63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde
Percepção de cuidadores e crianças com anemia falciforme frente às crises de dor: uma análise comparativa.
Gleyca Reis Arruda 1
Thayane de Almeida Ferreira 1
Tatiane Lebre Dias 1,2
1. Depto. de Psicologia, Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT
2. Profa. Dra/Orientadora
INTRODUÇÃO:
A dor crônica se caracteriza por sua manifestação de modo contínuo ou recorrente e com durações prolongadas, a mesma esta geralmente associada a alguma doença crônica. Gera uma alteração na rotina, nas atividades físicas, no sono, na vida escolar, dentre outras coisas. A anemia falciforme provoca um quadro clínico com crises de dor crônica, icterícia, priapismo, infecção, dentre outras complicações. Devido à dificuldade das hemácias em oxigenar o organismo de maneira satisfatória ocasiona um quadro que compromete o desenvolvimento do indivíduo. Em função dessas características a família passa a ter um papel fundamental no tratamento da criança, uma vez que intervenções precoces podem aumentar a sobrevivência das crianças afetadas e assim melhorar a sua qualidade de vida. Desse modo a percepção de um dos quadros clínicos mais frequentes, que é a dor crônica, tanto pela família quanto pela criança é importante para a melhoria da qualidade de vida. A partir dessas considerações este trabalho teve por objetivo analisar e comparar as percepções dos pais e das crianças com anemia falciforme sobre as crises de dor.
METODOLOGIA:
A realização desta pesquisa contou com a participação de sete díades (mãe e filho), tendo as mães idade entre 33 a 46 anos e os filhos com idade entre 9 e 11 anos, que freqüentam uma unidade de saúde pública da cidade de Cuiabá – MT. Foi utilizado um instrumento de avaliação da percepção dos cuidadores e crianças frente às crises dolorosas da doença falciforme. O instrumento teve por objetivo investigar: localização, nível e tipo de dor, interferência da dor nas atividades cotidianas da criança, pensamento e sentimento das mães e crianças frente à dor e o manejo das crises de dor. Os dados foram coletados a partir de um questionário aplicado individualmente nas mães e crianças.
RESULTADOS:
No que se refere à localização da dor, cinco díades identificaram a mesma região (barriga, pernas e costas). A frequência de dor medida pela Escala de Faces de Dor, duas mães identificaram o mesmo nível de dor que seus filhos (2 e 4), duas se diferenciaram por uma a face e as outras tiveram divergências de mais ou menos 3 faces em relação as respostas dos filhos. Analisando a questão sobre o tipo de dor, apenas duas mães se assemelharam com a resposta dos seus filhos (profunda e aberta). No que diz respeito ao episódio de dor e a interferência deste nas atividades cotidianas, quatro díades se assemelharam nas respostas (brincar, ir à escola, dormir, alimentar, andar, fazer o dever de casa e ver televisão). Chama atenção a semelhança de respostas no uso das técnicas de manejo da dor, na qual seis díades usam a medicação ou massagem para tentar amenizar a dor. Na questão sobre o sentimento quanto à crise de dor, as crianças se referiam com mais frequencia a palavra “triste” e as mães a palavra “preocupada”. Em apenas duas díades houve a mesma referência de palavras. Sobre o que pensam, não houve semelhança nas respostas e frequentemente as crianças afirmavam não saber ou não responderam a questão, quatro mães relataram a possibilidade de levar seus filhos ao médico.
CONCLUSÃO:
Com base nos resultados pode-se observar uma sobrecarga materna com a realização dos cuidados, assim é exigido um tempo maior e uma dispensa de outras atividades por parte da mãe, o que pode acarretar dificuldades no ambiente familiar. Esse tempo maior que a mãe se dedica aos cuidados do filho pode ser sinônimo de uma maior percepção aproximada entre as díades, o que pode favorecer uma melhor compreensão da criança em relação à doença falciforme e ao seu quadro clínico. Especificamente em relação ao manejo da dor que pode ser facilitado, uma vez que a doença crônica necessita de um acompanhamento, visando à criança uma melhor qualidade de vida. Foi observado que as crianças e mães se referiam a localização da dor de forma semelhante, geralmente, as dores se localizam nas pernas, braços, região do tórax e região lombar, conforme aponta a literatura na área. A semelhança das respostas na questão do manejo da dor mostra que as mães sabem identificar os sinais de complicação, e assim, aprendem a ministrar remédios e outras medidas para o alívio da dor, o que indica uma busca de informações por partes das mães para tais procedimentos.
Palavras-chave: Crises de dor, Anemia Falciforme, Díades.