63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 5. Sociologia Rural |
IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DA EXPANSÃO DA CANA-DE-AÇÚCAR NO SUDOESTE GOIANO: MUNICÍPIO DE QUIRINÓPOLIS – GO |
Vonedirce Maria Santos Borges 1 Adriana Aparecida Silva 2 Geórgia Ribeiro Silveira de Sant’ana 3 Selma Simões de Castro 4 |
1. Doutoranda em Geografia - Instituto de Estudos Sócio-Ambientais - IESA/UFG 2. Doutoranda em Geografia - Instituto de Estudos Sócio-Ambientais - IESA/UFG 3. Doutoranda em Ciências Ambientais - CIAMB - UFG 4. Profa. Dra./Orientadora - Instituto de Estudos Sócio-Ambientais - IESA/UFG |
INTRODUÇÃO: |
O cultivo da cana vem se expandindo no município de Quirinópolis, no Sudoeste Goiano, desde 2004, relacionado com a intensificação do uso do etanol. Tal expansão se concentra em áreas que são dotadas de melhor infra-estrutura e vem ocorrendo de forma intensa e acelerada, com alto nível de tecnificação e em substituição a outras coberturas que já haviam convertido as fitofisionomias do Cerrado anteriormente, sobretudo por grãos e pastagens desde a década de 70 do século passado. Acrescente-se que esse fenômeno está largamente amparado pela política federal, expressa através do PNE - 2030, o qual está sintonizado e alinhado com a conjuntura internacional, fortemente ancorada na defesa da energia renovável. O cultivo da cana entra no município no momento de fragilidade dos produtores, que se encontravam endividados devido às crises sucessivas da soja. Desta forma, o município vivencia hoje, os impactos socioambientais positivos e negativos decorrentes dessa expansão com a instalação de duas das maiores usinas sucroalcooleiras do país. A proposta deste artigo é avaliar os impactos gerados pelas atividades de produção de cana, açúcar, etanol e bioenergia, em diferentes escalas e suas conseqüências sobre as demais cadeias produtivas, especialmente sobre a produção de alimentos. |
METODOLOGIA: |
A metodologia desse estudo está baseada na análise dos stakeholderes, grupos que atuam direta ou indiretamente sobre as organizações e que as consideram como pertencentes a um sistema aberto com múltiplas relações de influências, ficando condicionadas às demandas do ambiente e exercendo influências sobre este meio (Freeman, 1984). Para identificar os impactos das atividades canavieiras e usinas a partir dos seus stakeholders, realizou-se o levantamento de dados e a coleta de opiniões com os vários atores sociais envolvidos no processo de expansão do setor sucroalcooleiro. Neste contexto, foram aplicadas entrevistas individuais semi-estruturadas em 10 órgãos públicos e privados ligados à atividade canavieira, os quais são: SEAGRO/EMATER-GO; Sindicato Rural de Quirinópolis; Assoc. dos produtores de cana de Goiás – APROCANA; Prefeitura Municipal; Sindicato dos Trabalhadores Rurais; Assoc. Coml e Indl de Quirinópolis- ACIQ; Usinas São Francisco e Boa Vista; Centro de Desenvolvimento, Empresários e Adm. Líderes – CDEAL; Cooperativa dos Produtores Rurais – AGROVALE. Para a obtenção dos dados secundários fez-se uma pesquisa documental e de campo, os quais não receberam tratamento estatístico, mas permitiram compreender aspectos desse processo, de acordo com os objetivos da pesquisa. |
RESULTADOS: |
Os resultados revelaram que as áreas atuais com cultivo da cana abrigavam culturas de soja, e que num segundo momento, se expandiram para as áreas de pastos. A área agrícola atual do município é de 378 mil ha, dos quais, 84 mil ha, ou seja, em torno de 20% das terras, já estão com o cultivo da cana. Após a implantação das usinas as terras do município foram valorizadas de R$ 30 mil para R$ 70 mil/alqueire. A capitalização dos produtores locais com a venda de suas propriedades tem provocado sua migração para outras regiões (MT, BA, TO, MA) e do campo para a cidade. Foi alterado o sistema de arrendamento que era de 3 a 4 anos para até 15 anos (2 ciclos de cana). Houve substituição gradual das relações de trabalho com a entrada do trabalhador temporário e a necessidade de qualificação de mão-de-obra (tecnificação). O PIB do município, de R$ 285 milhões (2004) passou para R$ 529 milhões (2008). A renda média per capita da população aumentou de 1 para até 3 sal mín. O comércio sofreu impulso de 40% com a instalação de revendedoras de equipamentos/máquinas agrícolas e de empresas prestadoras de serviços. Houve expansão do sitio urbano com construções residenciais e comerciais, e especulação/inflação dos imóveis urbanos, além do aumento da violência urbana e dos acidentes de trânsito. |
CONCLUSÃO: |
O processo de expansão do setor canavieiro em Quirinópolis está voltado para a produção de agroenergia, com mudanças na base técnica da agricultura, na valorização da terra e na concentração fundiária. Isto tem provocado o agravamento dos problemas sociais, entre os quais: a concentração de renda, diminuição do cultivo de alimentos e a saída do homem do campo para a cidade, gerando desemprego rural. Hoje, as usinas reduziram a contratação de pessoal devido às novas tecnologias e na medida em que arrendam terras de agricultores familiares, deslocam estas famílias para as áreas urbanas, que encontram dificuldades de inserção no mercado urbano de trabalho. Assim, a paisagem do município nos últimos seis anos transita de sistema de produção com base em alimentos, para fornecedora de matéria-prima da monocultura da cana, provocando impactos socioambientais maquiados pelo sistema capitalista. Esta modificação já se reflete no município, induzindo um novo cenário agrícola e industrial. Acredita-se que dada às excelentes condições edafoclimáticas, sua logística e a expansão intensa e acelerada da cana, Quirinópolis se tornará um centro regional do setor sucroenergético, a exemplo do ocorrido com Ribeirão Preto (SP), o que tem nos levado a alcunhar Quirinópolis de “Nova Ribeirão” da cana. |
Palavras-chave: Cana-de-açúcar, Agroindústria, Impactos socioambientais. |