63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
O Uso de Mapas Mentais na compreensão do espaço vivido e das Paisagens Culturais de Comunidades Tradicionais do Vale do Jequitinhonha/MG – Um estudo de caso de comunidades quilombolas de Minas Novas, Chapada do Norte e Capelinha.
Ludimila de Miranda Rodrigues 1
José Antônio Souza de Deus 2
Maria Aparecida dos Santos Tubaldini 3
1. Pós-graduanda do Curso de Geografia (Organização do Espaço) - Instituto de Geociências - IGC/UFMG
2. Prof. Dr./Orientador - Departamento de Geologia - IGC/UFMG
3. Profa. Dra/ Coordenadora do Projeto - Departamento de Geografia - IGC/UFMG
INTRODUÇÃO:
Diante do contexto atual de valorização dos grupos tradicionais, de seus manejos e práticas, este trabalho buscou realizar um estudo sociocultural do espaço-vivido de comunidades quilombolas dos municípios de Minas Novas, Capelinha e Chapada do Norte, Vale do Jequitinhonha/MG, onde grande parte da população rural é composta por esses grupos sociais. Esta pesquisa se justificou pela relevância da compreensão dos processos sociais, culturais, políticos e econômicos pelos quais as comunidades rurais tradicionais do Vale do Jequitinhonha vêm se inserindo no contexto atual. A partir do diagnóstico “das realidades” dessas comunidades buscou-se analisar e reinterpretar algumas questões e questionamentos comuns aos “povos do Vale”, e assim, apontar algumas ações adequadas à preservação da diversidade sociocultural e ecológica do Jequitinhonha.
METODOLOGIA:
Foram estudados quatro associações quilombolas, sendo uma em Chapada do Norte (Associação União Quilombola de Moça Santa); duas em Minas Novas (Associação União Quilombola de Macuco e Associação Quilombola de Quilombo) e uma em Capelinha (Associação Quilombola de Santo Antônio do Fanado). Outra associação analisada no município de Capelinha foi a comuniade de produtores rurais de Cisqueiro, que mantém fortes relações socioculturais com a comunidade de Santo Antônio do Fanado. Este trabalho foi realizado a partir do aporte teórico-metodológico da Geografia Cultural, da Geografia da Percepção e da Geografia Agrária. Buscando-se compreender a forma de vida de tais comunidades e a sua relação e percepção com o meio vivido foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, oficinas de mapas mentais com as crianças, além de outras atividades participativas junto às comunidades. Foram feitos também registros fotográficos e vídeos das manifestações culturais das comunidades, como festas, danças, grupos musicais, dentre outras, além das práticas artesanais desenvolvidas por sua população.
RESULTADOS:
A partir do mapeamento sociocultural das comunidades estudadas nos três municípios foi possível se compreender e analisar o espaço vivido e as paisagens culturais dessas populações, incluindo desde a sua forma de lidar com a terra, buscando manter a sua sustentabilidade, até as expressões culturais desse povo, presentes na fala, nos “causos”, nas "estórias" contadas pela comunidade, na musicalidade, e nos mitos que ainda permanecem fortes no imaginário dessas populações. Nos mapas mentais as crianças expressaram a espacialização de sua comunidade, a partir da qual foi possível verificar que todas as comunidades estudadas distribuem-se preferencialmente ao longo dos rios. Apesar da escassez deste recurso natural, a relação dessas pessoas com a água é uma característica de destaque, pois além dinâmica social relacionada ao período "das águas" ou "das secas", a percepção da preservação ambiental relacionada aos córregos e matas ciliares foi um fator de destaque tanto na fala, quanto nos mapas mentais. Outra dimensão de análise foi o associativismo presente nessas comunidades. Em todos os desenhos as crianças destacaram a sede da associação, refutando em suas falas a sua importância como o lugar do convívio, das trocas culturais, dos ensaios dos grupos tradicionais de dança ou das reuniões dos associados.
CONCLUSÃO:
Percebeu-se com este trabalho, que a metodologia de mapas mentais constitui um elemento de grande importância na compreensão da percepção ambiental do espaço vivido dessas comunidades, uma vez que nos desenhos as crianças demonstravam não só a distribuição das casas, como a sua percepção do meio ambiente, suas relações sociais de parentesco com os membros da comunidade, dentre outros elementos constituintes de sua realidade sociocultural e espacial. Além dissso, sob a linha de pesquisa da Geografia Cultural Contemporânea percebeu-se que as comunidades estudadas apresentam a característica de uma "Paisagem Cultural Alternativa Emergente", portadora de uma nova mensagem social, construída a partir da reafirmação identitária desses grupos, que buscando se fortalecer, diante das pressões da cultura dominante, (que limita e exclui o Vale num contexto socioeconômico de exploração, fazendo com que pais e mães de família saiam de suas casas em busca de trabalho em outras cidades e estados). Nesse sentido, a Paisagem Alternativa Emergente das comunidades tradicionais do Vale do Jequitinhonha resistem e revertem o processo, passando a reagir a essa forma de dominação imposta pelo grupo dominante, fortalecendo sua experiência de mundo e suas percepções a partir da reprodução cultural.
Palavras-chave: Comunidades Quilombolas, Mapas mentais, Percepção Ambiental.