G. Ciências Humanas - 5. História - 1. História da Cultura |
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"AS PALAVRAS FALADAS VOAM, AS PALAVRAS ESCRITAS FICAM" : O JORNAL A PENNA E A DIVULGAÇÃO DA CULTURA ESCRITA NO ALTO SERTÃO BAIANO (Século XX) |
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Joseni Pereira Meira Reis 01
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1. Campus XII - UNEB
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INTRODUÇÃO: |
O presente trabalho busca analisar e refletir sobre o papel que o jornal A Penna teve na propagação e no estabelecimento de uma cultura escrita na região do Alto Sertão baiano. O jornal foi fundado por João Gumes em 1897 em Caetité-Bahia. O seu proprietário era natural da cidade, sua formação restringiu ao nível de ensino oferecido pela localidade no período; as suas vivências e experiências profissionais ficaram restritas à região próxima até o seu falecimento em 1930. Após o falecimento de Gumes, os filhos deram continuidade ao jornal que funcionou até 1943 com algumas interrupções. Para o estabelecimento do jornal em Caetité Gumes contou com o apoio financeiro da Intendência Municipal. Considerando-se que no final do século XIX e início do XX no Brasil era elevado o índice de analfabetismo da população. Nesse sentido questionamos: de que maneira um impresso elaborado e produzido no interior da Bahia poderia despertar interesse na população local? Este trabalho é relevante na medida em que procura mostrar que no início do século XX no interior do Brasil, já existiam pessoas desenvolvendo atividades que visava a implementação e a circulação de uma cultura escrita na região. |
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METODOLOGIA: |
Trata-se de uma pesquisa histórica realizada no APMC (Arquivo Público Municipal de Caetité), tiveram como fontes as edições microfilmadas do jornal A Penna editado por Gumes, selecionamos as edições referentes aos anos iniciais de circulação do jornal. Priorizando notícias que destacavam a criação de grêmio literário, biblioteca local, ou seja, matérias que destacava o uso, consumo ou circulação de materiais escritos. Consultamos também documentos, romances, livros que pertenceram a João Gumes e se encontram com familiares e na biblioteca do Centro Espírita Aristides Spínola em Caetité. Fundamentamos a discussão em autores como Pallares-Burke (1998), Periotto (2001), (2005) entre outros. |
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RESULTADOS: |
Nas edições do jornal A Penna era constantes as matérias reclamando do alto índice de analfabetismo entre a população, “o magno problema a resolver-se entre nós e do qual depende a prosperidade (...) do nosso povo, é a educação tomada na sua mais lata compheensão” (A Penna, 20/08/1898). Percebe-se que o editor pensava educação numa perspectiva ampla que incoporasse mais do que a decifração do código escrito. De acordo com Bourdieu (1983, p.160-162), a produção da linguagem entre dois locutores é perpassada pela “força simbólica”, o que implica a relevância do “capital de autoridade”. Deter o capital de autoridade significa ter a condição “de se fazer escutar”. Além “de se fazer entender” pretende-se também ser “obedecido, acreditado, respeitado e reconhecido”. Esses aspectos definem a “competência como direito à palavra”. Desse modo, percebe-se que a língua além de instrumento de comunicação e conhecimento, torna-se “instrumento de poder”. |
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CONCLUSÃO: |
Verifica-se que João Gumes utilizou de forma estratégica a escrita, buscando colocar a disposição do povo o maior número de materiais escritos. Sabe-se que a imprensa trouxe uma relevante contribuição para disseminação e a democratização do conhecimento; o saber não ficava mais restrito a um pequeno círculo de “‘iluminados’; atingia outros indivíduos, embora as dificuldades fossem imensas – da existência de um número reduzido de tipografias. Em Caetité, no final do século XIX a situação não divergia do restando do Brasil, enfrentando vários problemas e dificuldades de ordem econômica e cultural, mas o jornal cumpria uma relevante função social ao se identificar como porta-voz dos interesses do povo. Outro fator que demonstra a importância deste periódico para comunidade foi o tempo de circulação que teve o jornal, fato que colaborou para o estabelecimento e a efetivação de uma cultura escrita na região do Alto Sertão baiano. |
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Palavras-chave: Cultura escrita, imprensa, educação. |