63ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 7. Música e Dança |
O MOVIMENTO HIP-HOP EM GOIÂNIA: PROCESSOS DE HIBRIDAÇÃO E DE CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA |
Maria Cristina Prado Fleury Magalhães 1 Ana Guiomar Rêgo Souza 2 |
1. UFG 2. Profa. Dra. - Orientadora - Escola de Música e Artes Cênicas - UFG |
INTRODUÇÃO: |
No Brasil viveu-se desde os tempos coloniais sob a égide da diversidade. O conceito de hibridação é aqui abordado como procedimento sócio-cultural, a partir do qual estruturas ou práticas discretas se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas. Dentro desse universo situa-se o movimento Hip-Hop, cultura de rua que contempla em seus quatro elementos constitutivos – Dj, Mc, grafite e break – diferentes campos de produção artística: música, poesia, artes visuais e dança. Frente ao exposto surgem as seguintes questões: O Hip-Hop em Goiânia passou por um processo de hibridação, incorporando a cultura local? Os integrantes do movimento Hip-Hop de Goiânia traduzem nas suas configurações um sentimento de identificação com a sua cidade ou mesmo com o bairro em que moram? No movimento Hip-Hop de Goiânia ocorrem Lutas de Representação como forma de afirmação de uma identidade cultural? Quais as influências étnico-culturais da raça negra presentes no movimento Hip-Hop de Goiânia? Visando elucidar tais questões a pesquisa teve como objetivo geral investigar o movimento Hip-Hop de Goiânia, sua natureza originariamente híbrida em diálogo com aspectos culturais regionais, bem como seu papel como vetor da construção identitária dos jovens moradores das periferias. |
METODOLOGIA: |
Tendo como metodologia o paradigma qualitativo, foram preponderantes o exame da cultura e interpretações do fenômeno estudado. Como estratégia de ação foram utilizados os seguintes procedimentos: Revisão de Literatura e Levantamento de Dados. Como fontes primárias para o levantamento de dados foram utilizadas as seguintes produções culturais do movimento Hip-Hop de Goiânia: gravações musicais, vídeos, fotos, letras de rap, grafites criados por integrantes do movimento Hip-Hop e depoimentos em jornais. Como fontes secundárias foram utilizados livros, dissertações, teses e artigos de forma a facilitar a análise e interpretação das fontes primárias, além de obter arcabouço teórico para a pesquisa. Os dados coletados durante a pesquisa foram descritos e, posteriormente, analisados, de forma identificar quais diferentes culturas estão presentes no processo de hibridação cultural que marca as manifestações artísticas do movimento Hip-Hop de Goiânia. Além disso, foi feita uma análise comparativa de dados (tendo como referência fenômenos semelhantes em que também ocorreu a hibridação de culturas). Após este processo fez-se uma análise reflexiva haja vista o referencial teórico citado anteriormente. |
RESULTADOS: |
Durante a pesquisa realizada em Goiânia foi possível notar a natureza já híbrida do movimento Hip-Hop em diálogo com aspectos culturais regionais, bem como seu papel de vetor da construção identitária para os jovens moradores das periferias desta cidade. Os integrantes do movimento Hip-Hop de Goiânia traduzem nas suas configurações um sentimento de identificação com a sua cidade ou mesmo com a comunidade/bairro em que moram. Tal fato pode ser observado na utilização de termos locais nas letras das músicas, no sotaque goiano propositalmente enfatizado nas declamações das letras de rap, na incorporação de elementos rítmicos da catira e na utilização do som de viola caipira nas remixagens dos DJ’s, a exemplo do que ocorre na faixa Nossa Cidade do disco Apruma-te (2006) do grupo de rap Testemunha Ocular. Foram também verificadas formas de “lutas de representação”. São elas: as “batalhas de break” e as “batalhas de Freestyle”. |
CONCLUSÃO: |
A partir do exposto, pode-se concluir que o movimento Hip-Hop goianiense, expressão híbrida e multifacetária, por meio de seus quatro elementos artístico-expressivos, atua como mediador das representações de poder vivenciadas pela juventude moradora da periferia de Goiânia. Elementos como o grafite, as letras de rap e a divisão entre as crews são utilizados para demarcar e reforçar as diferenças e fronteiras existentes entre um bairro e outro, entre um grupo e outro. Porém, em uma visão macro, os grupos revelam semelhanças expressas pela valorização da identidade goiana, pela proclamação do orgulho negro e pelo sentimento de pertencimento a uma parcela socialmente marginalizada e excluída. |
Palavras-chave: Hip-Hop, Hibridações, Lutas de Representação. |