63ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 1. Língua Portuguesa |
A FORMAÇÃO DISCURSIVA DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA MEDIANTE OS PROCESSOS DE REFRAÇÃO E REFLEXÃO |
Lucas Francisco Ferreira de Oliveira 1 José Antônio Oliveira de Resende 2 |
1. Depto.de Letras, Artes e Cultura – UFSJ 2. Prof. Dr./Orientador - Depto.de Letras, Artes e Cultura – UFSJ |
INTRODUÇÃO: |
Esta pesquisa aborda a questão das práticas discursivas de duas professoras de língua portuguesa do Ensino Fundamental, sendo uma da rede pública e outra da rede particular, a respeito da língua materna e de seu ensino. Com base em bibliografia voltada para a análise do discurso de linha francesa, a pesquisa investiga os mecanismos da reflexão e da refração – elencados por Bakhtin – presentes nos enunciados das duas professoras quanto à problemática do ensino de língua portuguesa. O objetivo deste trabalho foi estabelecer uma interface entre as práticas discursivas das duas professoras e, a partir daí, analisar elementos constitutivos de suas respectivas práticas, observando-se também as possibilidades de variações enunciativas em torno de um mesmo tema. |
METODOLOGIA: |
A pesquisa se norteou metodologicamente pelos pressupostos teóricos da análise do discurso francesa, com destaque aos trabalhos de Maingueneau (1993; 2005; 2006) e Foucault (1987; 2003). Além disso, a constituição discursiva do professor de língua portuguesa foi analisada considerando-se os processos de refração e reflexão (desenvolvidos por Bakhtin) e retomados por Voese (2004). A reflexão pode ser vislumbrada no ato de apropriação do falante sobre a língua, para enunciar. Isso foi verificado nas práticas discursivas das professoras através de recursos como conjuntos lexicais, elementos gramaticais, dicotomias, modalizadores, operadores argumentativos, entre outros. Por sua vez, a refração é caracterizada na ação da língua na interação social. Foi verificada, na pesquisa, através de escolhas de itens lexicais, impessoalizações, implicitações, citações de discurso do outro, por parte das professoras em questão. |
RESULTADOS: |
Pelos enunciados das duas professoras, depreende-se uma concepção unilateral da linguagem. Esta é vista apenas como que servindo à expressão de um emissor para um receptor, deixando-se pouco espaço para a problemática da interlocução. Também foi verificada nestas observações uma relação vertical e assimétrica de poder entre quem ensina e aquele que aprende. Há, ainda, nas práticas discursivas das duas professoras, uma tessitura de formações imaginárias e objetos discursivos que tendem a reproduzir uma referência previamente construída e considerada aprioristicamente a respeito da língua e seu ensino. |
CONCLUSÃO: |
Algumas considerações se tornam importantes de serem pensadas. Em primeiro lugar, as práticas discursivas das duas professoras de redes diferentes de ensino parecem se pautar por esquemas de formações imaginárias muito próximos. O fato de atuarem uma na rede pública e a outra na rede particular não mostra condicionantes específicos e diferenciados para que as práticas discursivas das duas professoras sejam assim tão diferentes. Uma segunda consideração concerne à não ressignificação dessa voz anterior postulada por Foucault. Essa voz é interrompida, colocada em suspenso para possibilitar as inserções dos indivíduos. Porém, tais inserções – no caso das duas professoras – retomam outros enunciados e deles fazem uma continuidade, antecipando até mesmo outros enunciados que possam vir nessa direção. E a voz anterior, que estava interrompida, volta a se colocar a priori, precedendo outras vozes. |
Palavras-chave: Discurso, Reflexão, Refração. |