63ª Reunião Anual da SBPC

H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 7. Música e Dança

Os processos de memorização pelo intérprete na construção da performance musical

Leonardo Casarin Kaminski 1 Werner Aguiar 2

1. Programa de Pós-Graduação em Música - Universidade Federal de Goiás 2. Orientador Dr. / Programa de Pós-Graduação em Música - Universidade Federal de Goiás

INTRODUÇÃO:

Muitos performers se dedicam à memorização musical de diferentes formas, podendo ser minuciosamente estudada através da prática deliberada ou por insistentes repetições da obra. A presente pesquisa enfoca a memorização do instrumentista durante a construção de uma performance musical, os processos cognitivos da música através dos sentidos, representações mentais e a importância da sistematização destes processos previamente a um evento, tais como recitais ou concertos. Devido à proeminência de performances memorizadas o decorrer século XX, para muitos instrumentistas, memorizar se tornou uma etapa dos processos de estudos para uma apresentação. Assim, com a constante preocupação com a formação do intérprete, a música começa a fomentar e buscar subsídios nas áreas da psicologia e neurociências. Tal trabalho tem como objetivo contribuir à área da cognição musical, explicar os processos de memorização e auxiliar as escolhas dos instrumentistas em seus processos de estudos.

METODOLOGIA:

Esta pesquisa é o resultado de uma investigação e discussão de dados levantados sobre memorização musical. Foi realizada no decorrer do ano de 2010 pelo autor e o seu respectivo orientador no curso de mestrado em música (performance musical) pela Universidade Federal de Goiás. Tomou-se como ponto de partida a diversidade de propostas de estudos pelos professores, concertistas e pesquisadores. Inicialmente foi efetuada uma extensa revisão de literatura abordando os principais tratados publicados em português e inglês sobre música, psicologia da performance e cognição musical, seguindo uma discussão de dados e cruzando com as experiências profissionais pelo autor e orientador. Assim, procurou-se explorar algumas lacunas deixadas pelos métodos instrumentais, nos quais muitas vezes os autores reportam a sistematização de suas técnicas consolidadas ao longo dos anos de estudos, que em muitos casos não são aplicados indiscriminadamente a todos os performers.

RESULTADOS:

Foi constatado a importância da prática deliberada da memorização musical no estudo preliminar a uma performance musical, concentrando a atenção na familiarização com a obra, bem como na diminuição de situações de risco e redução dos níveis de ansiedade. A memória pode ser realizada através de repetições inconsciente com o instrumento musical, passando ao estudante a sensação de segurança ao executar a obra inteira sem interrupções, mas gerando prováveis lapsos de memória em uma apresentação pública. O uso dos sentidos tais como, tato, audição e visão, gera o suporte para a memorização musical, formando respectivamente a memória cinestésica, auditiva e visual. Geralmente os instrumentistas, de forma inconsciente, fazem o uso de apenas duas destas formas de memorização sensoriais citadas anteriormente. No entanto, é importante manter o emprego equilibrado da memória cinestésica, auditiva e visual durante a prática da construção da performance musical, resultando em maior segurança em uma eventual performance. Estas memórias sensoriais somadas à memória emocional, estrutural e lingüística, formam o nosso sistema múltiplo de memória, que fornecerá ao intérprete elementos para a construção de uma performance musical memorizada.

CONCLUSÃO:

Na presente pesquisa não houve o propósito de desmerecer uma apresentação cujos intérpretes fazem uso das partituras na execução das obras, mas, de reforçar a importância do conhecimento de diferentes processos e os caminhos para uma memorização segura. Foi constatado que a memória pode ser análoga a um músculo, precisando ser praticada constantemente e de forma adequada ao próprio indivíduo para desenvolver continuamente esta habilidade, mesmo por aqueles estudantes de performance musical que consideram esta tarefa extremamente exigente. Ademais, os autores tiveram a preocupação de expor alguns aspectos cognitivos da música através da memória cinestésica, auditiva e visual, assim como as respectivas situações que são empregadas pelos instrumentistas profissionais. Pode-se compreender como é realizada as escolhas dos procedimentos na construção da performance musical e uso dos sentidos na memorização pelos instrumentistas.

Palavras-chave: Performance musical, Memorização musical, Cognição musical.