63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
O LAZER NO COTIDIANO DA CIDADE: FORMAS DE MATERIALIZAÇÃO E ESTRATÉGIAS DE APROPRIAÇÃO ESPACIAL DO BAIRRO
João Paulo Lucena de Medeiros 1
Alexsander Pereira Dantas 1
João Paulo de Oliveira 1
Ione Rodrigues Diniz Morais 2
1. Departamento de Geografia - UFRN
2. Profa. Dra./Orientadora - Departamento de Geografia - UFRN
INTRODUÇÃO:
A dinâmica que o espaço urbano vem assumindo perante o desenvolvimento do meio técnico-científico-informacional (SANTOS, 1994) estimula desvelar os conteúdos do processo de urbanização nos dias atuais. A partir disso, pesquisar a dinâmica da cidade como processo histórico e social, abre perspectivas para a análise das relações sociais a partir da materialização espacial. Analisar as relações entre sociedade e cultura olhando o bairro como o lugar da experiência pode ajudar na busca de instrumentos teórico-conceituais mais flexíveis (SERPA, 2007). Nesse aspecto, o bairro periférico da cidade torna-se o lócus de análise da realização da vida cotidiana. Assim, optou-se por investigar sobre o lazer dos moradores do Bairro Castelo Branco, bairro periférico da cidade de Caicó, pólo regional do Seridó potiguar. O desafio de realizar uma análise sobre as práticas e as condições de lazer no referido bairro, norteia-se pela perspectiva de identificar quais as áreas de lazer são destinadas aos moradores, evidenciando como se materializam, quais as condições dos equipamentos existentes, quais as características socioeconômicas dos moradores, desvelando como estes se apropriam destes espaços no tempo livre e qual a percepção deles a respeito do lazer nas suas vivências cotidianas.
METODOLOGIA:
De acordo com os objetivos propostos, ancoramo-nos, inicialmente, em leituras bibliográficas para auxiliar na ampliação do conhecimento sobre a temática, recorrendo aos conceitos discutidos por autores como: Aranha Silva (2004) e Castelli (2004), na compreensão do que é lazer e Serpa (2007), no entendimento de espaços públicos. No que se refere à temática do urbano, tomamos como inspirações teóricas autores como Santos (1988) e Corrêa (1997) que, respectivamente, com um leque de conceitos, aberto a nos ventilar, nos oportunizou o entendimento da discussão de espaço e na conceituação das formas espaciais. Paralelo a isso, identificamos, através de entrevistas semi-estruturadas, as características socioeconômicas dos moradores e a percepção a respeito do lazer nas suas vivências cotidianas. Em seguida, realizamos observações in lócus e registros fotográficos, como suporte, para uma avaliação das condições dos equipamentos materializados e de como estes ajudam na ocupação do tempo livre dos moradores do bairro.
RESULTADOS:
O Bairro Castelo Branco conta com alguns espaços destinados a prática do lazer, onde ocorrem as interações sociais da comunidade. Dentre estes, destaca-se: a Praça José Américo, a única do bairro, que apresenta canteiros paisagísticos, com áreas verdes e locais para passeio e permanência de pessoas; a Igreja Santo Estevão, espaço simbólico e de fé, onde se busca desenvolver traços da personalidade humana através da participação em atividades religiosas; o Ginásio Poliesportivo Manoel Torres, considerado o principal local para a prática de esportes do bairro, apresenta uma boa estrutura física e de segurança, mas é acessível apenas para associações esportivas; e os bares, espaços de lazer mais recorrentes, são os principais destinos dos moradores para o divertimento nos finais de semana. Observamos, também, os campinhos de futebol improvisados, a conversa na calçada e os jogos de cartas e dominó, que ressaltam as diferentes formas de apropriação dos ambientes de lazer pelos moradores, que criam e transformam espaços, muitas vezes subordinados a lógica das suas condições socioeconômicas. Finalmente, verificamos que as pessoas mais idosas desejavam um espaço para caminhada e um clube social; os adultos, uma praça com lanchonetes e, alguns jovens, um campo de futebol estruturado.
CONCLUSÃO:
Os resultados da pesquisa evidenciaram que o Bairro Castelo Branco, em termos de espaços de lazer, apresenta uma situação parcialmente satisfatória. Conta com algumas áreas e equipamentos destinados ao lazer dos moradores, como a Praça, o Ginásio Poliesportivo, a Igreja e alguns bares. Constatamos que estes locais se configuram, de certa forma, como seletivos. Igualmente, verificamos que as pessoas sentem carência no tocante a outras áreas de lazer. É nesse momento que os campinhos de futebol, tanto na terra batida, como nas próprias vias de circulação de carros, são improvisados; a conversa na calçada se arrasta após o escurecer da noite; e até mesmo o jogo de dominó ou cartas, se configura como formas de lazer para aqueles que, no seu fazer cotidiano de trabalho, de lutas, tiram um tempo para o descanso. Por tanto, fica evidenciado que moradores de bairros mais periféricos “produzem” espaços de lazer, ora legais, ora clandestinos, uma vez que muitos são instalados em lugares impróprios ou não permitidos para essas atividades, como afirma Aranha Silva (2004, p. 63).
Palavras-chave: Espaço Urbano, Bairro, Lazer.