63ª Reunião Anual da SBPC

C. Ciências Biológicas - 11. Morfologia - 1. Anatomia Animal

Hormônio 17β-estradiol influencia a espermatogênese de machos de Rhinella schneideri (Anura: Bufonidae)

Juliane Silberschmidt Freitas 1 Lilian Franco-Belussi 1 Lia Raquel de Souza Santos 2 Gabriela Baroni Leite 3 Classius de Oliveira 4

1. Programa de Pós Graduação em Biologia Animal IBILCE – UNESP/SJRP 2. Instituto Federal Goiano – IFG 3. Graduação em Ciências Biológicas IBILCE – UNESP/SJRP 4. Prof. Dr./Orientador Depto. de Biologia – IBILCE – UNESP/SJRP

INTRODUÇÃO:

O aparelho reprodutor masculino dos anfíbios está representado por um par de testículos ligados direta ou indiretamente aos ductos arquinéfricos e estão localizados na cavidade corporal desses animais. Em anuros, os testículos são estruturas pares, arredondados, compactos e de coloração geralmente amarelada. Devido à transparência da túnica albugínea, é possível observar estruturas esféricas, os lóculos seminíferos, onde estão alojadas as células germinativas. Anfíbios apresentam ciclo de vida dependente do ambiente aquático, o que muitas vezes os expõem a uma variedade de contaminantes. Alguns dos contaminantes orgânicos que prevalecem em águas superficiais são hormônios sintéticos potentes, como 17β-estradiol, que é o hormônio responsável pela formação das características femininas e capaz de induzir uma gama de efeitos adversos como hermafroditismo, redução do tamanho normal dos testículos, comprometimento da função normal das células de Leydig e redução da qualidade e quantidade de espermatozóides de machos. Dessa maneira, o estudo tem como objetivo verificar o efeito do hormônio 17β-estradiol sobre o epitélio germinativo de machos de Rhinella schneideri, analisando as possíveis conseqüências para o ciclo reprodutivo da espécie.

METODOLOGIA:

Vinte machos adultos de Rhinella schneideri (Anura: Bufonidae), coletados na região de São José do Rio Preto, SP - Brasil, foram submetidos à injeção hormonal subcutânea, sob dosagem de 1mg/kg do hormônio 17β-estradiol dissolvidos em 0,2ml de óleo vegetal, durante os períodos de quinze e trinta dias. Para o grupo controle, os animais receberam apenas injeção com óleo vegetal sem a presença do hormônio feminino. Após os tratamentos, os animais foram anestesiados e eutanasiados com saturação de benzocaína. Os órgãos foram removidos e expostos para análises macroscópicas e fotodocumentação em microscópio estereoscópico (Leica MZ16) acoplado ao sistema de captura de imagem (Image Manager-IM50). Para análise histológica, fragmentos das gônadas foram fixados e posteriormente destinados a rotina histológica convencional para a microscopia de luz. Cortes (2µm) foram montados em lâminas e corados com hematoxilina/eosina. As imagens foram capturadas com câmara (Leica DFC280) acoplada ao sistema de captura (Image Manager-IM50) e analisadas em programa Image Pró-plus versão 4.5. Para análise do epitélio germinativo, foi realizada contagem manual das células germinativas e as áreas loculares foram mensuradas.

RESULTADOS:

Todos os estágios de desenvolvimento (espermatogônias, espermatócitos, espermátides e espermatozóides) foram encontrados nas gônadas masculinas dos diferentes grupos experimentais e no grupo controle. Os testículos de Rhinella schneideri apresentam predomínio de células em estágios mais avançados de maturação, onde a maior quantidade é constituída por espermatozóides no lúmen dos lóculos seminíferos, ocupando 35% da área tecidual. As análises do epitélio germinativo dos grupos experimentais não mostraram diferenças entre a quantidade de espermatogônias, espermatócitos e espermatozóides, bem como na quantidade de espermátides do tipo I. Já as espermátides do tipo II sofreram diminuição na sua área de ocupação em animais analisados com trinta dias do efeito hormonal. Nesse grupo experimental, observou-se ainda a diminuição da área locular e aumento da área intersticial, demonstrando que o hormônio 17β-estradiol promove diminuição da área germinativa dos testículos e um aumento da região somática deste órgão. A diminuição da área locular frente à exposição hormonal indica um comprometimento na espermatogênese da espécie, uma vez que as células de linhagem germinativa são produzidas e diferenciadas dentro dos lóculos seminíferos.

CONCLUSÃO:

Os compostos estrogênios têm sido classificados como os maiores contribuidores, dentre os desreguladores endócrinos, em provocar alterações endócrinas em organismos presentes em águas superficiais. As análises histológicas entre os grupos experimentais de quinze e trinta dias e seus respectivos controles permitiram afirmar que o hormônio 17β-estradiol provoca alterações no epitélio germinativo de R. schneideri, comprometendo a espermatogênese e consequentemente o sucesso reprodutivo desses animais. Os resultados provenientes desse trabalho mostram que organismos dependentes de ambientes aquáticos requerem uma atenção especial para estudos relacionados à biologia da reprodução, uma vez que podem ter seu ciclo diretamente afetado pela exposição a contaminantes liberados pela ação humana.

Palavras-chave: Rhinella schneideri, 17β-estradiol, Espermatogênese.