63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 5. Educação de Adultos
AS TIC E OS DESAFIOS À ALFABETIZAÇÃO DE PESSOAS JOVENS E ADULTAS
Lívia Andrade Coelho UFBA
Maria Helena Silveira Bonilla UFBA
1. Doutoranda em Educação, Faculdadede Educação/UFBA
2. Profa. Dra./Orientadora - Depto.de Educação II, FACED/UFBA
INTRODUÇÃO:
A partir da década de 1990, especificamente no Brasil, há uma sucessão de manifestações sociais e culturais, acontecendo num ritmo acelerado e crescente, intermediadas pelas tecnologias digitais, num célere processo de conexão que está cada dia mais presente na vida de todos, de modo que não há mais como desvencilhar-se nem evitar o contato com elas.
Consequentemente, a EJA vem sofrendo uma série de questionamentos quanto a sua oferta, qualidade e regulamentação. A visão reducionista que por décadas foi utilizada para olhar os alunos da EJA precisará ser superada diante do protagonismo social e cultural desses tempos de vida (ARROYO, 2005a). As possibilidades trazidas pelas tecnologias enquanto intermediadoras de novas dinâmicas na construção de conhecimentos, na socialização e na comunicação têm colocado novos desafios às escolas, considerando que estas, com algumas poucas exceções, não estão preparadas e nem equipadas para promover essas dinâmicas.
Buscamos, neste trabalho explicitar os desafios postos aos processos de alfabetização de pessoas jovens e adultas pelas transformações vivenciadas nos contextos por onde essas pessoas circulam, interagem, trabalham, em virtude da incorporação das tecnologias da informação e comunicação - TIC na maioria dos contextos sociais.
METODOLOGIA:
A pesquisa foi realizada no Colégio Antônio Vieira, em Salvador/ Ba, numa classe para alfabetização de pessoas jovens e adultas, valendo-se de uma abordagem qualitativa, por considerarmos que nos permitiria uma aproximação estreita, profunda com os sujeitos participantes, tomando como natureza do estudo a etnopesquisa. A abordagem metodológica para coleta de dados se deu a partir da entrevista semi-estruturada, grupo focal e observações não participantes no laboratório de informática do Colégio. As observações no laboratório se constituíram como o primeiro contato com o grupo. A partir delas decorreram a aproximação, as conversas e as demais ações de coleta dos dados. A amostra foi formada por dois grupos, um do gênero masculino e outro do feminino, composta por cinco sujeitos cada um, cujo critério para composição foi o percentual de alunos (as) encontrados (as) em cada faixa etária. Por ex.: 29% das alunas da turma têm entre 18-28 anos de idade, significa que 29% dos sujeitos que compôs o grupo de mulheres estão nessa faixa etária e assim sucessivamente. O objetivo da delimitação a partir desse critério foi compor um grupo representativo da turma analisada.
RESULTADOS:
O aluno da EJA compreende que a sociedade como um todo está mais exigente e, por isso, o conhecimento que ele tem já não é suficiente, não só para a convivência diária com as pessoas, mas principalmente para conseguir trabalho, por conta da exigência de um nível de letramento que converge para a apropriação crítica das tecnologias. Eles veem na escola a chance de integrar-se à sociedade letrada.
No entanto, a utilização das TIC na EJA ainda é um desafio para a escola (faltam máquinas, conexão, dentre outros) e aos professores, que no seu processo formativo pouco ou nada viram sobre a utilização das TIC. A escola precisa reunir esforços (professores, comunidade) no sentido de trazer para seu cotidiano as tecnologias e promover a educação também por meio delas, contextualizando-as e reconfigurando suas práticas para promoção de uma educação de qualidade.
A pesquisa aponta ainda que a compreensão que eles têm de cidadania, na verdade trata-se de uma concepção de estadania do século XIX, pautada numa relação de clientelismo com o Estado. É preciso desenvolver uma alfabetização que contribua para fortalecer a concepção de uma cidadania ativa, onde ele tenha clareza dos seus direitos e condições para reivindicá-los. Se apropriar das TIC é fundamental para potencializar esse processo.
CONCLUSÃO:
A dinâmica e estrutura da sociedade exigem uma nova postura da escola, no sentido de que ela também se constitua enquanto espaço que possibilite a democratização das TIC, que realize um trabalho com os alunos para o desenvolvimento de saberes e competências para com as mesmas, no sentido de que eles possam interagir e construir conhecimentos, potencializando o seu processo de alfabetização e as vivências em sociedade.
Os alunos têm plena consciência das exigências postas por essa estrutura e dinâmica. Na perspectiva de aproveitar essa percepção, a escola precisa assumir uma linguagem adequada a esses tempos, para que eles mais uma vez não evadam. Ela tem o desafio de construir um planejamento específico para esse público da EJA, no sentido de que suas práticas não se distanciem de suas necessidades reais, atue mediando essas necessidades às demandas da sociedade, como meio para potencializar sua prática.
A educação nessa perspectiva tem como função contribuir para o desenvolvimento do senso de participação, prepará-los para atuar significativamente e lutar por seus direitos em sociedade, de modo a ter condições cognitivas para questionar as situações do dia-a-dia que, muitas vezes, lhe são impostas, sem maiores explicações. Atuar nesse sentido é promover uma educação de qualidade.
Palavras-chave: Alfabetização de pessoas jovens e adultas, tecnologias digitais, contemporaneidade.