63ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 5. Teoria Literária |
A PROMOÇÃO DA LEITURA LITERÁRIA NO BRASIL: IMPASSES E PERSPECTIVAS |
João Henrique dos Santos 1 Cláudio José de Almeida Mello 2 |
1. Depto. de História, Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO 2. Prof. Dr./Orientador – Depto. de Letras, Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO |
INTRODUÇÃO: |
O final da década de 1970 e os anos de 1980 foram palco de inúmeros acontecimentos no âmbito político nacional, dentre os quais: a retração do sistema totalitário de governo (1974) seguido de sua posterior queda (1985), promulgação da lei de anistia (1979), promulgação da nova Constituição Nacional (1988) e realização de eleições diretas após vinte anos de governo ditatorial (1989). Com a revisão da Constituição Nacional, tornou-se necessário rever as antigas leis, e, como consequência desta revisão, foram criadas novas propostas referentes a Educação Básica. É a partir deste cenário político e ideológico difuso, que iniciamos nossa reflexão sobre as propostas oficiais de fomento à educação e à leitura. Objetiva-se compreender como o Estado brasileiro tentou superar a formação mais pragmática e tecnicista, por meio da análise das propostas oficiais de ensino e suas perspectivas filosófica e ideológica, voltadas para a formação dos cidadãos. |
METODOLOGIA: |
O presente trabalho desenvolveu-se com a análise das propostas educacionais destinadas ao desenvolvimento da leitura, em especial da leitura do texto literário, sobretudo, em âmbito nacional; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e os Parâmetros Curriculares Nacionais. No estado do Paraná, o estudo contemplou o Currículo Básico para a Escola Pública do Paraná (1990) e as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná (2008). A metodologia de pesquisa relacionou essas propostas a seus resultados, verificados em uma realidade local, o Colégio Estadual Liane Marta da Costa (Guarapuava – PR), de Ensino Fundamental e Médio. Os dados foram coletados pelos membros do grupo de pesquisa Literatura e Educação da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), durante os anos de 2008 e 2009. Esses dados foram confrontados com pesquisas desenvolvidas em âmbito nacional pelo Instituto Pró-Livro durante os anos de 2007 e 2008. Concomitante à análise de documentos, o trabalho envolveu revisão bibliográfica referente ao tema, tanto a desenvolvida por pesquisadores do campo literário como de profissionais do campo historiográfico. |
RESULTADOS: |
As propostas nacionais e estaduais de leitura, independente de suas distinções politico-ideológicas, visam à formação de leitores críticos de sua sociedade e privilegiam a leitura de múltiplas textualidades, com vistas a garantir que os leitores estejam habilitados a discernir e utilizar socialmente os inúmeros textos que lhes são apresentados. Todavia, a leitura literária é pouco privilegiada, não recebendo um tópico específico, apresentando-se como um subtópico nas atividades de desenvolvimento da leitura, como uma ação a ser realizada em conjunto com o desenvolvimento da oralidade e escrita. Como exemplo desta lacuna, destacamos a proposta do Currículo Básico para a Escola Pública do Estado do Paraná (1990), que em suas 216 páginas, apenas 12 são destinadas ao ensino de língua portuguesa, sendo que nenhuma é destinada à literatura. De outro lado, destaca-se a proposta contida nas Diretrizes Curriculares para a Educação Básica do Paraná (2008), que indica o ensino do discurso como prática social, colocando a vivência literária como prioridade na formação de leitores. Abrem-se, portanto, inúmeras questões que devem ser analisadas, ainda, pelos pesquisadores da educação literária, sendo a pesquisa multidisciplinar (envolvendo concepções político-ideológicas na formação dos cidadãos e concepções de educação para a leitura literária) um dos mecanismos para compreender a problemática. |
CONCLUSÃO: |
Todas as propostas têm como objetivo transformar seus alunos em leitores capazes de ler e compreender diferentes textualidades, quer seja um anúncio publicitário ou um conto de Machado de Assis. Entretanto, pesquisas recentes, como a desenvolvida pelo Instituto Pró-Livro, realizada nacionalmente, e, em âmbito local, a pesquisa realizada pelo Grupo de Pesquisa Literatura e Educação no Colégio Estadual Liane Marta da Costa, evidenciaram não apenas a escassa prática de leitura, como a dificuldade interpretativa dos leitores em relação aos textos. Como isto é possível se desde 1990 a formação de leitores críticos é a preocupação central dos propostas de ensino? Coincidentemente, desde então, pouco destaque é dispensado ao texto literário, como se observa no ínfimo espaço reservado à leitura literária nos documentos oficiais. Diante disso, algumas questões se impõem para futuras pesquisas: seria este um dos fatores que nos mantêm como uma nação de telespectadores? Ou seria este um dos fatores que nos impedirá de, em pouco tempo, sermos uma nação de leitores? |
Palavras-chave: propostas educacionais, fomento à leitura, história do Brasil. |