63ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 11. Morfologia - 6. Morfologia
PIGMENTAÇÃO VISCERAL EM Eupemphix nattereri (ANURA: LEIUPERIDAE) FRENTE AO AUMENTO DE TEMPERATURA
Lia Raquel de Souza Santos 1
Lilian Franco-Belussi 2
Rinneu Elias Borges 3
Gabiela Baroni Leite 4
Classius de Oliveira 5
1. Instituto Federal Goiano, IFG - Campus Rio Verde
2. Programa de Pós Graduação em Biologia Animal, UNESP Rio Preto
3. Universidade de Rio Verde – FESURV
4. Graduação em Ciências Biológicas IBILCE – UNESP/SJRP
5. Prof. Dr./Orientador Dep. Biologia, UNESP Rio Preto
INTRODUÇÃO:
Os anfíbios possuem um sistema pigmentar extracutâneo, constituído por células com o citoplasma repleto de melanina, em vários tecidos e órgãos. Estas células pigmentadas constituem o sistema pigmentar extracutâneo, sendo freqüentemente encontradas no fígado, baço, rins, peritônio, pulmão, coração, vasos sanguíneos, timo, gônadas e meninges. Essas células, descritas na epiderme e em diversos órgãos, são semelhantes à melanócitos provenientes da crista neural ectodérmica, sendo capazes de produzir e armazenar melanina, a qual é capaz de absorver e neutralizar radicais livres, cátions e outros agentes potencialmente tóxicos, derivados da degradação de material celular fagocitado. O papel funcional dessas células pigmentares nos órgãos viscerais ainda não está definido, havendo várias hipóteses, dentre elas, funções citoprotetoras relacionadas aos radicais livres e processos de detoxificação por poluentes; sendo ainda demonstrado um aumento na quantidade de melanina no fígado, conjuntamente com modificações metabólicas e estruturais das células hepáticas em Rana esculenta durante o inverno. Assim, esse estudo visa descrever a pigmentação visceral do anuro Eupemphix nattereri e avaliar a resposta pigmentar na superfície dos órgãos em resposta ao aumento de temperatura.
METODOLOGIA:
Para isso foram utilizados 65 machos adultos de Eupemphix nattereri, coletados no município de São José do Rio Preto – SP e foram levados ao laboratório de Anatomia Comparativa da UNESP – Rio Preto, onde foram mantidos em terrários para a aclimatação antes dos experimentos. Os animais do grupo controle (n=5) foram mantidos à temperatura ambiente (27°C). Para o estresse térmico, os animais (n=30) foram submetidos ao aumento de temperatura (35,10°C) em estufa incubadora para B.O.D. Os animais permaneceram nessas temperaturas por 12h, 24h e 48h, sendo um grupo (n=5) analisado imediatamente após o estresse térmico e outro grupo passou por um período de recuperação à temperatura ambiente pelo mesmo tempo que sofreu o estresse. Esses procedimentos foram semelhantes para cada um dos tempos experimentais. Posteriormente, os animais foram eutanasiados e descrita a pigmentação visceral associada aos órgãos e tecidos dos sistemas biológicos, seguindo o protocolo de classificação dessa pigmentação que é baseado na diferença de intensidade de pigmentação presente nos testículos de anuros, variando da ausência pigmentar (categoria 0) à intensa pigmentação (categoria 3), apresentando também as categorias 1 e 2 com gradual aumento de pigmentação.
RESULTADOS:
Células contendo melanina são encontradas em órgãos e tecidos da cavidade abdominal, em diferentes proporções. No aparelho cárdio-respiratório foi observada pouca (categoria 1) a moderada (categoria 2) pigmentação no pericárdio e vasos da base cardíaca, pulmões e coração. No sistema digestório há pouca pigmentação, onde há ausência pigmentar no estômago e intestino em todos os animais, enquanto o reto, apresenta pigmentação nas categorias 1 e 2. No aparelho urogenital a intensa pigmentação (categoria 3) é encontrada nos testículos, já na vesícula urinária não há ocorrência de células pigmentares viscerais em nenhum dos animais analisados. Enquanto na face dorsal dos rins e vasos renais, há predomínio de pouca pigmentação (categoria 1) em todos os animais analisados. A pigmentação visceral em anuros varia dependendo de vários estímulos. No pericárdio, coração, rins e vasos renais a pigmentação encontrada em E. nattereri submetido ao aumento de temperatura, é semelhante com Rhinella schneideri e Physalaemus cuvieri. Nos estômago e intestino, a ausência de pigmentação predominante em E. nattereri, também foi relatada em Rhinella schneideri e Physalaemus cuvieri e nas espécies do gênero Dendropsophus.
CONCLUSÃO:
Não há influência do aumento da temperatura na intensidade de pigmentação de alguns órgãos do anuro E. nattereri, sendo interpretado que estas variações observadas estão de acordo com padrão descrito para esta espécie. Em adição, verificou-se também que apenas o intestino, passou a apresentar uma discreta pigmentação mais intensa que o padrão anatômico, mas não ao ponto de afirmar qualquer relação com os experimentos. Outros estudos verificaram que fatores como agentes infecciosos e ciclos reprodutivos interfere na pigmentação visceral superficial, principalmente das gônadas. Entretanto, inferimos que o padrão anatômico de pigmentação extracutânea, sob análise macroscópica não pode ser modelado por fatores abióticos, e desta forma pode-se estabelecer um padrão de descrição anatômica do sistema pigmentar extracutâneo para Eupemphix nattereri. Contudo, este sistema deve ser melhor estudado para entender a sua possível função à luz da morfologia microscópica, já que este mesmo estudo detectou diferença na área pigmentar do testículo. Assim, contrapondo estudos de resolução macroscópica com análises morfológicas microscópicas, podemos afirmar que esse sistema de pigmentação visceral pode sim ser modelado por fatores abióticos
Palavras-chave: Pigmentação visceral, Anuro, Temperatura.