63ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 8. Comunicação
A IDENTIDADE FEMININA SUBALTERNA NO CINEMA BRASILEIRO: UMA ANÁLISE DOS FILMES “GAROTAS DO ABC” E “FALSA LOURA”
Wesley Pereira Grijó 1
Adam Henrique Freire Sousa 2
1. Doutorando/ Orientador - PPGCOM - UFRGS
2. Graduando em Comunicação Social - Habilitação em Publicidade e Propaganda - Facomb - UFG
INTRODUÇÃO:
Neste trabalho, faz-se uma discussão dos modos como os produtos audiovisuais ao fazem de determinados grupos sociais, neste caso, de mulheres trabalhadoras, consideradas aqui como integrantes dos chamados grupos subalternos. Toma-se como objetos empíricos para esta análise os filmes brasileiros “Garotas do ABC” e “Falsa Loura”, cujas temáticas perpassam o cotidiano dessas mulheres, numa tentativa de colocar as vidas desses sujeitos como protagonistas de uma narrativa audiovisual. Para nortear melhor esse estudo, toma-se como ponto de partida a seguinte indagação: como a mulher subalterna está representada nos filmes “Garotas do ABC” e “Falsa loura”, uma vez que estes têm como temática principal a vida dessas mulheres operárias? Secundariamente, outras questões vão nortear este estudo como forma de subsidiar respostas para a indagação principal: O que essas produções colocam em cena? Quem são as protagonistas desses filmes? Como elas são mostradas nas narrativas? Como a mulher subalterna aparece nas nessas produções? Como fica a questão do “olhar” nesses filmes.
METODOLOGIA:
Para esta análise fílmica, parti-se da noção de imagem técnica como uns dos fundamentos de nosso aporte metodológico, pois considera-se que as imagens dos filmes são providas de significados que, neste caso, estão no âmbito da representação de mulheres subalternas. Como forma de melhor direcionar este trabalho, faz-se a seleção de seqüências, cuja idéia central está presente em ambos os filmes, para que assim possa-se traçar um paralelo entre elas, a partir da metodologia de análise fílmica de Vanoye e Goliot-Lété (1994), ou seja, inicialmente com a “desconstrução” ou descrição da seqüência, para posterior “reconstrução” ou interpretação da mesma seqüência, contudo não se pretende fazer uma divisão rígida dessa metodologia, mas sim fazer essa relação de forma simultânea.
RESULTADOS:
De forma mais prática, foram escolhidas para análise algumas seqüências dos dois filmes para serem expostas aqui de forma paralela. Para isso, faz-se a seleção de seqüências pontuais, mas de grande produção de significados dentro dessas narrativas, sendo que elas foram agrupadas em cinco grandes temáticas relacionadas às protagonistas: a apresentação delas, as cenas de relações sexuais, as exclusões dentro do grupo, as relações no ambiente doméstico e, por fim, as relações no ambiente de trabalho. Nos dois filmes analisados, constata-se que a partir de suas narrativas e, por conseqüência, da construção de realidade dos grupos de mulheres representados, que tais significados produzidos participam na construção de um suposto mundo das mulheres subalternas, com ênfase em determinados assuntos e a omissão de outros. Indo mais além, sabe-se que dentro da linguagem audiovisual, a escolha de temas e ângulos atua na atribuição de significado nas relações sociais, sendo algo presente no âmbito da representação.
CONCLUSÃO:
Observa-se que dentro dessas narrativas há a presença ainda de um “olhar”, que adentra e nos direciona ao “universo” daquelas mulheres subalternas de forma a representá-las, sendo que, em muitos desses momentos, o espectador assume o papel de um voyeur da intimidade daquelas operárias. Essa questão se relaciona ainda à necessidade que filmes desse tipo tem para fazer a representação de um “universo feminino”, como se este fosse algo ser desvendado, o que segundo as teóricas feministas, essa representação produz um fetichismo em relação cotidiano das mulheres, deslocando a discussão para outras demandas praticamente sem incluir as questões de gênero. Em compensação, há avanços significativos nessas produções. Percebe-se que as mulheres subalternas são apresentadas ao público por meio de um ponto de vista que privilegia a pluralidade representacional do universo feminino como objeto de significação. Ou seja, apesar de todas as mulheres fazerem parte de um mesmo grupo social, elas são tratadas como sujeitos com identidades plurais e, por esse motivo, há conflitos dessa ordem como, por exemplo, quando há processo de exclusão dentro do próprio grupo, conforme ocorre em seqüências nos dois filmes. Assim, a protagonistas não são mostradas com uma identidade fixa, mas que se “modificam” conforme a necessidade social, como dentro de casa, no ambiente de trabalho, nas relações amorosas, etc.
Palavras-chave: Representação, Cinema brasileiro, Análise fílmica.