63ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 6. Liguística
MÍDIA E POLÍTICA: A UTILIZAÇÃO DA IMAGEM PELO SUJEITO VEJA NA CONTRUÇÃO DO CARÁTER DO PARTIDO DOS TRABALHADORES
Alessandra Souza Silva 1
Edvania Gomes da Silva 2
1. Depto. de Estudos Linguísticos e Literários - UESB
2. Profa. Dra./Orientadora – Depto. de Estudos Linguísticos e Literários - UESB
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa que faz parte de um subprojeto intitulado “Mídia e política: discursivização das eleições 2010 em Veja”. O referido projeto teve como principal objetivo verificar, a partir da observação de materialidades verbais e imagéticas, quais os discursos materializados nas capas de algumas edições da Revista Veja. Para tanto, tomamos como pressupostos teóricos os postulados de Jean-Jacques Courtine acerca do discurso político e os conceitos de interdiscurso, paráfrase e polissemia, que fazem parte do dispositivo teórico-analítico da Escola Francesa de Análise de Discurso. A relevância desta pesquisa está em mostrar que, como afirma Courtine (2003, p.24), com o avanço das tecnologias, o discurso político precisou modificar sua estrutura, substituindo os discursos longos e inflamados por formas breves e imagens. O orador do discurso político não é mais escutado, mas sim, visto, e cabe à mídia a função de mostrá-lo. Esta, tenta desempenhar o papel de mediação entre o leitor e a realidade, para revelar ao (e)leitor a verdade sobre os acontecimentos do mundo político, numa busca constante por estabelecer-se como “porta-voz” da sociedade.
METODOLOGIA:
Para este trabalho, que apresenta uma síntese dos resultados na pesquisa, fizemos uma análise das capas das edições 2181, de 08 de setembro de 2010, 2182, de 15 de setembro de 2010, e 2183, de 22 de setembro de 2010, da revista Veja, destacando os enunciados verbais e não verbais que as compõem. Nesta análise, verificarmos: 1) os interdiscursos que atravessam o discurso de Veja; 2) como a polissemia e paráfrase se materializam nesse(s) discurso(s) e 3) quais são os efeitos de sentido que podem ser identificados por meio das referidas estratégias discursivas. Para tanto, tomamos o interdiscurso como “aquilo que fala antes, em outro lugar, independentemente /…/ o que chamamos de memória discursiva: o saber discursivo que torna possível todo dizer e que retorna sob a forma de pré-construído” (ORLANDI, 2001, p. 31); a paráfrase como a relação que há entre o dizer e a memória, fazendo com que haja um retorno ao já-dito, ou em outras palavras, como a ideia de que “em todo dizer há sempre algo que se mantém, isto é, o dizível, a memória” (ORLANDI, 2001, p.36); e a polissemia como a relação estabelecida entre uma multiplicidade de sentidos, pois, como afirma Orlandi (2006), “se os sentidos não fossem múltiplos, não haveria necessidade de dizer”.
RESULTADOS:
Os resultados mostraram que os discursos materializados pelo sujeito Veja, nas edições analisadas, buscam desvelar "a verdade de fatos", ocorridos nos bastidores políticos das eleições 2010 para revelar ao (e)leitor qual é o caráter do Partido dos Trabalhadores, mostrando que este é um partido desonesto, falso, mentiroso, traiçoeiro, corrupto. Para tanto, o sujeito Veja recorre a enunciados verbais e imagéticos que remetem a outros interdiscursos a fim de legitimar sua posição discursiva. Dentre os enunciados que compõem as capas das três edições, destacamos a figura do polvo, que aparece em ambas, sendo, portanto, a peça chave na composição do caráter do PT, de acordo com sujeito Veja. Na edição 2181 o enunciado "O partido do polvo", por meio de uma memória, remete ao PT, que historicamente se denomina "partido do povo". Este fato repete-se na capa da edição 2182, na qual o polvo é "vermelho" e forma uma estrela de cinco pontas, simbolo do referido partido. A edição seguinte, apenas corrobora a ideia de polvo-PT, trazendo-o mais uma vez na cor vermelha. Assim, é possível afirmar que a figura do polvo remete a ideia de falta de caráter, utilizada pelo Padre Vieira no "Sermão de Santo Antônio aos Peixes", em que o autor recorre à figura do polvo para vituperar os vícios humanos.
CONCLUSÃO:
As análises mostraram que os discursos materializados nas capas das edições 2181, 2182 e 2183 da Revista Veja se constituem num jogo entre textos verbais e imagéticos, que constroem, por meio do jogo entre paráfrase e polissemia, o caráter do Partido dos Trabalhadores, retomando certa memória discursiva, (re)construída ao longo da história das sociedades por meio de retomadas de já-ditos e da inrrupção de novos acontecimentos. Essas conclusões revelam que os discursos constituem-se de uma matriz que possibilita diferentes formulações de um mesmo dizer e de uma ruptura com essa matriz, permitindo que se tenha acesso a um “novo” sentido, que mantém sempre uma relação com o já-dito. Essa matriz é a paráfrase, pois os discursos são construídos através da repetição de tudo o que já foi dito, trazendo, assim um interdiscurso, algo que fala antes, em outro lugar. Mas, como o discurso não é uma estrutura fechada em si, com sentidos unos, a língua está sujeita à equívocos, possibilitando um deslocamento, uma ruptura com essa matriz, introduzindo elementos novos, num processo denominado polissemia, que caracteriza-se pela emergência, dentro do discurso, de uma multiplicidade de sentidos.
Palavras-chave: Discurso Político, Mídia, Interdiscurso.