63ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 2. Economia e Sociologia Agrícola
Descrição da Governança em Cooperativas
João Paulo Ghesti 1
Moisés Villamil Balestro 2
1. Faculdade UnB de Planaltina, Gestão do Agronegócio – UnB
2. Prof. Dr./ Orientador - Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária – UnB
INTRODUÇÃO:
As cooperativas provêem os agricultores com poder de barganha e possibilitam a agregação de valor aos produtos em um tipo de organização pertencente aos próprios produtores, constituindo formas coletivas de organização que podem distribuir de maneira menos desigual os resultados de suas operações. No entanto, muitas vezes, os cooperados não encontram estímulo à participação e ao monitoramento das atividades da sua organização (Bialoskorski, 1999). Dessa forma, é importante o desenvolvimento de mecanismos que possibilitem uma gestão mais democrática em que o maior desempenho econômico, social e ambiental não sejam mutuamente excludentes. Portanto, ao levantar questões que podem ilustrar o desenvolvimento rural, as facilidades e dificuldades encontradas pelos produtores, tendo como pano de fundo o paralelo entre um estudo geral dos estatutos sociais das cooperativas agropecuárias brasileiras e o que, por meio de entrevistas em profundidade, pode-se encontrar na prática das duas cooperativas em análise; este trabalho tem por objetivo a descrição da governança em cooperativas em Planaltina (DF), que é a localidade que concentra mais de cinqüenta por cento da produção agropecuária do DF.
METODOLOGIA:
Este trabalho está dividido em duas partes. A primeira se refere a um estudo exploratório dos estatutos sociais das cooperativas agropecuárias brasileiras em geral, pela análise de 19 estatutos, coletados a partir da internet, em uma amostra intencional de acordo com a disponibilidade da informação. Nesse estudo, a partir da definição das categorias “sistemas de seleção”, “sistemas de incentivo” e “sistemas de controle” agrupadas na dimensão do controle e incentivo; e também das categorias “desenvolvimento rural” e “responsabilidade social” agrupadas na dimensão do desenvolvimento; procedeu-se à codificação e à distribuição de freqüência dos artigos nas dimensões definidas. A segunda parte se refere ao estudo dos casos das cooperativas COOTAQUARA e COOPA-DF, com a realização de entrevistas em profundidade com cooperados e representantes das respectivas diretorias. Na análise dos casos, procedeu-se à pesquisa documental e entrevistas a outras entidades da região, contrastando o discurso dos cooperados com outras fontes. Assim, a intenção foi cotejar o padrão formado pelos estatutos aos casos concretos das cooperativas, acentuando-se, com base nessa moldura, as especificidades da governança, do ambiente institucional e do desenvolvimento rural em cada caso.
RESULTADOS:
Na análise dos estatutos, a dimensão do controle e incentivo é a que apresenta a maior freqüência, com 114 citações do total de 154 ocorrências, indicando a preocupação que as cooperativas têm com a formalização e explicitação dessas regras; enquanto a dimensão do desenvolvimento apresentou 40 citações (25,97%), mostrando a baixa participação desses conceitos. Na primeira dimensão, a COOTAQUARA está iniciando contrato de garantia de compra para alguns produtos e fornece informações por meio de um departamento agropecuário; a COOPA-DF adotou um programa de incentivo ao cultivo do trigo, promovendo a compra comum de insumos e reuniões, com orientações técnicas, além de comprar a produção dos cooperados; e ambas as cooperativas possuem critérios estatutários para o ingresso em seu quadro de pessoal. Na segunda dimensão, nos dois casos, verificou-se que as cooperativas são consideradas responsáveis pela melhoria na qualidade de vida da região; a diversificação da produção é uma forma de melhorar a renda; o acesso a crédito é dificultado por causa da não-regularização das terras; e a infra-estrutura supre, em parte, as necessidades da população nas áreas de saúde, educação e segurança pública, esta última enfatizada como deficitária no caso COOPA-DF.
CONCLUSÃO:
Na primeira dimensão de análise, a COOTAQUARA mostrou-se incipiente quanto ao estabelecimento de parâmetros de qualidade, enquanto a COOPA-DF possui uma estrutura de incentivos melhor, seguindo o mesmo padrão dos estatutos. Na segunda dimensão, a COOTAQUARA está mais imbricada e contribui mais para a melhoria no meio rural, em função do interesse dos seus membros nos resultados ação coletiva; ao passo que a COOPA-DF, embora seja um ator principal para o desenvolvimento, apresenta a necessidade de sensibilização quanto aos desafios ambientais do DF (o pivô central é um exemplo de uso de uma tecnologia que não é sustentável na utilização dos recursos hídricos). Um dos problemas é a carência de mão-de-obra qualificada e de profissionais na área de gestão das propriedades rurais. Há uma tendência de agregação de valor por meio da construção de marcas próprias das cooperativas. E, por fim, um dos pontos identificados no trabalho é que a governança em cooperativas com programas e ações que sensibilizem seus membros quanto à partilha de valores sociais e ambientais pode ser uma fonte de desenvolvimento rural sustentável.
Palavras-chave: Cooperativas, Governança, Desenvolvimento rural.