63ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 2. Comportamento Animal
A relação entre a comunidade pesqueira do município de Tefé- AM e a população local de botos vermelhos (Inia geoffrensis) (Cetácea – Iniidae)
Ana Caroline Hermes 1
Luzivaldo Castro 1
Neliane Mesquita 1
Eloá Arevalo Gomes 2
Thiago Elisei 2
1. Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade do Estado do Amazonas, CEST- AM
2. Prof. Orientador-Ciências Biológicas, Universidade do Estado do Amazonas, CEST-AM
INTRODUÇÃO:
O boto vermelho, Inia geoffrensis , distribui-se por todo o rio Amazonas, sendo encontrado de Belém do Pará até o Peru. São animais curiosos e eventualmente se aproximam de embarcações e nadadores, mas também podem apresentar comportamentos crípticos. Embora ainda seja comum em boa parte de sua distribuição geográfica, é classificado como vulnerável, ou na categoria das espécies com dados insuficientes. No rio Tefé, localizado na cidade de Tefé-AM, há registro de agressões ao boto vermelho por parte dos pescadores e moradores locais, chegando a causar a morte de indivíduos. Estas agressões geralmente são orientadas por causas que variam de crendices populares a danos financeiros causados por estes cetáceos às redes de pesca. Assim, o conhecimento da interação entre os pescadores, que utilizam o rio Tefé como fonte de recursos, e os botos vermelhos, que compartilham este ambiente, podem promover a construção de planos de manejo que amenizem as injurias a população destes cetáceos.
O presente estudo objetivou revelar a relação entre a comunidade pesqueira do município de Tefé- AM, e a população local de I. geoffrensis.
METODOLOGIA:
Para o presente estudo, foram realizadas 50 entrevistas, no período compreendido entre agosto de 2010 e fevereiro de 2011, com os pescadores do município de Tefé - AM (3° 21′ 14″ S, 64° 42′ 39″ W), que utilizam o rio Tefé para suas práticas pesqueiras. Orientadas por um questionário etnozoológico, que visa revelar a relação dos pescadores com os botos vermelhos da região, essas entrevistas foram realizadas nas casas dos próprios pescadores, na Colônia de Pescadores Z-4 e no Entreposto Pesqueiro. Para as entrevistas foi utilizado um gravador de voz, sendo o inicio das mesmas permitidas pelos indivíduos entrevistados. Posteriormente, as gravações foram transcritas e analisadas destacando os indicativos que revelavam as interações entre os grupos envolvidos (pescadores e botos vermelhos).
RESULTADOS:
A maioria dos pescadores (76%; n= 36) relatou o avistamento de I. geoffrensis o ano todo e apenas 10% (n=5) relataram uma maior concentração dos cetáceos no período do verão. Nesta época do ano acontece a seca e a redução da área total do rio Tefé, aumentando a densidade populacional dos cetáceos, facilitando a sua visualização. O restante não soube informar um período exato do ano.
Os botos são avistados em números de 2 a 10 por dia (8%; n=4); 10 a 50 (22%; n=11) e 50 a 300 botos (12%; n=6). A maioria dos pescadores (58%; n=29), afirmou que não é possível quantificar os avistamentos por dia, devido a grande agilidade, densidade populacional dos botos e pelo fato de estarem entretidos com a atividade pesqueira.
Os botos foram descritos como prejudiciais a pesca por 86% (n=43) dos pescadores. Os danos causados foram relatados como: furos nas malhadeiras (58%; n=25) e roubo de peixes das malhadeiras (25%; n=11). Os outros entrevistados (17%; n= 7), não souberam informar o tipo de dano. Quando questionados com o que fazem para diminuir estes danos, os entrevistados responderam que: nada fazem contra o boto (44,2%; n=19); agridem diretamente os animais com terçados ou remos (11,2%; n=5); batem na água ou fazem algum tipo de barulho tentando assim, afugentar o animal (27,9%; n=12) ou tiram as malhadeiras do local, evitando assim o dano ao material (16,2%; n=7).
CONCLUSÃO:
A relação entre pescadores e botos do rio Tefé é desarmônica, já que os botos interferem na atividade pesqueira, rasgando os materiais de pesca e roubando os peixes resultando em algum tipo de injúria pelo pescadores. Isso gera preocupação com a preservação desta espécie, apontando para a necessidade de um diálogo com os pescadores, mas resguardando os seus saberes e cultura. Neste diálogo devem ser contempladas as informações sobre a importância dos botos para a população pesqueira e meio ambiente. Assim, este trabalho gera dados iniciais para um possível plano de manejo de I. geoffrensis no rio Tefé, a fim de minimizar os problemas causados a ambos os grupos envolvidos na relação boto vermelho e pescador.
Palavras-chave: Etnozoologia, Boto vermelho, Amazônia.