63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 7. Psicologia do Ensino e da Aprendizagem |
MEMÓRIA DE TRABALHO EM PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN E CRIANÇAS COM DESENVOLVIMENTO NORMAL |
Ana Claudia Braga 1 Elizeu Coutinho de Macedo 2 |
1. UPM - Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (IC) 2. Prof. Dr. - UPM - Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (Orientador) |
INTRODUÇÃO: |
A memória de trabalho (MT) é caracterizada por ser um sistema de capacidade limitada que possibilita manter e manipular informações por curto período de tempo, responsáveis pela realização de pensamento complexo e aprendizado. O modelo de MT compreende os seguintes componentes: alça fonológica, esboço visuo-espacial, executivo central e o buffer episódico. Estes componentes desenvolvem papel fundamental na execução de diversas atividades diárias, influenciando o desenvolvimento e desempenho de uma pessoa durante toda a vida, com grande impacto na área educacional e profissional. Pessoas com Síndrome de Down (SD) apresentam prejuízos relacionados à MT e, em geral, não conseguem manter informações em um curto período de tempo, podendo explicar atrasos na aprendizagem, problemas de linguagem e dificuldades em tarefas que envolvam pensamentos complexos. Este projeto teve como objetivo comparar o desempenho de pessoas com SD e controles, em provas que avaliam dois sub-componentes da MT: alça fonológica e esboço visuo-espacial. A compreensão do funcionamento cognitivo e da MT, de modo específico, podem contribuir para a derivação de novos métodos e planos de ensino que considerem as características cognitivas de pessoas com SD. |
METODOLOGIA: |
Participaram deste estudo 25 pessoas com SD (GSD) com idade média de 10 anos (dp= 3,45) que já foram avaliadas em estudo anterior (DUARTE, 2009) pareadas com um grupo controle (GC) de 25 crianças com desenvolvimento normal, com idade média de 4 anos (dp=0,86) de um Centro de Ensino Infantil da cidade de São Paulo. Os dois grupos foram pareados pelo nível de vocabulário receptivo de acordo com a pontuação bruta do teste TVIP. Além deste instrumento, foram realizadas avaliações através dos testes: Dígitos ordem direta e inversa, Blocos de Corsi, Teste Infantil de Memória de Trabalho - TIMT (Duarte, 2009) e Escala de Maturidade Mental Columbia (EMMC). As avaliações foram feitas individualmente, durante o período de aula das crianças com programação prévia que não interferiu na rotina da escola e no processo de aprendizado das crianças. Foram realizados dois encontros com cada criança. A ordem da aplicação dos testes foi randomizada, com as provas de memória sendo plicadas em dias diferentes, ou seja, o teste Corsi e Dígitos foram aplicados em dia diferente do Teste Infantil de Memória de Trabalho. |
RESULTADOS: |
A EMMC revelou que nenhuma criança do GC apresentou índice de maturidade mental abaixo do esperado. Não foi observada diferença significativa entre o GSD (m=49,28;dp=7,79) e GC (m=49,32;dp=7,99) no TVIP. Anova revelou que os participantes do GSD (m=0,28;dp=0,79) acertaram menos (f.7,22) que os participantes do GC (m=1,00;dp=1,08) na forma inversa do Teste Corsi, mas não na forma direta. Na Prova de Dígitos, o GSD (m=1,64; dp=1,03) acertaram menos (f.43,90) que os participantes do GC (m=3,80;dp=1,25) na forma direta, mas não foram encontradas diferenças para a forma inversa. No entanto, o desempenho dos participantes do GSD foi superior ao GC em todas as provas do TIMT, exceto na Ver-Ver. Tais resultados podem ser explicados pelo fato da TIMT ser uma prova para pré-escolares e demandar menos recursos cognitivos. Assim, participantes do GSD apresentam dificuldade em manter na MT, apenas informações mais complexas. Segundo Jarrold, Nadel, Vicari, (2008), o conflito entre as habilidades de memória verbal de curto prazo e vocabulário na SD precisa ser melhor investigada e, de acordo com Chapman (2006), ainda não há certeza se a melhora na compreensão do vocabulário na adolescência é de fato uma característica da síndrome ou se é fruto das experiências de vida dessas pessoas. |
CONCLUSÃO: |
Este estudo teve como objetivo comparar o desempenho de pessoas com Síndrome de Down e controles, em testes de memória de trabalho, pareados pelo nível de vocabulário receptivo. Considerando este critério de pareamento, observou-se que para as habilidades de memória de trabalho foram encontradas diferenças significativas nos testes Dígitos direto, que envolve habilidade de memória verbal, e Corsi inverso que envolve habilidade visuo-espacial. O desempenho nas provas de memória de trabalho infantil indicou que pessoas do GSD têm desempenho significativamente melhor do que crianças do GC, com exceção apenas quando a instrução e a resposta eram verbais. Tais resultados se assemelham a de outros estudos que evidenciam melhor prognóstico das habilidades não verbais, que são geralmente menos afetadas do que habilidades lingüísticas (Duarte, 2009). Por fim, este estudo favorece uma melhor compreensão das habilidades cognitivas de indivíduos com SD, possibilitando a utilização de métodos interventivos e pedagógicos mais adequados as suas necessidades. |
Palavras-chave: memória de trabalho, Síndrome de Down, vocabulário receptivo. |