros tendo como eixos temáticos: história de vida; organização do trabalho; condições do trabalho; riscos no trabalho; trabalho e adoecimento; repercussões individuais, sociais e familiares; enfrentamento da realidade; estratégias para lidar com o sofrimento e o processo institucional percorrido para o reconhecimento da doença. Os encontros foram gravados com o consentimento dos participantes. Para a análise dos depoimentos está sendo utilizada à técnica da análise de conteúdo (BARDIN, 1977). |
RESULTADOS: |
O grupo favorece o estabelecimento de relações e a construção de soluções coletivas que tem um potencial de transformação social (Jacques, 2007). O foco das intervenções do grupo seriam as repercussões psicossociais que acompanham o adoecimento que, no caso específico de LER/DORT e transtorno mental, seriam agravadas pela “invisibilidade da sintomatologia” (NETZ, AMAZARRAY, 2006,p.130). Uma participante relatou que fica feliz em saber que ela não é a única que adoece: “Eu fico feliz de saber que tem uma pessoa que tem a mesma coisa que eu, que sente a mesma coisa que eu que, eu não sou louca” (Sujeito A). Percebe-se que os trabalhadores buscam o reconhecimento do adoecimento na relação com o trabalho na instituição Previdenciária, mas além dessa busca, enfrentam as repercussões físicas e psicológicas diante do afastamento do trabalho, as exigências, as pressões e conflitos dos seus cotidianos de vida e, a busca solitária do reconhecimento do adoecimento no grupo de trabalho, dos amigos e da família e, principalmente, a humilhação frente os peritos no Instituto de Previdência Social. Nesse sentido, Os Grupos de Ação de Solidária (GAS) constituem-se como estratégia de enfrentamento das repercussões do adoecimento na vida individual, familiar e social dos trabalhadores. |
CONCLUSÃO: |
O papel terapêutico dos Grupos de Ação Solidária é de promover uma redefinição dos comportamentos de dependência e passividade e de propiciar um exercício contínuo de leitura crítica da realidade social. Esta prática tem permitido a apropriação de um conhecimento coletivamente construído e a aquisição de uma outra postura frente às situações associadas ao adoecimento. Tal prática tem permitido o desenvolvimento da criatividade e a construção de espaços e laços solidários. Esta solidariedade se apresenta como um dispositivo capaz de romper com o individualismo e com a resignação queixosa, capaz de desenvolver uma consciência crítica e suscitar a proposição de ações de transformação social. De outro lado, o GAS é uma demanda que deve ser incorporada ao exercício profissional da Psicologia, pelas possibilidades que descortina, na melhor compreensão da relação do trabalho com o adoecimento. Já que, o campo da Saúde do Trabalhador se mostra como um campo promissor para o exercício profissional da Psicologia e, ainda, não há uma adequada formação para atuar nesta área, inclusive no que se refere à determinação do nexo causal em saúde/trabalho/adoecimento. Nesse sentido o grupo é uma possibilidade de unir investigação/intervenção, ao mesmo tempo em que insere o estudante do curso na problemática da saúde mental no trabalho, possibilita aos sujeitos que participam no grupo ressignificar suas histórias de vida e reposicionar-se frente a doença em seu cotidiano. |
Palavras-chave: LER/DORT, Saúde/Doença Mental, adoecimento. |