63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
O CONCEITO DE "AGORA" EM ARISTÓTELES: TRADUÇÃO DOS CAPÍTULOS 10 E 11 DO IV LIVRO DA FÍSICA DE ARISTÓTELES E ESTUDO DO CONCEITO DE "AGORA" CONTIDO NESTES DOIS CAPÍTULOS
Daniel Valente Pedroso de Siqueira 1
Jorge Luis Rodriguez Gutiérrez 2
1. UPM - Centro de Ciências e Humanidades (IC)
2. Prof. Dr. - UPM - Centro de Ciências e Humanidades (Orientador)
INTRODUÇÃO:
Nos capítulos 10 e 11 do IV livro da Física, Aristóteles apresenta seus estudo sobre o tempo, justificando tal empreendimento ao demonstrar a importância que tal investigaçào tem para a sua ulterior definição e o estudo de sua natureza. O tempo é apresentado como sendo algo que não existe de forma absoluta, pois é infinito e constante. O tempo, em sua amplitude, é constituido pelo que já ocorreu (passado) e pelo que ocorrerá (futuro). No entanto, de forma distinta estes "tempos" não existem; isto implica no fato de que o tempo pode ser dividido, mas não pode, de modo algum, ser reproduzido separadamente. Aristóteles, ao propor o estudo do "agora", afirma que este não pode ser tido como sendo uma parte do tempo, visto que as partes somadas devem formar o todo, e não parece ser isso o que ocorre com o tempo. Entretanto, a análise do "agora" parece ser a chave conceitual que permite decifrar os enigmas do tempo, visto ser esta a única parte do mesmo que possui uma manifestação efetiva, ocorrendo no momento presente. A discussão aristotélica permite tal interpretação, pois o "agora" se apresenta como aquilo pelo qual a relação entre a mudança e o que é mudado pode ser analisada, pois é a única parte do tempo que existe em ato, a qual se encontra passível de observação.
METODOLOGIA:
A pesquisa consiste na tradução dos dois capítulos supracitados, do livro IV da Física de Aristóteles. A tradução para a língua portuguesa recorre diretamente ao texto original grego, sustentando-se nos comentadores consagrados de Aristóteles e às gramáticas da língua grega. Seguidamente a tradução, executa-se uma análise do texto aristotélico em seus aspectos gerais; a análise da linguagem e do estudo empreendidos no tratado sobre o tempo, considerando-se com maior ênfase o conceito de "agora" contido nestes dois capítulos. A identificação do campo semântico do tempo almeja a compreensão da relação do tempo com o movimento e a mudança, além da discussão acerca dos tempos anteriores e posteriores - bem como o entendimento de como ocorre a percepção do tempo pela alma intelectiva. O trabalho constitui-se por uma pesquisa qualitativa, que se fundamenta na leitura, estudo e rigorosa análise que intentam a compreensão da teoria aristotélica. A discussão empreendida por comentadores de Aristóteles, bem como a contraposição da teoria aristotélica sobre mudança, tempo e movimento, contidas no De Anima, nas Categorias, na Da Geração e da Corrupção, assim como a discussão empreendida na Metafísica e em seu estudo sobre a natureza (Física), são as ferramentas que guiam o presente trabalho.
RESULTADOS:
O tempo, por ser algo infinito, se apresenta em potência e a sucessão de "agoras" dentro do tempo se dá pela sua alternância em um "agora" em ato pelo seu subsequente "agora" em potência. E é este constante vir-a-ser que implica em que a cada agora, o "agora" seja um agora diferente, mesmo que seja uma característica de todos os "agoras" ocorrerem no instante atual. Assim como o tempo, o "agora" é um universal que não difere quanto a sua função: ele define e delimita o momento anterior do momento posterior, pois é o tempo manifesto no presente. A sua alteridade refere-se ao espaço determinado que cada "agora" ocupa nesta sucessão temporal; caso o "agora" não fosse sempre diverso, o tempo enquanto tal não poderia existir, pois não haveria uma mudança entre os momentos anteriores e posteriores. Desta forma, pode-se dizer que o "agora" acompanha o movimento - que é sempre diverso. Mas ao se supor uma dupla função para um mesmo "agora", incorre-se no risco de conceber um tempo, ou um movimento, que tenha de se encontrar parado para que essa retomada se dê: assim, para que ocorra a divisão do tempo, uma pausa no tempo deve incorrer para se conceber esta separação - o que é impraticável, visto que o "agora" não se encontra em nenhum momento "onde ele não esteja sendo".
CONCLUSÃO:
O "agora" que não é, se encontra simplesmente privado de sua efetividade e é esta a diferença central entre o "agora" em ato do "agora" em potência; o fato do "agora" em potência encontrar-se privado de sua efetividade difere completamente de privação. Assim, o "agora" que ainda não é, não se encontra privado de vir a sê-lo. Sua identidade implica que a cada novo "agora" este ocorra no momento presente: sua "agoridade" é sempre a mesma, pois todos os "agoras" ocupam a mesma função no tempo - a de delimitar o momento anterior do posterior, manifestando-se sempre no instante atual. Mas a função desempenhada por cada novo "agora" é diversa, pois se refere a uma alteração determinada pela mudança ocorrida no tempo. É necessário pensar o "agora" como sendo o limite do tempo e não como sendo uma parte do mesmo. Sua existência não é dúbia, ele existe pois é o tempo que se manifesta no instante presente. Contrariamente daquilo que já foi e daqueloutro que ainda está por vir, o "agora" tem uma existência efetiva no presente. O "agora", como aquele que divide o tempo, é a única parte do tempo que existe em ato. A divisào por ele exercida relaciona-se com as outras partes que só existem em potência. E é por desempenhar tal função que o "agora" não pode ser tido como parte do tempo.
Palavras-chave: tempo, movimento, percepção.