63ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 6. Literatura
POESIA EM CARTÕES POSTAIS: UMA LEITURA DE N.D.A., DE ARNALDO ANTUNES
Eduarda Rocha Góis da Silva 1,3
Susana Souto Silva 2,3
1. Graduanda em Letras, bolsista do Programa de Educação Tutorial
2. Professora Doutora/Orientadora
3. Universidade Federal de Alagoas
INTRODUÇÃO:
Arnaldo Antunes é um artista múltiplo: compositor, cantor, poeta, nascido em São Paulo. Em sua carreira musical, fez parte da primeira formação do grupo Titãs e ingressou em carreira solo desde 1992. No campo literário, Arnaldo publicou quatorze livros. “N.D.A”, de 2010, é o livro analisado neste trabalho. A obra está dividida em três seções. A primeira, intitulada “n.d.a.”, contém poemas concretos, poemas visuais e imagens. A segunda parte, intitulada “Cartões Postais”, concentra uma série de fotos tiradas por Arnaldo, ao longo de dez anos, em diversas cidades. A terceira, “Nada de DNA”, que fez parte do livro “Como é que Chama o Nome Disso”, de 2006, foi publicada, novamente, nesta obra. Neste trabalho, pretende-se pensar a cidade como um “campo poético”, que possibilita novas interpretações e novas leituras. Concentramo-nos na segunda parte do livro, “Cartões Postais”, que incorpora ao corpo do livro partes do corpo urbano, ou que tece as suas páginas com cenas recortadas da cidade; fotos de placas e escritos urbanos, os quais deslocados de seu contexto original adquirem outro caráter, que poderíamos chamar de poético. Mas é bom ressaltar que essa escrita faz com que sejam ressignificadas tanto as noções correntes (didáticas) de poesia, quanto às de escrita e de cidade.
METODOLOGIA:
O trabalho foi iniciado a partir de discussões realizadas nas reuniões do projeto de extensão multipliCIDADEscrita, coordenado pela Profa. Dra. Susana Souto Silva. No referido projeto, eram discutidas as relações entre cidade e escrita. A princípio, foram sugeridas algumas leituras teóricas e, posteriormente, a leitura do livro N.D.A., de Arnaldo Antunes. Os procedimentos adotados para a realização deste trabalho basearam-se nessas leituras, que possibilitaram uma análise mais profunda do livro. Essa análise permitiu um melhor entendimento sobre as relações entre cidade e literatura, como também proporcionou algumas reflexões sobre os conceitos de poesia e até mesmo de cidade.
RESULTADOS:
Na segunda parte do livro N.D.A., intitulada “Cartões Postais”, há o registro de várias fotos feitas no decorrer de dez anos. O autor viajou por diversas cidades registrando cenas que passam despercebidas pelos nossos olhares. Um fato interessante é o título “Cartões Postais”. O que se espera do cartão postal de uma cidade é que ele mostre pontos conhecidos, monumentos, lugares muito visitados, porém o que ocorre aqui é justamente o contrário. As imagens são de lugares pouco prováveis, e, de modo geral, aparecem com uma palavra ou frase em destaque, contrastando com o espaço ao redor; o que nos faz pensar a cidade como escrita, ou as várias escritas que a habitam e configuram. Seria aquilo que os formalistas russos chamaram de desautomatizar a percepção. O formalista Chklóvski, pensando a desautomatização, disse que arte é contemplar o objeto como se estivéssemos olhando pela primeira vez. É evidente que o objeto já é conhecido. Porém ele é trabalhado de modo tão particular, que dá a impressão de que estamos diante dele pela primeira vez. É isso que acontece com as imagens de “N.D.A”. Escritos urbanos, placas, ou cenários, comuns no nosso contexto, que foram fotografados de modo não-usual e, por isso, deixam de ser meramente imagens e adquirem poeticidade.
CONCLUSÃO:
Entende-se que a poesia contemporânea, que se faz no espaço urbano incorporando seus signos, suas escritas, sua diversidade, como ocorre no livro aqui analisado, faz-nos refletir sobre as diversas escritas que nos atravessam como sujeitos que habitam esses espaços em contínuo movimento, e chama a nossa atenção para o fato de que a cidade, de variados modos, é um espaço possível de diálogo com a poesia. Não só é possível “retratar” a cidade nos poemas, como é possível fazer o inverso e entendê-la como um campo poético. A cidade é repleta de letreiros, placas, outdoors e vários tipos de manifestação da linguagem, que dependendo de seu contexto, podem sim ser compreendidos como poesia, no sentido de criação, sabendo que a poesia remete a um modo de escrever, compor, mas também a um modo de ver, ler, compreender.
Palavras-chave: Poesia, Cidade, Arnaldo Antunes.