63ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 8. Fisioterapia e Terapia Ocupacional - 1. Fisioterapia e Terapia Ocupacional
CAPACIDADE FUNCIONAL DE INDIVÍDUOS COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AVALIADA PELO TESTE DE ESFORÇO CARDIOPULMONAR E CLASSIFICAÇÃO DA NEW YORK HEART ASSOCIATION
Roseane Santo Rodrigues 1
Giane Amorim Ribeiro Samora 1,2
Danielle Aparecida Gomes Pereira 1
Verônica Franco Parreira 1
Maria Clara Noman Alencar 3
Raquel Rodrigues Britto 1,4
1. Departamento de Fisioterapia, UFMG, Belo Horizonte/MG
2. Centro Universitário de Belo Horizonte UniBH, Belo Horizonte/MG
3. Médica Cardiologista do HC/UFMG e do Hospital Socor, Belo Horizonte/MG
4. Profa. Dra./Orientadora
INTRODUÇÃO:
A Insuficiência Cardíaca (IC) é uma síndrome clínica complexa de prognóstico reservado, caracterizada por redução do débito cardíaco. É uma condição clínica endêmica em todo o mundo, representando um grave problema de saúde pública. A IC tem sido categorizada com base na intensidade de sintomas (fadiga e dispnéia) observados no exame clínico e no esforço. A classificação da New York Heart Association (NYHA) permite estratificar o grau de limitação imposto pela doença para atividades cotidianas e, assim, avalia a qualidade de vida do indivíduo. Contudo, a determinação da classe da NYHA é de caráter subjetivo e pode estar sujeita ao viés de diferentes interpretações. O teste de esforço cardiopulmonar (TECP), por sua vez, é um procedimento não invasivo, válido, reprodutível e considerado padrão ouro para avaliação da capacidade aeróbica ou desempenho cardiorrespiratório e metabólico. Apesar dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos na limitação da capacidade funcional na IC não estarem totalmente esclarecidos, a intolerância ao exercício tem sido bem estabelecida nessa população pelo TECP. Os objetivos desse estudo foram avaliar e correlacionar os parâmetros metabólicos e ventilatórios obtidos a partir do TECP em indivíduos com IC e compará-los entre as classes II e III da NYHA.
METODOLOGIA:
Estudo observacional transversal aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição. O estudo foi realizado no Laboratório de Avaliação e Pesquisa em Desempenho Cardiorrespiratório (LabCare/UFMG). Os participantes foram selecionados em serviços ambulatoriais de cardiologia, após liberação médica. Após leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foi realizada entrevista e mensuradas massa corporal e altura. Indivíduos com IC, classes II (n=17; idade 44,47±10,11 anos; índice de massa corpórea–IMC 24,22±2,89 Kg/m2; fração de ejeção ventricular–FEVE 32,11±10,37%) e III da NYHA (n=15; idade 46,73±8,74 anos; IMC 25,37±2,81 Kg/m2; FEVE 30,46±10,23%) realizaram TECP máximo em esteira eletrônica (protocolo de rampa) e com análise de gases expirados. O TECP compreendeu as fases preparatória, incremental e recuperação. Durante o teste, realizou-se monitorização contínua do eletrocardiograma e da saturação periférica de oxigênio. Após três minutos de repouso de pé na esteira, a cada dois minutos de teste e na recuperação, foram avaliadas pressão arterial e percepção subjetiva de esforço. As variáveis utilizadas para a análise foram consumo de oxigênio (VO2), equivalente ventilatório de dióxido de carbono (VE/VCO2), pulso de oxigênio (VO2/FC), idade, IMC e FEVE.
RESULTADOS:
Conforme a distribuição dos dados (teste de Shapiro-Wilk), foi realizada a correlação de variáveis pelo coeficiente de Pearson ou Spearman. Para a comparação entre as classes, utilizou-se o teste t-student. Em todos os testes estatísticos, foi considerado α=5%. A magnitude das correlações foi classificada como fraca (<0,50), moderada (0,50–0,75) e alta (>0,75). Houve correlação positiva de moderada magnitude entre VO2 e VO2/FC (r=0,76; p=0,0001). Já, entre IMC e VE/VCO2 (r=0,45; p=0,009), observou-se correlação positiva de fraca à moderada magnitude. Entre as variáveis idade e VO2 (r=-0,35; p=0,048), bem como entre IMC e VO2 (r=-0,45; p=0,010), houve correlação negativa de fraca à moderada magnitude. Não houve correlação significativa entre a FEVE e as demais variáveis analisadas. Foram encontradas diferenças significativas entre as classes da NYHA para VO2 (NYHA II=27,27±5,80 ml/kg/min vs NYHA III=18,19±3,40 ml/kg/min; p=0,001) e VO2/FC (NYHA II=12,42±1,86 ml/min.bpm-1 vs NYHA III=9,49±1,84 ml/min.bpm-1; p=0,001). A análise das variáveis obtidas a partir do TECP pode ser considerada de importante relevância clínica pela possibilidade de estimar com mais precisão a limitação funcional que ocorre nessa população e, consequentemente, contribuir para o direcionamento do tratamento.
CONCLUSÃO:
Em indivíduos com IC classes II e III da NYHA e eutróficos, foram observadas correlações de fraca à moderada magnitude entre os parâmetros metabólicos e ventilatórios e os parâmetros clínicos, como IMC e FEVE. Esse aspecto representa a complexidade de se analisar e entender o processo de disfunção que ocorre na IC, uma vez que provavelmente há diversos outros fatores influenciando cada uma das variáveis estudadas. Nesse estudo, apesar de subjetiva, a classificação funcional de NYHA foi efetiva na diferenciação dos indivíduos com IC em relação à capacidade funcional medida por meio do VO2 e VO2/FC. Esse achado reforça a indicação de utilização de tal estratificação no delineamento de pesquisas científicas e avaliação de intervenções terapêuticas. Além disso, a NYHA pode contribuir para a individualização de programas de reabilitação e estabelecimento de políticas de saúde mais adequadas para essa população.
Palavras-chave: Teste de esforço cardiopulmonar máximo, Insuficiência cardíaca