63ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 3. Cinema |
Cinema Nacional: diálogos (im)pertinentes com o semiárido nordestino |
Ana Flávia de Andrade Ferraz 1 Anne Elizabeth dos Santos Correia 2 |
1. Profa. Ms/Coordenadora da Pesquisa - UFAL/ Campus Sertão 2. Aluna/Colaboradora da Pesquisa - UFAL/Campus Sertão |
INTRODUÇÃO: |
Este trabalho apresenta as conclusões da pesquisa ação intitulada: Cinema Árido- analisando as representações sociais do sertão no cinema nacional. Situado no Campus do Sertão da Universidade Federal de Alagoas, em Delmiro Gouveia, tem como proposta discutir representações e identidades sociais do sertão nordestino no cinema brasileiro, partindo do pressuposto de que tais representações inserem-se decididamente na construção de identidades sociais. Tendo a linguagem cinematográfica como uma manifestação cultural, busca entender que contribuições o cinema proporciona para a apreensão do real na região do semiárido nordestino- um cenário de seca, miséria e fome- tendo como referência a discussão sobre quem é o povo sertanejo, quais suas características e como é retratado pela indústria cinematográfica. Levando em consideração o processo de revitalização do Cine Pedra (primeiro cinema da região, desativado na década de 80), se busca proporcionar a democratização do acesso à cultura e a investigação de como o sertão, seus dramas, seus personagens, foram sendo construídos ao longo da história cinematografica brasileira. Trata-se do resultado de uma pesquisa que dialoga com a arte e a sociologia, buscando as relações entre o real e a linguagem expressa na sétima arte. |
METODOLOGIA: |
O projeto é uma pesquisa ação que tem como objetivo proporcionar aos participantes a reflexão acerca da realidade (pesquisa) e a possibilidade de intervenção nessa mesma realidade (ação). A pesquisa-ação Cinema Árido se desenvolveu através das seguintes etapas:1- levantamento da filmografia, 2- revisão bibliográfica, 3- seleção de filmes para exibição (forma exibidos dois filmes: O Céu de Suely,de Karim Ainouz e Abril Despedaçado, de Walter Salles), 4-exibição, 5- aplicação de questionário, 6- debates, 7- análise fílmica do material exibido, 8- sistematização dos resultados. A pesquisa objetivou também a formação do discente na compreensão da prática da pesquisa, na compreensão do contexto onde a prática se insere e nos reflexos dela na sociedade. A idéia foi percorrer e analisar a temática do semi-árido nordestino, nos principais momentos históricos do cinema nacional, para entender como o território foi sendo narrado e construído no discurso cinematográfico. Tal metodologia foi aplicada através de exibições, com um público estimado em cerca de 60 expectadores no total, que participaram na aplicação dos questionários e posterior debate. |
RESULTADOS: |
Os filmes escolhidos foram debatidos com foco nas temáticas suscitadas, a saber: Identidade e Gênero e Identidade e Território. Os questionários aplicados mostram que: a faixa etária do público variou entre 16 a 41 anos, mostrando também que 70% deste número tratou-se de estudantes da Universidade Federal de Alagoas. Do total de presentes nas exibições 90% não conheciam, mas gostaram dos filmes exibidos. As identificações com os filmes (motivos que os fizeram gostar) manifestaram-se através de depoimentos tais como: “por mostrar tanto a realidade brasileira quanto a sertaneja”,”por revelar a dificuldade das pessoas em conseguirem dinheiro e a capacidade de sonhar e seguir adiante”, “por mostrar as tradições sertanejas e a luta pela terra”. Oitenta por cento das respostas ressaltaram que a paisagem dos filmes foi o que mais chamou a atenção dos presentes por lembrar o sertão alagoano. Por fim, quando questionados sobre a relação do filme com o semiárido as respostas foram: a coragem e a força do sertanejo; a vontade de mudança do povo; a cultura e tradição familiar; a luta pela terra; sertanejo sonhador; a pobreza e falta de oportunidades; a migração do sertão para o sudeste e a desigualdade social. |
CONCLUSÃO: |
Na sétima arte, a região do sertão serve de inspiração e o cinema de propagador das imagens e visões acerca do território, que marcam, de uma maneira particular, a forma de perceber o semiárido através do prisma da carência. O resultado, são construções de representações sociais que expressam, justificam e explicam a realidade, pois são categorias de pensamento. Construções do sentido comum, que ao mesmo tempo em que sedimentam a característica do individuo, também trazem a marca do social. Uma de suas características reside em seu modo de construção, eminentemente coletivo, fruto de um processo global de comunicação no qual a sétima arte está inserida. Os questionários aplicados informam que as exibições fílmicas tem agradado, não unicamente por seus enredos mas por proporcionarem aos espectadores a reflexão de suas realidades, seja através da ambientação, seja através da desigualdade mostrada e principalmente da luta pela terra, numa região onde se acentua tão claramente a questão do latifúndio e da exploração da mão de obra rural. O que nos leva a concluir que as exibições possibilitam que os expectadores, ao se verem inseridos nessas produções, reflitam sobre suas realidades e a necessidade de suas transformações. |
Palavras-chave: Cinema nacional, representações sociais, semiárido nordestino. |